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[Archport] Três artigos de cartografia e um sobre os moluscos em contextos arqueológicos portugueses

Subject :   [Archport] Três artigos de cartografia e um sobre os moluscos em contextos arqueológicos portugueses
From :   António Correia <avantecomuna@iol.pt>
Date :   Sun, 3 Jul 2016 13:03:11 +0100

 

Moluscos em contextos arqueológicos portugueses: importância e estado da Arte

O estudo integrado conchas de moluscos presentes em sítios arqueológicos constitui um dos principais aspetos da Zooarqueologia. A abordagem metodológica dos contextos de campo e das amostragens recolhidas compreende vários tópicos interligados, incluindo a sistemática e taxonomia, a tafonomia, a análise estatística e biométrica, a paleoecologia de indivíduos, populações e paleocomunidades e a análise paleobiogeográfica e paleoclimática, para além de outros relacionados com a intervenção humana, incluindo o consumo e a economia alimentares, e a utilização como utensílios e adornos. No decurso das últimas duas décadas, estes aspetos têm vindo a ser progressivamente implementados no estudo interdisciplinar de contextos arqueológicos portugueses de diferentes idades, revelando a importância emergente das análises integradas e transversais, fruto de uma colaboração mais ativa entre os arqueólogos e paleontólogos e biólogos interessados em faunas do Plistocénico e Holocénico.

Da traça de terzi ao plano Aguiar: quatro séculos de estratégia urbana

O traçado urbano que hoje conhecemos da cidade de Setúbal resulta de uma complexa - e ainda pouco estudada – sobreposição de intervenções que se processaram desde, pelo menos, o século XIII, não se observando, contudo, significativas rupturas na unidade da sua estrutura urbana medieval. A evolução deste núcleo, em termos da sua morfologia, não pode ser dissociada do seu sistema socioeconómico - expandindo-se sempre ao longo da frente ribeirinha, e desta para o seu interior - nem tão pouco das necessidades defensivas que fundamentaram as estratégias de construção de estruturas fortificadas, no século XIV e, mais tarde, no século XVII, as quais condicionaram o crescimento urbano.

Alguns investigadores têm recorrido ao uso da cartografia desta região para contextualizar e ilustrar os seus estudos, sendo raros os casos em que se faz uma análise do documento gráfico como objecto de estudo. Assim, ao longo dos últimos anos e através de diversas publicações, foi possível coligir a cartografia relativa a Setúbal e até traçar períodos cronológicos isolados do crescimento urbano, baseados nessa análise, mas urge agora sistematizar as representações de todas as épocas e procurar entender as estratégias de desenvolvimento implícitas em cada uma.

É esta historiografia de decisões estratégicas sobre Setúbal ao longo de quase quatro séculos e das consequentes transformações urbanísticas, melhor ou pior expressas na produção cartográfica coligida, que não se encontra feita, e que, como tal, na perspetiva de contributo para o conhecimento da história local, nos propomos analisar e difundir.

 

 

Da planta ao alçado: contributos para o estudo dos alçados de igrejas da companhia de Jesus a partir da Cartografia

 

 A presente investigação centra-se na compreensão das fachadas das igrejas dos colégios, dos noviciados e da casa professa que a Companhia de Jesus possuía em Lisboa, com fundação na 1.ª fase do seu estabelecimento em Portugal, a partir de diversas tipologias iconográficas: mapas, cartas, plantas e alçados. Contributo maior para a compreensão de alçados, a cartografia, quando acurada, permite o entendimento da diversidade de plantas, bem como irregularidades e mesmo situações mais orgânicas que subsequentemente se fizeram refletir na traça das fachadas.

 


Do testemunho temporal ao imaginário espacial: descobrindo a frente ribeirinha de Lisboa através da cartografia histórica

Na antiguidade, o território onde a cidade de Lisboa viria a crescer era bastante diferente. As águas do estuário do Tejo banhavam as margens e inundavam parcialmente alguns dos vales hoje construídos. Apesar dos agentes naturais terem contribuído para a gradual modificação da margem Sul do estuário, com o sucessivo assoreamento do rio Tejo neste ponto final do seu percurso, as transformações mais significativas foram conduzidas pelo homem. Este construiu, nos terrenos baixos e lodosos junto do Tejo, aterros e espaços planos que marcaram o início, há mais de dois mil anos, da estreita relação entre a terra habitada e o rio.

 

Perante a longevidade desta relação, é possível depreender que o processo de formação da frente ribeirinha lisboetatenha atravessado diferentes momentos de crescimento, desde a sobreposição das malhas urbanas, correspondentesaos diferentes povos que habitaram nos primórdios o lugar da actual Lisboa, passando pelos aterros executados,entre os séculos XIV e XVII, nas praias e nas margens compreendidas entre a Porta de Santa Catarina e a Porta da Cruz, até aos aterros mais complexos, construídos nos séculos XIX e XX, e cuja dimensão ultrapassava em muito os anteriores.

 

Ao longo dos tempos, a frente ribeirinha foi o palco da mediação entre a cidade e o rio, pertencendo a ambos. Contudo, com as sucessivas fases da sua consolidação, a cidade de Lisboa foi-se voltando para o interior. Para uma justa interpretação do processo evolutivo que originou esta mudança, crê-se como fundamental a compilação de elementos cartográficos que, devidamente ordenados, sejam capazes de contar, detalhadamente, a história da frente ribeirinha de Lisboa. Deste modo, a investigação que este artigo pretende apresentar contempla a recolha de mapas hidrográficos da barra e estuário do Tejo (desde a carta portuguesa de Fernando Alvaro Secco, datada de 15601, até à Carta geral que comprehende os planos das principaes barras da costa de Portugal aqual se refere a carta reduzida da mesma costa2, datada de 1811 e da autoria de Miguel Marino Franzini) que nos ajudam a fazer uma aproximação ao lugar de Lisboa; a recolha de dados e estudos arqueológicos que permitem apontar o traçado conjectural da linha de costa nos períodos iniciais da génese da frente ribeirinha lisboeta, aquando da ocupação pré-romana e romana; a recolha de gravuras e relatos de época que permitem compreender melhor o ambiente junto do rio, no período compreendido entre o século XIII e o século XVII, antes do aparecimento da primeira cartografia; e a recolha das várias cartas topográficas de Lisboa, destacando-se, pela sua notável riqueza compositiva, o Levantamento de Lisboa de 1856, da autoria de Filipe Folque e, mais tarde, o Levantamento Topográfico de Lisboa em 1904-1911, desenhado por Silva Pinto, que demonstram a evolução que a linha costeira sofreu ao longo dos tempos.

 

Porém, é de salientar que este trabalho não se resume a um mero acto de compilação. O grande impulso da investigação apresentada neste artigo é justamente proporcionado pela realização de plantas originais e inéditas que conjugam, no mesmo desenho, a cidade histórica e a cidade contemporânea, evidenciando o papel importante que a cartografia histórica possui no processo de investigação e de construção do imaginário espacial de um determinado lugar, processo esse inerente à prática arquitectónica. Estas plantas – fruto da sobreposição da cartografia histórica com o traçado da malha urbana e do porto de Lisboa actual – acrescentam um novo olhar sobre a frente ribeirinha de Lisboa, admitindo a interpretação livre do investigador que sobre elas se debruçar. Ao confrontar as diferentes cartas, e os diferentes momentos históricos da frente ribeirinha lisboeta, com a realidade que a mesma atravessa nos dias de hoje, estas plantas permitem colocar hipóteses sobre uma série de momentos deste território que têm permanecido, até agora, envoltos numa espécie de neblina. Aliás, é pertinente referir ainda a utilidade desta investigação na descoberta de outras pistas que, imersas na abundante riqueza das cartas, podem constituir objecto de estudo nas mais diversas disciplinas.

 

 

 



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