[Archport] Os E.U.A à descoberta dos Descobrimentos Portugueses
Encompassing the Globe: Portugal and the World in the 16th and 17 Centuries
Os E.U.A à descoberta dos Descobrimentos Portugueses
Depois de vários anos a ser considerado como uma ligeira variante do caso espanhol, o império português começa a sofrer novas interpretações por parte dos
académicos americanos. É provável que parte deste interesse seja motivado pelas semelhanças entre o império português de quinhentos e o actual modelo imperial americano. A ocupação estratégica de territórios para controlo das matérias primas, a aposta nas tecnologias de ponta, a importância dos serviços secretos e uma suposta base multiétnica, parecem servir de pontes entre os dois casos. Podemos ser ainda mais arrojados e comparar o projecto português de alargamento da fé cristã, ao projecto americano de alargamento da Democracia. Ambos servindo de suporte ideológico aos respectivos modelos, impostos não raras vezes a ferro e fogo, e sempre de acordo com as regras e interesses das superpotências.
Este crescente interesse americano pela história portuguesa terá as suas vantagens, na medida que pode
atrair novos investigadores, com novas abordagens e recursos.
Infelizmente é provável que, como tantas vezes acontece nos E.U.A, entre os trabalhos académicos que venham a surgir, se destaquem os mais medíocres e politizados. O complexo fenómeno do imperialismo português corre o risco de continuar a ficar reduzido às duas correntes simplistas mais tradicionais:
1) Os E.U.A. como continuadores actuais do papel ?civilizador? que Portugal teve no período moderno. A agressão bélica desproporcionada, a intervenção abusiva no governo de nações estrangeiras e a arrogância ideológica, que tantas vezes marcaram (desastrosamente) o trajecto português, serão legitimadas e valorizadas, atendendo às semelhanças com as políticas americanas
actuais.
2) Portugal como um nação arrogante e prepotente, que impôs pela força a sua cultura e religião, perseguindo e exterminando todas as minorias étnicas e religiosas que encontrou pelo mundo. Como é habitual, serão omitidos neste tipo de trabalhos, que os lideres tribais africanos eram parte integrante do comércio de escravos, que muitos membros de castas hindus inferiores abraçaram livremente o cristianismo e que, de todos os impérios europeus da época, Portugal terá sido porventura, aquele com a maior e mais influente aristocracia de natureza mestiça.
Exposições como a Encompassing the Globe ,
atendendo aos exemplares expostos e excertos dos textos do catálogo divulgados, parecem favorecer a primeira corrente. Algo que certamente originará como reacção, o desenvolvimento paralelo da segunda.
Como alternativa, seria interessante aproveitar este interesse, para a criação de projectos interdisciplinares, entre instituições académicas portuguesas e americanas. A junção de conhecimentos e experiências distintas, certamente permitiria um maior e qualitativo avanço, no estudo deste interessante período histórico.
R.G.
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