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RE: [Archport] É muito triste!


•   To: "'Pao Becel'" <pao_com_becel@hotmail.com>, <archport@lserv.ci.uc.pt>
•   Subject: RE: [Archport] É muito triste!
•   From: "Filipe Castro" <fvcastro@tamu.edu>
•   Date: Thu, 29 Dec 2005 10:42:13 -0600

Infelizmente estas coisas são a regra e eu acho que é porque as pessoas, de uma maneira geral, se estão genuinamente nas tintas para o património. 

 

Em Portugal não há opinião pública e portanto não há responsabilidades.  

 

E há uma tradição enorme de desprezo pelo património em Portugal, que já o Eça (A Ilustre Casa de Ramires) e o Ramalho (O Culto da Arte em Portugal) comentavam.

 

Eu continuo a achar que a culpa é nossa – da classe – por não querermos fazer ondas e discutir os problemas.  

 

Parece que Portugal é o país com maior desigualdade entre ricos e pobres da UE.  Mesmo que isto não seja exactamente assim (e Portugal seja o penúltimo ou o antepenúltimo país da UE em termos de desigualdade social), o facto é que Portugal é um país com uma classe média pequena e portanto é um país pouco educado e com pouca procura para as coisas da cultura. 

 

Em todo o mundo é assim quando não há classes médias fortes:  as pessoas lêem pouco, vão pouco ao cinema, vão pouco ao teatro, vão pouco aos museus, preferem não pensar em coisas complicadas e elegem populistas sem convicções nem ideais mas que lhes apresentam o mundo a preto e branco ( e lhes constroem estádios de futebol!).

 

Por outro lado, o ministério da cultura é uma massa informe, sem dignidade nem tradição de competência, dividido em mandarinatos e avesso a responsabilizações, reflexões, ou estratégias: as políticas são determinadas caso a caso, por lobbies e por amizades pessoais.  Afinal de contas Portugal é um país pequeno onde “toda a gente” se conhece e não há razões para as pessoas se andarem a hostilizar por causa das ruínas de Tróia ou das antiguidades do Bairro Alto.

 

No tempo em que eu andei a tentar fazer frente aos caçadores de tesouros, a pedir a sucessivos governos que tomassem uma atitude contra a destruição do património cultural subaquático português no mundo, fui sempre tratado com um silêncio polido e jesuítico.  Ao fim de quatro anos lá me mandaram uma informação do IPA, a dizer que eu tinha razão, mas...  em Portugal para as coisas funcionarem falta sempre uma peça que vem da Alemanha...

 

Hoje não tenho quaisquer ilusões: ninguém, jamais, em Portugal, se arriscará a incomodar as pessoas e a fazer inimigos entre a aristocracia, a banca e os políticos que defendem a caça aos tesouros, os promotores que defendem a destruição do património, ou os políticos que se estão nas tintas para o Bairro Alto.

 

Ao fim de 500 anos de Contra-Reforma os portugueses aprenderam que não é prudente incomodar os poderosos.  É muito mais fácil deixar andar e ser promovido por antiguidade.  E um lugarzinho na função pública é sempre uma segurança.  Depois arranja-se mais qualquer coisinha por fora, um atelier, umas avenças, etc., porque o estado paga tão mal... :-)

 

Bom Ano a todos!

 

Filipe Vieira de Castro

http://nautarch.tamu.edu/shiplab/

 

 

 

 


From: archport-bounces@lserv.ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@lserv.ci.uc.pt] On Behalf Of Pao Becel
Sent: Thursday, December 29, 2005 9:34 AM
To: archport@lserv.ci.uc.pt
Subject: [Archport] É muito triste!

 



Tudo o que se passa neste nosso país é muito triste, no que respeita à defesa do Património!

É lamentavel haver dinheiro para tudo, menos para proteger e Salvaguardar o Património, que dizem os governantes ser um bem nacional!

Eu iniciei um trabalho no Bairro Alto nos finais de Agosto, passei pelo Convento e o barulho era muito. Eram martelos eléctricos, bobcats, paredes que iam a baixo... elementos arquitectonicos que iam para dentro dos enormes camiões... onde estava o Arqueólogo? Este apareceu na obra em finais de Novembro, inícios de Dezembro. Para fazer o quê? Registar o quê? O que vinha a ser destruido desde Agosto? Registar o que já, quase, não existia?

Ainda no início do mês de Dezembro caiu a parte da chaminé e do muro exterior do Convento dos Inglesinhos, no Bairro Alto, e nada foi feito.

Eu, que estou a trabalhar perto do Convento, posso dizer que ainda nada se fez. O arqueólogo, não paricipou às entidades tutelares, sendo as minhas fotos entregues dois dias depois no IPPAR, o que surpreendeu o Instituto, pois ninguém o tinha feito até então. Fotos estas sem a rede verde e sem corte da Calçada da Cabra. Nem sequer foi feito o comunicado a este Instituto.

 A pesar dos agradecimentos que recebi, por ter feito o que, a quem de direito o competia, não fico satisfeito, pelo contrário, fico muito triste, pois tem de ser um recem licenciado a fazer adenuncia, quando ainda estava presente o arqueólogo na obra? Eu que estava a trabalhar em outro sitio, tenho de fazer o trabalho de dois? Se acontece algo na minha obra, pela minha ausência, posso dizer que estava a fazer o trabalho de outro?? É claro que não! Eu seria vetado à condenatio memoria, este é um facto!

 Voltando ao Convento. Tirei algumas fotos, cerca das 7:30 horas da manhã, quando ainda estava bem marcada a derrocada, quer do muro exterior, na Calçada do Cabra, e de parte da chiminé. Onde estavam as instituições tutelares, como a Câmara Municipal e o IPPAR? Ninguém os viu... até hoje!

Alguns dias mais tarde, durante o almoço com o encarregado da minha obra a quem se juntaram o Eng. e o encarregado da obra do Convento, veio à conversa a derrocada. Fiquei a saber que estes nem sequer comunicaram a derrocada a ninguém nessa noite. A Edifer, empresa à qual estão afectos quer o Engenheiro, quer o encarregado, nada fez, para tentar apurar responsabilidades.

Fiquei a saber que durante a noite deu-se a derrocada e o guarda que lá se encontrava, nem aos bombeiros comunicou. Tiveram de ser os moradores a fazê-lo. Fiquei ainda a saber que, e passo a citar as palavras do encarregado da obra do Convento dos Inglesinhos " por minha vontade partia aquela m**** toda! (...) então para que serve aquilo? (...) "

Isto é a defesa do Património. É por isto que acordo todos os dias às 6 da manhã? É por isto que trabalho de manhã até à noite? É por isto que, por vezes, trabalho Sábados e Domingos? Desculpem os colegas, mas se for para isto, perfiro ser deportado para outra parte do planeta!

 

Desculpem, mas estou nervoso! Não tenho mais a dizer, por agora!

Abraços a Saudações especiais a todos os que ficam indignados com a miséria em que se encontra a Cultura em Portugal!

Aos que se acomodam, os meus gritos de despertar, ou se assim o querem, virem-se para o outro lado e continuem a dormir!

Rogério Eustáquio



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