[Archport] Autorizada destruição de muralha de Cacela para erguer moradia ( notícia do Expresso on line )
Title: Autorizada destruição de muralha de Cacela para
erguer mor
Novo instituto
do património reaprecia caso
Autorizada
destruição de muralha de Cacela para erguer
moradia
António
Henriques
Alertado para o
início de obras a todo o momento, João Pedro Cunha-Ribeiro,
subdirector do instituto do património, diz que "não se pode
pôr em causa direitos adquiridos", referindo-se a "licenciamento"
anterior.
Luis Filipe
Catarino
O povoado de
Cacela Velha terá atingido o apogeu durante a época islâmica e a
sua riqueza histórica e arqueológica faz dele um dos mais
importantes conjuntos patrimoniais do Algarve
09:21 | sábado, 26 MAI
07
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O Instituto
Português de Arqueologia (IPA), extinto com a reestruturação dos
organismos públicos, autorizou a destruição de um troço
significativo da muralha islâmica situada em Cacela Velha, no
Algarve, para viabilizar a edificação de uma moradia particular
com dois pisos e uma cave.
Em meados de 2004, o IPA aprovou um projecto de arquitectura para a
construção de um imóvel num terreno situado no núcleo
histórico de Cacela Velha, classificado como Imóvel de Interesse
Público desde 1996 e integrado na área protegida do Parque Natural
da Ria Formosa.
A decisão do IPA, cujas competências foram absorvidas pelo novo
Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar), tinha sido condicionada à realização de
sondagens arqueológicas, admitindo que o projecto podia ser alterado
caso se descobrissem estruturas.
Muralha com 10
metros...
As sondagens
puseram à vista um troço de muralha islâmica com um metro e 80
de altura, 10 de comprimento e mais de dois metros de espessura, um
facto que não pode ser considerado totalmente surpreendente. É que
o povoado de Cacela Velha terá atingido o apogeu durante a época
islâmica e a sua riqueza histórica e arqueológica faz dele um
dos mais importantes conjuntos patrimoniais do Algarve.
Em face desta descoberta, foi enviado ao IPA e também ao Instituto
Português do Património Arquitectónico (Ippar), a quem competia,
na altura, dar parecer sobre projectos e obras em imóveis e
conjuntos classificados, uma reformulação do projecto de
arquitectura que obteve parecer favorável porque o Ippar considerou
que salvaguardava a muralha.
Sobre esta reformulação, o IPA voltou a emitir uma aprovação
condicionada, referindo, explicitamente, que a muralha não devia ser
minimamente afectada, quando os trabalhos arqueológicos ainda não
estavam concluídos.
... e estrutura
urbana islâmica
A Câmara
Municipal de Vila Real de Santo António (VRSA) emitiu, entretanto, o
alvará de construção por considerar que o projecto tinha sido
deferido, mas "sem se verificar o fim dos trabalhos
arqueológicos", como reconheceu ao Expresso Nuno Marques, assessor
para a gestão urbanística do presidente da Câmara de VRSA.
Quando foram retomados, em meados de 2006, esses trabalhos puseram a
descoberto, junto à muralha, a estrutura urbana do período
islâmico (casas e outros elementos) e revelaram uma ocupação até
à época romana.
Na sequência de mais esta descoberta, Fernando Real, director do
IPA, informou que aquelas estruturas islâmicas "serão
construções sem grande valor histórico e patrimonial", que
"podem ser desmontadas" após registo - o que já aconteceu -
admitindo o responsável demolir, em parte, o embasamento da
muralha.
"Sem
importância"
Ao Expresso,
Fernando Real disse que "a muralha é preservada, salvo um troço
que tem de ser cortado", cuja extensão afirma não se recordar.
Este dirigente reafirmou que "as estruturas urbanas islâmicas
são coisas sem importância nenhuma e resumem-se a pedras de base,
que configuram as plantas" das casas. E acrescenta que, se fossem
preservadas, "não haveria espaço suficiente de construção
[para a moradia]".
Na posse do levantamento arqueológico realizado, o Ippar verificou,
entretanto, que o projecto de arquitectura nunca terá sido refeito
de modo a salvaguardar o património classificado existente e que, a
manter-se, irá destruir os vestígios encontrados.
Diferente é o
entendimento do representante legal da proprietária. Ao Expresso, o
advogado Afonso Ribeiro Café diz que "a solução
arquitectónica encontrada nunca foi colocada em causa por nenhuma das
entidades competentes" e que a sua representada "tem, desde o
início, a vontade de garantir a preservação de tudo o que tiver
interesse monumental". Afonso Ribeiro Café lembra que as casas
islâmicas foram desmontadas "sob autorização e supervisão
das entidades competentes, IPA e Ippar".
Direitos
adquiridos
Afonso Ribeiro
Café disse ainda que "a muralha foi integrada no projecto de
arquitectura, a sua maior parte no exterior da moradia, e a restante
no seu interior e que a construção do edifício será realizada
da forma mais adequada para que se preserve e não seja danificado o
património".
João Pedro Cunha-Ribeiro, subdirector do novo Instituto de Gestão
do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) - que
absorveu as competências de IPA e Ippar - afirmou ao Expresso que,
depois de alertado para uma situação em que estavam iminentes
obras, está a "reapreciar" a questão com base num recente
relatório de escavações e "em diálogo com a
proprietária".
Frisando que "estamos a falar de uma zona particularmente
sensível", admitiu que a solução que vier a ser encontrada
"afectará obviamente a muralha". O responsável afirma ter sido
"posto perante um projecto que, no essencial, está aprovado. Não
posso estar a pôr em causa direitos adquiridos, já houve um
licenciamento". Nuno Marques, assessor da Câmara Municipal de Vila
Real de Santo António (VRSA) diz que "a autarquia aguarda um
parecer final do Igespar" para agir.