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[Archport] Esculturas do Museu de Évora


•   To: "Archport" <archport@list-serv.ci.uc.pt>
•   Subject: [Archport] Esculturas do Museu de Évora
•   From: José Carlos Caetano <jc_caetano@sapo.pt>
•   Date: Sun, 27 Nov 2005 20:14:37 -0000

Caros archportianos
 
Tem sido referida nesta lista a exposição que agora ocorre no Museu de Mérida sobre Évora. Declaro já que sou um dos "Suspeitos do Costume", pois colaborei na sua organização, e foi concebida para ser itinerante. Mas, embora tendo uma ideia de como iria ser o resultado final, fiquei agradavelmente surpreendido ao entrar nas salas onde fundos rosa e laranja que faziam rebrilhar os mármores das esculturas. Por outro lado, pelo que me lembro, esta exposição é a primeira em que uma cidade romana de Portugal é dada a conhecer no exterior.
 
Está organizada, como se disse, em diversos núcleos. O 1º é dedicado ao fórum, com uma maquete do templo e outra, muito bem elaborada, enquadrando aquele espaço na cidade actual (mostrando a Pousada, a Inquisição, os jardins, etc.). Também lá estão os elementos arquitectónicos e fragmentos de estátuas do edifício, que demonstram quão "romanizada" terá sido a actual Évora.
 
O mundo funerário, as necrópoles à porta das cidades e das quais, em Évora se desconhece a localização, constitui o 2º núcleo. Mas as peças expostas são bem demonstrativas do poder económico da cidade e do elevado estatuto social dos seus habitantes. Começa-se pelo monumental leão funerário, que abre a exposição. Temos depois parte do lintel, ricamente decorado, do mausoléu de um jovem que se estava a iniciar na carreira das honras da ordem senatorial; há vários retratos, recentemente redescobertos, também de mausoléus. E não se pode esquecer a magnífica peça, uma verdadeira obra-prima com os relevos trabalhados utilizando o trépano, que é a ara de Canídia Albina, onde são referidas duas famílias senatoriais da cidade que, a par com os Iulii da Tourega, seriam uma elite que no séc. III fariam da cidade uma das mais importantes da Lusitânia.
 
 
O 3º núcleo é dedicado à vida privada. Aí podem ser vistos fragmentos de esculturas que adornariam os jardins e as salas das villae do território da cidade; além do Sátiro deitado sobre uma pele de pantera, está o Efebo descoberto em S. Manços, uma peça notável num país em que as escullturas em bronze são raras. Temos os objectos do quotidiano, desde os pequenos bronzes, onde é de referir a magnífica obra que o javali, até estatutetas em alabastro e em terracota, possivelmente para colocar nos lararia, e as lucernas com decorações perfeitamente originais ou, pode-se mesmo dizer, únicas dentro do que é conhecido. E aqui cabe realçar uma lucerna de Tróia com a representação bíblica dos exploradores de Canaã; levam um enorme cacho de uvas, para demonstrar a fertilidade da Terrra Prometida.
 
Finalmente há o núcleo dedicado à colecção recolhida por Frei Manuel do Cenáculo, Bispo de Beja e Arcebispo de Évora. E aqui as peças são de tal qualidade que é quase impossível não as referir todas. Comecemos pelo busto feminino de Balsa, depois a monumental (e muito bem valorizada na exposição) parte inferior de uma figura feminina sentada num trono, de Beja. E não podia faltar o relevo da Ménada; alguém que viu a fotografia no Catálogo e que não está ligado à Arqueologia ou História da Arte disse-me: "Está vestida com véus, pois vê-se toda a beleza das pernas".
 
Também nesta mesma colecção há outras peças a considerar. O altar que Flávia Rufina consagrou a Júpiter é, pela belíssima águia que tem, mais uma homenagem a Roma que à divindade; é mais política que religiosa; a ara de Múmia Cupita é por demais representativa do que seria a ostentação nas necrópoles romanas. Houve vontade por parte do marido e das filhas em honrarem a mãe; no entanto só colocaram sobre o túmulo um altar. Mas a decoração pode dar outra versão; há um baixo-relevo, onde está a inscrição, representando uma edícula em cujo frontão se pode ver a corona civica. Será que gostariam de ter construído um verdadeiro mausoléu e não houve dinheiro?
 
Mas o que importa aqui é a exposição, e convido todos os que já a visitaram a enviarem para esta lista as suas opiniões, sejam elas más ou boas.
 
Com os melhores cumprimentos
 
José Carlos Caetano
 

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