Muralha vai ficar à vista mas tapada com um
vidro decisão
Demorou meio ano a saber-se que fim iria ser dado ao importante achado
arqueológico Falta só saber se será uma placa de vidro ou estrututura
metálica envidraçada
rui bondoso |
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Monumento vai, finalmente, ser acabado, só não se sabe que
matéria é que o
tapará |
Rui Bondoso
Fez-se luz, mas só meio ano depois de ter sido descoberta. A
muralha romana da Rua Formosa, em Viseu, vai ser musealizada. A decisão
saiu, ontem, de uma reunião que juntou a equipa de arqueólogos que
encontrou a estrutura amuralhada, técnicos de restauro e de conservação,
um arquitecto e o vice-presidente da Câmara, Américo
Nunes.
"A muralha não ficará a céu aberto, será fechada, mas mantida à
vista, de modo a permitir a sua fruição do exterior", revelou o autarca.
A solução acordada, contempla o recurso à placa de vidro ou a uma
estrutura metálica envidraça. O projecto de musealização definitivo vai
ser entregue, na próxima segunda-feira, pela Arqueohoje, a empresa que
descobriu o troço amuralhado durante as obras de requalificação da Rua
Formosa.
"Será quase uma musealização 'in vitro', que impedirá o
desenvolvimento de fungos ou a condensação da água, tendo em conta o
ambiente geoquímico e geofísico", explicou Américo Nunes.
A estrutura que será instalada, deverá ter uma porta de acesso
"para permitir a manutenção da muralha", acrescentou.
Críticas dos arqueólogos
"Meio ano para terem decidido o futuro da muralha, foi tempo de
mais", protesta Jorge Adolfo, arqueólogo e professor no pólo de Viseu da
Universidade Católica, que desconfia, agora, do tempo que vai levar o
processo, até que as obras de musealização tenham
início.
"Na próxima reunião da Assembleia Municipal, questionarei o
presidente da Câmara Municipal de Viseu sobre essa questão", avisa Jorge
Adolfo. "É que o ónus desses atrasos recaem sempre sobre os arqueólogos.
São sempre eles que têm a culpa", acrescenta.
"Se é verdade que ficou decidido musealizar a muralha, só tenho de
aplaudir", diz João Luís Inês Vaz, também arqueólogo e também docente da
Universidade Católica.
"Felizmente que não acontecerá à muralha o que aconteceu à basílica
paleocristã, descoberta no princípio da década de 90, que foi enterrada,
mesmo havendo um projecto para a sua musealização", desabafa João Inês
Vaz, antigo governador civil de Viseu.
Sobre a muralha, o arqueólogo também é crítico quanto ao atraso. "O
processo foi muito arrastado no tempo", disse.
Proposta para voltar a tapar
O primeiro parecer do IPPAR foi que a muralha deveria voltar a ser
tapada. No entanto, e devido à contestação que lhe seguiu, foi posto
imediatamente de parte.
Ver achados por um vidro
Posta de parte a proposta para tapar a muralha, sugeriu-se, então,
colocar uma placa de vidro que, apesar de cara, Fernando Ruas manifestou
interesse.
Monumento à vista de todos
O exemplo de Pontevedra (Espanha), mais barato, também atraiu
interesses: musealização a céu aberto, rebaixamento do piso e acesso por
degraus.
Etapa a etapa
8/3/2004
Um troço da muralha romana que circundava a cidade de Viseu foi
descoberto na Rua Formosa.
10/3/2004
Arqueólogos descobrem que o troço da muralha romana pertenceu a uma
das primeiras construções amuralhadas que terão circundado a cidade, no
princípio da era cristã.
18/3/2004
IPPAR propõe enterrar, em vez de musealizar, o troço da
muralha.
23/3/2004
Corre abaixo-assinado pela preservação e musealização.
25/3/2004
Criado grupo de trabalho para estudar uma solução, coordenado pelo
arquitecto projectista da obra.
26/3/2004
A Arqueohoje foi chamada para definir a solução. Ruas acredita que
a opção passaria pela construção de uma galeria
envidraçada.
29/3/2004
Arqueohoje mantém abertas três hipóteses: musealizar, enterrar ou
fazer a memória escrita num painel.
12/4/2004
Arranca a
segunda fase dos trabalhos.
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