Uma estela funerária com uma das maiores inscrições da escrita tartéssica é
um dos tesouros do Museu da Escrita do Sudoeste em Almodôvar. Ainda antes da
inauguração oficial, o museu ? com registos únicos da mais antiga escrita da
Península Ibérica ? abre as portas amanhã, no âmbito das Jornadas Europeias do
Patromónio que decorrem este fim-de-semana.
O museu instalado no edifício do antigo Cine-Teatro municipal, no centro
histórico de Almodôvar, vai "expor alguns dos mais importantes achados
arqueológicos epigrafados com caracteres da Escrita do Sudoeste", disse à Lusa
Amílcar Guerra, arqueólogo e coordenador científico do projecto.
São
sobretudo estelas funerárias ? colunas tumulares em pedra de xisto ? nas quais
os antigos faziam inscrições e eram colocadas ao alto nas sepulturas.
Segundo o responsável, a instalação do museu em Almodôvar justifica-se
plenamente, porque o concelho é uma das áreas da Península Ibérica com uma das
maiores e das mais importantes concentrações deste tipo de
registos.
Ainda sem data marcada para a abertura definitiva ao público, o
Museu da Escrita do Sudoeste inicia-se com cerca de 20 peças, entre elas um
espólio permanente de 16 estelas descobertas no núcleo arqueológico de
Almodôvar.
Este conjunto "deverá ser variado com a exposição de outras
estelas descobertas fora do núcleo de Almodôvar, que são também muito
interessantes e diversificadas", acrescentou Amílcar Guerra.
Almodôvar
guarda estrela funerária pouco comum
As estelas epigrafadas com
escrita tartéssica do concelho de Almodôvar fazem parte das 75 estelas
descobertas em território português e de um total de 90 conhecidas na Península
Ibérica.
Amílcar Guerra destaca a Estela de São Martinho, achada no
sítio arqueológico de São Marcos da Serra, no concelho algarvio de Silves. "É
uma estela notável, não apenas pelas suas dimensões, mas especialmente pela
extensão do seu texto, com cerca de 60 signos identificados, o que permite
considerá-la uma das inscrições mais extensas de escrita tartéssica", sublinhou.
Em termos científicos, o arqueólogo destaca ainda a Estela da Abóbada,
achada no sítio arqueológico de Gomes Aires, em Almodôvar. "É uma estela
particularmente interessante e fora do comum por ser uma das poucas com
figuras", acrescentou, frisando tratar-se de "um exemplo ilustrativo do
interesse da escrita tartéssica".
A Escrita do Sudoeste ou Tartéssica,
da I Idade do Ferro no Sul de Espanha e Portugal, foi desenvolvida pelos
Tartessos, nome pelo qual os gregos conheciam a primeira civilização do
Ocidente, que se terá desenvolvido nas zonas das actuais regiões da Andaluzia
espanhola e Baixo Alentejo e Algarve.
A escrita dos Tartessos, que
tiveram influências culturais de Egípcios e Fenícios, explicou Amílcar Guerra,
"é distinta das dos povos vizinhos, complexa e permanece indecifrável até à
actualidade".