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[Archport] A CRIL e o Aqueduto das Águas Livres (notícia do Público)


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•   Subject: [Archport] A CRIL e o Aqueduto das Águas Livres (notícia do Público)
•   From: "Carlos Silva" <calbsilva@hotmail.com>
•   Date: Thu, 25 Mar 2004 23:48:49 +0000

PÚBLICO - Local   10-03-2004 - 19h16

Partido Ecologista pede debate no Parlamento
CRIL: "Os Verdes" classificam traçado como crime ecológico e exigem alternativas


Lusa
O Partido Ecologista "Os Verdes" querem ver debatido no Parlamento o projecto aprovado para o último troço da CRIL, que classificam de "crime ambiental" que tem por base "uma decisão absurda", disse hoje uma fonte do partido.


Com o objectivo de chamar a atenção para a questão, os dirigentes de "Os Verdes" vão visitar amanhã o percurso previsto para a conclusão da Circular Regional Interna de Lisboa (CRIL), entre a Buraca e a Pontinha.

O projecto de execução do Instituto de Estradas de Portugal foi aprovado no dia 1 pelo Ministério do Ambiente, mas tem sido contestado por comissões de moradores dos bairros de Alfornelos, Damaia, Santa Cruz de Benfica, Pedralvas e Venda Nova, cujos representantes vão acompanhar os deputados de "Os Verdes" na visita.

"É uma decisão totalmente absurda do ponto de vista do ordenamento do território e que, a ser consumada, constitui um crime ambiental grave, lesivo dos interesses da população em matéria de poluição, ruído, segurança e direito ao espaço", afirmou a deputada Isabel Castro.

"A decisão foi baseada em elementos do ordenamento do território totalmente desactualizados, que não tiveram em conta a ocupação do espaço que se verificou nas últimas décadas naqueles bairros", criticou, argumentando que os problemas vão "afectar quase 35 mil pessoas".

Isabel Castro considerou igualmente "escandaloso" o facto do Ministério do Ambiente ter desvalorizado o parecer da comissão de avaliação do estudo de impacte ambiental.

"É escandaloso que a comissão de avaliação diga taxativamente que a solução preconizada não é possível tecnicamente porque é incompatível com os usos do solo e tem efeitos negativos sobre as populações e o secretário de Estado do Ambiente [José Eduardo Martins] tenha dado parecer favorável ao projecto", sublinhou.

Neste contexto, "Os Verdes" exigem que o Executivo estude soluções alternativas para aquele troço da CRIL. "Há traçados mais favoráveis e o Governo tem a obrigação de estudar e sustentar tecnicamente uma alternativa", defendeu ainda Isabel Castro, afirmando ser fundamental concluir a CRIL, "mas de forma adequada".

Cidadãos mobilizam-se em defesa do Aqueduto das Águas Livres

Já a Associação Ofícios do Património e Reabilitação Urbana (AOPRU) lançou um abaixo-assinado em defesa do Aqueduto das Águas Livres de Lisboa, que tem um troço de 180 metros "ameaçado" de destruição devido à construção do último lanço da CRIL.

O projecto de execução deste lanço da CRIL, entre a Buraca e a Pontinha, prevê a destruição de 180 metros do Aqueduto, considerado Monumento Nacional e com uma candidatura a Património Mundial já preparada.

No abaixo-assinado que circula na Internet (http://oprurb.org), a AOPRU salienta que o Aqueduto já "sofreu algumas intervenções desastradas num passado não muito distante e por isso mesmo, é tempo de dizer basta e não deixar livre a ignorância que permitiu tais desmandos".

Exemplo disto, foram os cortes provocados pela construção do Viaduto Duarte Pacheco e da Avenida Infante Santo. "Na época em que isto foi feito não havia consciência do valor deste património. O Aqueduto não é mais um palácio, é um monumento ímpar a nível mundial", afirmou o presidente da AOPRU, Filipe Lopes.

O arquitecto responsável pela associação defende que se devem "procurar soluções alternativas" e salientou a importância de avançar com a candidatura a Património Mundial.

"Se o aqueduto fosse classificado não poderia haver qualquer tipo de destruição. O dossier da candidatura já está preparado, mas ainda não foi apresentado porque ia dificultar este tipo de manobras", frisou.

Demolição de troço do Aqueduto "só é possível em Portugal"

Por sua vez, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles afirmou que a eventual demolição de um troço do Aqueduto das Águas Livres "só é possível em Portugal".

"Só é possível no nosso país, que está a perder a sua identidade cultural e a vontade de ser um país", salientou o arquitecto, que disse saber da existência do abaixo-assinado.

"Infelizmente este não é o único caso" de atentados a monumentos, afirmou Ribeiro Telles, que não quis citar outros casos "porque são tantos que não dá para enumerar".

No abaixo-assinado, a associação exige que seja completado o inventário deste monumento em toda a sua extensão e que seja impedida, na prática, a demolição de qualquer dos seus elementos ou troços.

Reivindica também que a EPAL persista no seu esforço de defesa, valorização e divulgação deste património que gere e que as tutelas assegurem a vigilância para a sua protecção e os apoios necessários às operações de salvaguarda e valorização do monumento.

Pretende-se ainda que as câmaras em cujo território o Aqueduto está implantado ? Amadora, Lisboa, Loures e Sintra ? tratem com o cuidado indispensável e a dignidade devida as zonas envolventes, tanto dos pontos visíveis como dos troços subterrâneos, de modo a não prejudicarem o monumento e a valorizá-lo.

O abaixo-assinado é dirigido aos ministros das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, das Obras Públicas, Transportes e Habitação, aos presidentes das câmaras da Amadora, de Lisboa, de Loures e de Sintra e aos presidentes do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e da EPAL.

Sucesso das visitas ao monumento

A directora do Museu da Água da EPAL, Margarida Ruas sublinhou o sucesso das visitas ao monumento que se realizam todos os fins-de-semana e o interesse do público pelo mesmo e afirmou que pretende continuar a "ser uma guardiã intransigente deste património, em todas as circunstâncias". No entanto, remeteu quaisquer outros esclarecimentos para a administração da EPAL, cujo contacto ainda não foi possível. A Lusa tentou igualmente obter um comentário do IPPAR sobre este assunto, sem sucesso.

O Aqueduto das Águas Livres foi construído no século XVIII e abasteceu Lisboa durante mais de 200 anos. Desactivado desde os anos 60, o Aqueduto das Águas Livres passou a ser explorado pela Companhia das Águas e depois pela EPAL, ficando integrado no conjunto do Museu da Água, que inclui ainda o reservatório da Mãe D'água, nas Amoreiras, o reservatório da Patriarcal, na zona do Príncipe Real, e a Estação Elevatória dos Barbadinhos, em Santa Apolónia.

A estrutura do aqueduto prolonga-se durante 58 quilómetros que abrangem os concelhos de Lisboa, Amadora, Oeiras, Sintra e Odivelas. O Aqueduto das Águas Livres começou a ser construído em 1732, num processo que durou quase cem anos, tendo levado gradualmente a água aos reservatórios de cinco concelhos e resistido, incólume, ao terramoto de 1755.

Manuel da Maia, Carlos Mardel e Custódio Vieira foram os arquitectos e engenheiros militares que estiveram envolvidos na edificação, cujo arco em ogiva central se encontra, segundo Margarida Ruas, inscrito no Livro do Guinness como o maior do Mundo.

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