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[Archport] Uns estranhos homens do Neolítico antigo


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•   Subject: [Archport] Uns estranhos homens do Neolítico antigo
•   From: Luís Cabrita <luis.cabrita@netvisao.pt>
•   Date: Sat, 20 Aug 2005 14:16:12 -0000

 
 
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Uns estranhos homens do Neolítico antigo

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elisabete rodrigues Ver Fotos »
Num destes silos, foi descoberto o jovem com as 22 braceletes de conchas

Casas rectangulares, inumações em silos, artefactos em matérias-primas longínquas, adornos de grande riqueza surpreenderam os arqueólogos

TEMAS: Arqueologia

A grande surpresa, para os arqueólogos, estava escondida por baixo da camada de terra e espólio correspondente à época islâmica, no Castelo Belinho, no interior do concelho de Portimão.

Sob esse nível, as investigações descobriram testemunhos bem mais antigos, com cerca de 6500 anos ? vestígios de habitações, de sepulturas, de silos e de outras estruturas de uma população do Neolítico antigo.

Varela Gomes recorda que o Neolítico, uma época da chamada Pré-História, terá começado, no Barlavento algarvio, cerca de 5500 anos antes de Cristo, como o provaram as suas próprias escavações no menir do Padrão, em Vila do Bispo. No caso do Belinho, habitavam aqui populações cerca de mil anos depois, como o provam as datações por Carbono 14 de algum do espólio encontrado durante as escavações.

«Estas são populações que já abandonaram a costa, ou seja, que já não dependem do interface costeiro e da sua abundância de recursos para a sobrevivência», explica Mário Varela Gomes. «Eles aventuraram-se na economia de produção, colonizando terrenos mais interiores, apesar de, a partir daqui, ainda se avistar a costa, como se houvesse uma dependência psicológica». E foi assim que, há 6500 anos, o povoado foi construído neste cerro, entre a Serra de Monchique e o mar.

Nas escavações, os arqueólogos têm encontrado instrumentos em pedra «capazes de abater a floresta que então cobriria esta zona», para desbravar terras para a agricultura. Foram encontradas enxós e machados, alguns de grande dimensão.

Junto às casas, estes homens pré-históricos enterravam os seus mortos, numa espécie de bolsas escavadas na rocha calcária, em forma de silo. Mário Varela Gomes salienta que fossas funerárias tinham uma forma de ovo, talvez simbolizando uma espécie do retorno «ao ventre da grande terra-mãe».

Aqueles homens acreditavam na ressurreição, já que os seus mortos eram colocados de lado, em posição fetal, com as pernas e os braços dobrados contra o peito, como os bebés no útero materno. Além disso, eram acompanhados de espólio. «Temos encontrado grandes porções de vasos cerâmicos e pequenos artefactos líticos, como enxós e machados de pedra polida».

Mas a mais fantástica descoberta nestes silos de enterramento foi feita no ano passado e até hoje mantida no segredo dos arqueólogos. Tratava-se de um homem jovem, que tinha nos braços não uma, mas 22 braceletes feitas com conchas de um grande bivalve, o pé-de-burro, que hoje, 6500 anos depois, já não se encontra na costa algarvia.

Em todo o país, garante Mário Varela Gomes, «apenas foram encontradas 18 ou 19 braceletes deste tipo. Aqui só um indivíduo tinha 22!», comenta, ainda entusiasmado. Uma riqueza de adornos que poderia traduzir «um estatuto social diferenciado» para este jovem.

A sociedade do Neolítico antigo, esclarece o arqueólogo, não seria «socialmente hierarquizada», como veio a acontecer mais tarde, mas as 22 braceletes de conchas indicam que este homem «seria um líder, ostentando estes símbolos».

Além dos silos com os enterramentos e de outros que serviam, mais prosaicamente, para guardar alimentos, no povoado do Belinho foram também encontradas «fossas de oferendas, às forças da Natureza, constituídas por restos de alimentos e artefactos», revela o arqueólogo.

O tipo de casas construídas por estes remotíssimos algarvios é também muito interessante. É que não se tratava de casas circulares, como têm sido encontradas noutros sítios arqueológicos do Neolítico, alguns ali bem perto, mas de habitações de forma rectangular, alongada, suportadas por postes de madeira. Ainda hoje estão lá bem à vista os buracos arredondados onde encaixavam os postes, alguns ainda com as cunhas de pedra que os ajudavam a manter direitos, alinhados em filas.

Eram casas com «10, 15, 20 metros de comprimento», de um tipo que, na Península Ibérica, «apenas tem sido encontrado na Catalunha», no Norte de Espanha, garante Mário Varela Gomes. É que estas casas longas, ao contrário das circulares, são típicas da Europa Atlântica e do Norte. Será uma pista para a origem destes homens do Belinho?

Que estes habitantes eram gente que não estava isolada neste canto do mundo, mas antes se relacionava com outras populações, prova-se com alguns dos objectos encontrados nas escavações. «Encontrámos artefactos fabricados com matérias-primas com origens longínquas, nomeadamente sílex da actual Estremadura, na zona de Rio Maior», conta o arqueólogo. Mas havia também materiais bem mais próximos, como o grauvaque da costa atlântica do Algarve. «Estas pessoas moviam-se, não eram comunidades fechadas sobre si próprias», conclui o arqueólogo.

18 de Agosto de 2005 | 13:19
elisabete rodrigues


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