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Atendendo a que poderá
interessar a alguns dos archportianos, peço licença para dar conhecimento
na íntegra o texto, que redigi, das conclusões do I Congresso dos Amigos de
Museus de Portugal:
I CONGRESSO DOS AMIGOS DOS MUSEUS DE PORTUGAL Cascais, Organizou a Federação de Amigos dos Museus de Portugal o seu I Congresso, subordinado ao tema «Os Amigos dos Museus, elementos activos nas estratégias dos museus». Na cerimónia de abertura, que se realizou no Casino Estoril, os discursos protocolares salientaram a importância do evento, tendo, nomeadamente, o Sr. Presidente do Instituto Português de Museus, Dr. Manuel Bairrão Oleiro (em representação da Sra. Ministra da Cultura) manifestado o seu apreço pela actividade que, a todos os níveis, os Amigos dos Museus vêm desempenhando, e o Dr. António d?Orey Capucho, presidente da Câmara Municipal de Cascais, entidade anfitriã, dado a conhecer as iniciativas que, no domínio museológico, o Município tem levado a cabo e estão em vias de concretização.
Proferiu Nuno Crato a conferência de abertura, «Do que se gosta e do que
não se gosta quando se visita um museu». Acentuou como a divulgação deve ser um
meio para resolver o deficit de cultura humanística e científica, a fim de se
colocar a ciência no quotidiano, actividade a desenvolver desde logo na Escola e
também pelas entidades museológicas. Apontou aspectos que impedem, no
quotidiano, o completo usufruto de uma visita ao Museu. Decorreram os trabalhos no auditório do Centro Cultural de Cascais, em três painéis, consoante os pontos de vista a abordar: o de entidades com tutela sobre museus, o dos museus e, finalmente, o dos Amigos dos Museus. Moderou o primeiro o Dr. António Carvalho, Director do Departamento de Cultura da Câmara. Começou por usar da palavra Clara Camacho, subdirectora do Instituto Português de Museus (IPM), que traçou uma panorâmica, a nível nacional, dos grupos/associações de amigos existentes nos 32 dos 120 museus que integram a Rede Portuguesa de Museus: 19 de museus dependentes da Administração Central, 5 da Administração Local, 5 de museus privados e 3 da Administração Regional. Sublinhou serem, de um modo geral, por via dos estatutos, objectivos dos Amigos o enriquecimento das colecções, a valorização dos associados, o trabalho voluntário e o mecenato, a promoção de investigação, exposições, publicações e cursos, a defesa do património da área envolvente do Museu e a cooperação com outros museus. Ou seja, dar um importante contributo para as funções museológicas. E, portanto, concluiu, é intenção do IPM apoiar o mais possível a criação e a actividade dos Amigos de Museus. Cristina Passos, adjunta da direcção da Fundação Serralves, escolheu para tema da sua intervenção «Os Amigos dos Museus: elementos activos nas estratégias dos museus», referindo-se, de modo particular, à parceria inovadora que se tem revelado a associação «Os Amigos de Serralves», lançada em Julho de 1995, que, embora sem personalidade jurídica, constitui importante apoio no desenvolvimento das actividades da Fundação, nos seus variados campos de acção, relevando o voluntariado (desde 2002, com 27 voluntários na actualidade), dispondo de estatuto diferente dos Amigos. Do debate subsequente, poder-se-ão referir algumas afirmações e clarificações: os museus, de um modo geral, não têm personalidade jurídica própria, enquanto os grupos/associações de Amigos a têm e daí resultam vantagens mútuas; a recente criação do Conselho dos Museus poderá vir a constituir significativo passo em frente na definição, em conjunto com todos os parceiros envolvidos, de uma política museológica coerente; o ?estatuto? dos museus municipais mantém inúmeras ambiguidades: não dispõem de autonomia, são meras secções camarárias? daí resultando dificuldades de actuação inclusive por parte dos respectivos Amigos. Foi moderado pelo Dr. Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia, o painel que deu voz aos museus. A iniciar, Dalila Rodrigues, directora do Museu Nacional de Arte Antiga, começou por sublinhar que «os grupos de amigos são um meio fundamental à concretização do programa do museu, seja no plano da sua essencial dimensão sócio-pedagógica, seja no do, não menos essencial, plano dos recursos humanos e financeiros» e «constituem também uma âncora ou uma garantia de efectivo compromisso do museu com a comunidade». E continuou: «Considerando as dificuldades operativas que decorrem do actual modelo de gestão, da falta de autonomia financeira e administrativa, da lei do mecenato e da administração pública, o grupo de amigos constitui-se não apenas como um meio, mas como ?o meio?», pois potencia uma relativa autonomia. E focou três conceitos estruturantes da relação museu/grupo de amigos: fronteira, hierarquia, sinergia: ? «Uma linha de fronteira clara entre o Museu e o Grupo de Amigos é útil e aconselhável para ambos. Os amigos são um meio, porque o fim é a concretização do programa e dos objectivos do Museu. O museu não substitui o grupo de amigos, tal como o grupo de amigos não pode sobrepor-se ao museu».
? Uma hierarquia que não pode ser desrespeitada: «Em primeiro lugar, o
Museu e a concretização dos seus objectivos». ? Sinergia: «O museu e o grupo de amigos devem programar conjuntamente e unir-se em torno de objectivos comuns». Dentre várias sugestões, poderá salientar-se a do interesse que há em promover diversificação do perfil etário dos Amigos e a de não se ter receio de? «fazer lobby» em torno dos projectos comuns. Graça Filipe, do Ecomuseu Municipal do Seixal, centrou em três pontos a sua intervenção, que intitulou «Amigos e Doadores do Ecomuseu Municipal do Seixal: entre informalidade e compromisso institucional, relações dinâmicas e formas de participação centradas no património»: a) realçar a importância do Grupo de Amigos; b) evidenciar a vocação social do Museu; c) explorarem-se as potencialidades dos grupos de Amigos. E, depois de se ter referido às actividades, nestes domínios, do Ecomuseu em que trabalha, sublinhou quão importante se torna que o relacionamento entre museu e grupo de Amigos se situe também ? e, quiçá, primordialmente ? numa óptica de cidadania. Sofia Pessanha, em representação da Casa-Museu Abel Salazar, de Matosinhos, fez ? por dificuldades técnicas ? a sua intervenção no painel da tarde, mas é justo que se refira aqui, onde ela estava prevista. Integrada, desde 1975, na Universidade do Porto, por iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian que zelara pela preservação do património legado pelo Prof. Abel Salazar, é dirigida por uma Associação Divulgadora, que dinamiza inúmeras acções de âmbito cultural: exposições, conferências, publicações? Teresa Vilaça, directora do museu da Fundação Medeiros e Almeida, trouxe um novo repto ao debate: a casa-museu que dirige, de propriedade particular, detém uma colecção ímpar, situa-se no coração de Lisboa, mas? não tem Grupo de Amigos e, apesar de todas as acções de promoção das suas iniciativas, inclusive bem divulgadas nos mais variados meios de Comunicação Social, não é conhecida o bastante no panorama museológico português. Como fazer para gerar as sinergias de que há pouco se falava? No entender do Dr. Luís Raposo, poderão ser as seguintes
conclusões a tirar deste mui interessante
painel e do amplo debate que provocou:
?? a relação entre museu e grupo de amigos deve situar-se
principalmente, no plano conceptual, no âmbito da cidadania; os museus
constituem instituições sociais com especiais responsabilidades na promoção do
conhecimento, do espírito cívico e do sentimento de pertença comunitária; os
grupos de amigos podem constituir elementos decisivos de abertura do museu à
sociedade em geral e às comunidades envolventes, em particular; através dos
grupos de amigos, os museus podem alargar substancialmente o leque das suas
actividades e exercer assim um papel social mais
interventor;
? na sua relação com os museus, importa que os grupos de
amigos adoptem os princípios éticos e os objectivos fundamentais acolhidos
internacionalmente neste domínio; o mais importante deles é o de considerar que
as suas actividades devem, em absoluto, acomodar-se ao programa estratégico de
actuação dos respectivos museus, definidos pelas suas direcções e/ou tutelas,
reforçando-os;
? em ordem a que a relação entre museus e grupos de
amigos seja sadia, de acordo com o princípio fundamental indicado anteriormente,
afigura-se que a sua existência assente em três pilares fundamentais: fronteira clara e bem definida entre
?museu? e ?grupo de amigos?, seja no plano das pessoas, seja no plano dos meios
logísticos e financeiros; hierarquia
de interesses e objectivos, tendo sempre presente a prioridade absoluta a
conferir ao superior interesse do museu, definido no seu plano estratégico de
actuação; sinergia de intervenção
quer na realização de programas conjuntos com as actividades normais do museu,
quer na promoção de actividades próprias;
? num certo sentido, todos os utilizadores de um museu
são seus amigos; os doadores e os voluntários são, em si mesmo e pelos actos ou
actividades que praticam, amigos especiais dos museus; mas o papel daqueles
amigos que se auto-organizam e declaradamente assim se proclamam, vai para além
de todos os anteriores: a eles cabe também um importante e activo papel de
pressão social, seja junto dos poderes políticos e das tutelas dos museus, seja
junto do todo social, reclamando, com a total liberdade e independência que o
seu estatuto lhes confere, a obtenção das melhores condições para que o ?seu?
museu cumpra plenamente as funções sociais que a respectiva direcção e eles
próprios perseguem;
? os membros dos grupos dos amigos dos museus deverão ser
os mais exigentes utilizadores do museu; sendo talvez os melhores conhecedores e
apreciadores dos seus êxitos e dos seus fracassos, exige-se que sejam os
primeiros a assinalar ambos, com lealdade, vivendo-os como se fossem seus;
? os museus deveriam, na medida do possível, conferir
maior visibilidade aos seus grupos de amigos, através de recursos como vitrinas
próprias, espaços de lojas, páginas na Internet, etc.; através destes meios não
apenas se devem prosseguir fins mercantis, que em todo o caso são necessários,
como principalmente deve instituir-se nos visitantes dos museus, nos
cibernautas, enfim, nas pessoas em geral, a ideia de que ser amigo de um museu,
organizado no seu respectivo grupo de amigos, constitui um acto cívico
prestigiante e uma oportunidade de enriquecimento
cultural?.
Da parte da tarde, moderou a sessão o Doutor José d'Encarnação, docente
do Mestrado em Museologia e Património Cultural na Universidade de Coimbra. E a
sessão revestiu-se de um carácter ainda mais abrangente que as anteriores,
porquanto as temáticas não se cingiram a uma entidade museológica localizada mas
espalhada no todo nacional, a exigir, porventura, ainda mais ampla mobilização
de meios humanos e logísticos, no âmbito de patrimónios, ainda por cima, em
risco de degradação, sendo, por outro lado, repositórios ímpares, cada um a seu
jeito, de uma memória a decisivamente preservar.
Assim, Francisco Sousa Lobo, sob o sugestivo título «A fortificação da memória», deu conta da intensa actividade levada a cabo, por todo o País, pela associação que dirige, os «Amigos dos Castelos». «Únicos elementos do património construído com uma relação activa com as envolventes», os castelos entendidos como museus permitem, por isso, uma interpretação dessa envolvente, uma leitura do sistema defensivo e a ?exploração? do espaço e da vida quotidiana. A preservação deste património ? através de visitas de sensibilização, acções de divulgação e salvaguarda, projectos como o anunciado de «Lisboa, cidade medieval», com a mais ampla colaboração de pessoas ligadas aos mais variados sectores, inclusive da investigação histórica e arqueológica ao mais alto nível ? faz com que a actividade dos Amigos dos Castelos se possa considerar altamente meritória. José Eduardo Neto da Silva traçou-nos, ao invés, um panorama, se não desolador, pelo menos, assaz preocupante: a sua Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário luta, há quatro anos e sem grande êxito, pela instalação do museu no Entroncamento, localidade emblemática neste domínio. O Museu seria, em seu entender, o motor possível para a salvaguarda de um precioso espólio ? em material circulante, em equipamento, em património edificado (que preciosidades arquitectónicas são algumas das estações ora em riscos de totalmente se perderem por estarem encerradas ou por mera incúria!...) ? que é urgente preservar como memória. Um património que, por conseguinte, não é apenas ?industrial? mas também edificado, paisagístico?
Ricardo Pereira, em representação da associação Pedra Angular ? criada
para a defesa, divulgação e preservação do vasto património confiado às igrejas
? deu conta, a concluir este painel, da actividade desenvolvida, em ampla
colaboração com os serviços criados para esse efeito na Diocese de Beja, sendo
intenção alargar a sua acção a todo o País, porquanto é geral essa problemática
do espólio religioso As três intervenções suscitaram, naturalmente, dado o seu teor, intenso debate com vista a tomada de posições e pedidos de esclarecimento. No período que se previra, após a pausa-café, para as comunicações dos Associados da Federação, apenas usou da palavra Ortigão Neves, do Grupo dos Amigos do Museu de Marinha, que pormenorizadamente deu conta do minucioso trabalho de inventário que, no seio do seu Grupo, se está a desenvolver no sentido de tudo se saber acerca das «Casas do Mar», ou seja, das instituições museológicas que directamente se prendem com a actividade marítima ou que simplesmente dispõem, no seu acervo, de secções ou espólio ligados ao mar e/ou à actividade marítima, tendo exemplificado com o caso do Aquário Vasco da Gama, no Dafundo. Ainda que não expressamente abordado por esta intervenção nem por nenhuma das que constituíram os diversos painéis, talvez não seja despiciendo referir ? e agradeço, neste âmbito, a colaboração da tenente do Exército, Dra. Helena Maciel, da Liga dos Amigos do Museu Militar ? que também no seio das instituições militares a vertente museológica assume, cada vez mais, um papel preponderante, com características e problemáticas muito próprias a que, sem dúvida, a Federação dos Amigos de Museus de Portugal não vai ser alheia, podendo vir a ser prudente e eficaz intermediária na ultrapassagem de condicionalismos burocráticos e institucionais, nomeadamente no que concerne ao tratamento das colecções e deste singular espólio histórico assim como na viabilização da integração dessas ?unidades? na Rede Portuguesa de Museus. Um debate mais alargado e específico no que aos museus e ao património artístico-cultural dos vários ramos das Forças Armadas diz respeito afigura-se, na verdade, da maior premência e actualidade. O destino da Fragata «D. Fernando II e Glória» ou o do submarino «Barracuda», enquanto peças museológicas ímpares ? por exemplo ? deverão despertar-nos para uma realidade que, embora não inteiramente presente neste nosso congresso, vai suscitar, decerto, uma reflexão por parte da Federação e dos que, nestes dias, aqui estivemos, no cenário bem agradável deste vetusto Convento de Nossa Senhora da Piedade, pleno de tradição, ora magnificamente reabilitado para funções culturais e museológicas, como Centro Cultural. Todos estamos reconhecidos à Federação dos Amigos de Museus de Portugal por nos ter proporcionado estas jornadas de reflexão, de convívio e de partilha e à Câmara Municipal de Cascais pela hospitaleira generosidade do seu acolhimento, pondo ao nosso dispor a eficácia de um bem simpático Secretariado, o conforto das instalações (já se disse) e, last but not the least, bem saborosas viandas para refrigério de intensas actividades intelectuais. Cumpre, ainda, em jeito de comunicado final, sintetizar ideias-mestras que a todos nos motivaram durante estes dias. E a minha proposta é a seguinte: COMUNICADO I CONGRESSO DOS AMIGOS DOS MUSEUS DE PORTUGAL
Os Amigos dos Museus de Portugal, reunidos em Cascais, no seu I
Congresso, de 1. Congratulam-se com a oportunidade da iniciativa, levada a cabo sob os auspícios da Federação de Amigos dos Museus de Portugal, e manifestam o seu maior reconhecimento a quantos tornaram possível este evento, designadamente a Câmara Municipal de Cascais. 2. Reiteram a sua convicção de que constituem, na verdade, elo imprescindível na defesa e promoção das entidades museológicas, independentemente da entidade a que estejam directamente subordinadas. 3. Nesse sentido, reafirmam a sua vontade de ? no mais estrito respeito pelos campos de acção próprias de cada entidade e pelas hierarquias existentes ? fomentarem benéficas sinergias para que, em conjunto, os museus atinjam os seus objectivos maiores. 4. Como pessoas colectivas que visam uma actividade de índole eminentemente cultural, consideram ser estrita obrigação do Estado e das entidades tutelares dos Museus, propiciar, sem peias burocrático-administrativas, um diálogo frutuoso, com vista a mais rendível aproveitamento dos recursos museológicos do País. Nesse âmbito, os participantes neste I Congresso dos Amigos dos Museus de Portugal não podem deixar de manifestar, por exemplo, a sua mais profunda apreensão pela demora na viabilização do Museu Ferroviário Nacional, como forma de se suster a degradação de um rico património da nossa memória colectiva. 5. Ouvidos, neste I Congresso, os contributos das entidades tutelares, de responsáveis por museus e de Amigos dos Museus, reconhece-se a incontestável utilidade desta reunião, cuja continuidade vivamente se preconiza ? para, em reencontro, se concertarem estratégias, se reforçar o mútuo conhecimento e se fomentar ainda maior coesão em torno dos objectivos comuns. Cascais, 19 de Novembro de 2005
José d'Encarnação
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