Aurélio Nuno
Cabrita* Ver Fotos
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Calçada
romana perto de Messines |
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A presença romana na freguesia de São Bartolomeu
de Messines há muito que está atestada pelos inúmeros achados
arqueológicos identificados naquela área.
TEMAS: História e histórias do
Algarve
Na realidade, os vestígios hoje conhecidos sugerem
uma presença importante do Império Romano naquela freguesia do concelho de
Silves, muitos dos quais identificados por Estácio da Veiga nos finais do
século XIX, na Carta Archeológica do Algarve.
Mas foi ainda no
século XVIII que um monumento ímpar foi identificado, entre a então aldeia
de São Bartolomeu e a ermida de São Pedro: uma base de estátua em mármore,
actualmente depositada no Museu Municipal de Arqueologia de Silves.
Trata-se de um monumento epigráfico funerário e votivo, que, pelas
suas dimensões e qualidade, sai da vulgaridade, e terá servido de pedestal
ao Deus Júpiter Óptimo Máximo, constituindo o mais meridional testemunho
peninsular do culto àquele Deus.
Aparentemente relacionado com uma
villa romana, o pedestal constitui um marco da presença de famílias
abastadas na freguesia, naquele período.
Mas outros vestígios
existem. Várias minas de cobre estão identificadas, como tendo sido
exploradas naquela altura, nomeadamente Pico Alto, Cerro de Monte Rosso,
Cumeada, entre outras.
Há ainda a salientar cerca de uma dezena de
necrópoles e outros vestígios de superfície, de que são um exemplo os
identificados recentemente por Jorge Estêvão Correia, em Messines de Cima,
todos atribuídos ao período romano.
Confirmada parece estar também
a via romana transversal do Barrocal algarvio, que se desenvolveria na
freguesia de Messines, desde Messines de Baixo, Portela, Castelo,
prosseguindo por Calçada, Cortes, até Torre e Cumeada, desenvolvendo-se
depois na freguesia de Silves.
O troço calcetado agora identificado
é inédito, localiza-se a sul de São Bartolomeu de Messines, nas
proximidades da Ladeira da Bernarda, e terá estabelecido durante séculos a
ligação entre o litoral e a serra.
O mesmo poderá ter constituído,
caso se confirme a sua origem romana, uma perpendicular de ligação entre
os eixos viários principais, longitudinal costeiro e transversal do
Barrocal algarvio.
A perda de importância e consequente abandono
desse troço terá ocorrido já em finais do século XIX, aquando da
construção das novas estradas por toda a região e, no caso concreto, entre
S. B. Messines e Pêra e S. B. Messines e Paderne, pela Portela de
Messines.
O projecto da então Estrada Municipal de 2ª Classe Nº 72
de Pêra a S. B. Messines, Lanço de Barranco Longo a Messines, aprovado
pela Comissão Distrital em sessão de 28 de Maio de 1881, referencia o
pequeno troço como «Estrada de São Bartholomeu para Boliqueime».
A
nova estrada então construída, designada actualmente por Estrada Nacional
Nº 264, entre Messines e o Algoz, acabaria por ser implementada em alguns
troços da secular via existente, essencialmente a Norte, subsistindo
apenas o troço calcetado que seguiria segundo aquele projecto em direcção
a Boliqueime.
O troço agora redescoberto situa-se a meia encosta e
desenvolve-se ao longo de cerca de setecentos metros, tendo uma largura
aproximada de 3,6 metros, cerca de 1,8 metros para cada lado do eixo, bem
definido.
O seu estado de conservação é regular, embora esteja um
pouco danificado em algumas partes.
Actualmente, já não se
encontra ladeado de valados, tendo estes sido destruídos recentemente para
implantação de uma horta.
Contudo, constitui ainda um acesso a
várias propriedades rústicas. A meio do percurso dá ligação a um outro
caminho, este ainda flanqueado por muros, completamente abandonado, e
aparentemente também calcetado.
De dimensões inferiores ao
primeiro, apresenta uma largura de cerca de dois metros e prolonga-se até
uma velha azenha, cujas ruínas ainda subsistem, e daí pelo vale, para
Norte.
Por sua vez, a Sul, o troço calcetado cruzava um carreiro e
desenvolvia-se em direcção ao Algoz, num caminho actualmente coberto pela
vegetação.
Curiosa é ainda a existência, nas proximidades, de uma
hipotética ponte, da qual apenas subsistem alguns blocos da base.
Hoje, esta suposta estrutura não apresenta qualquer contexto no
local, pois o caminho terá sido deslocado para Sul, onde, a vau, era
atravessada a linha de água, e recentemente, por um pontão construído
aquando da pavimentação do carreiro.
A origem romana ou medieval do
pequeno troço calcetado, até agora inédito, apenas poderá ser confirmada
através da realização de prospecções arqueológicas no terreno, com vista à
obtenção de novos dados, que permitam interpretar de facto a sua origem.
Não obstante, a sua redescoberta constitui desde já uma mais valia
para o Algarve e em particular para a freguesia de S. B. Messines.
Bibliografia:
«Carta Arqueológica de Portugal,
Portimão, Lagoa, Silves, Albufeira, Loulé e S. Brás de Alportel», IPPAR,
1992; Correia, Jorge, «Levantamento Arqueológico da Freguesia de S. B.
Messines», 2003; Encarnação, José d’, «Sobre a Epigrafia Romana do
Algarve», in «Xelb IV - Actas do 1º Encontro de Arqueologia do Algarve»
(2001); Projecto de construção da Estrada Municipal n.º 72 de Pêra a S.
B. Messines; Sandra, Rodrigues, «As Vias Romanas do Algarve»,
2004;
Nota: Um agradecimento especial ao Sr. José Vítor Lourenço,
presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de
Messines.
*investigador de história local e
regional
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de Setembro de 2006 | 09:00 Aurélio Nuno Cabrita* |
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