[Archport] A febre das barragem .... ou o pais dos mil lagos!
Caros Colegas,
Em Setembro passado, nesta mesma lista, dei conta das minhas
preocupações ao ouvir o anuncio do governo de que a barragem do Sabor
"ia mesmo para a frente". Preocupei-me então, não tanto pelo facto
dela ser construída ou não, ou se as gravuras se conservam debaixo
de água mas sim, porque penso que não se sabe, verdadeiramente o que
por lá existe (e deviamos saber antes de começar a construir). Agora,
ao ler a nova proposta do Governo relacionada com barragens
sinceramente não estou preocupada, estou alarmada ! Mais 10 barragens!??
Claro que "o pacote" é vendido embrulhado no papel das preocupações
energéticas, na aposta da energia renovável. Tudo isso é sabido é
controverso e muito problemático. Será que é mesmo como dizem? Não
existem alternativas (energia solar etc)? Não devíamos ter todos ter
um pouco mais a dizer sobre estes planos/projectos mesmo antes dos EIA?
E' claro que houve eleições e que existe um partido com maioria
absoluta mas posso estar enganada mas não me lembro de ter visto
anunciado no programa esse tipo de projectos.
Quem tinha esse plano era Salazar! Em 1960 (cito de memoria) foi
publicado um livrinho com o plano nacional hidroeléctrico. O interior
do nosso pais transformava-se numa imensa série de albufeiras "em
cascata". A razão então era também a produção eléctrica e a
independência nacional (estávamos no tempo do “orgulhosamente sós”).
Passaram-se quase 50 anos, é isso que ainda queremos para o futuro
do País?
Ao ler as noticias lembrei-me do que ouvi num encontro ao qual
assiste na UTAD. Um Sr. engenheiro da EDP dizia então que ainda tinha
esperança que um dia a barragem do Baixo Côa fosse construída. Na
plateia eu ri–me disse ao colega que estava ao lado de mim "no way".
Será? A barragem do Baixo Côa é mais conhecida como a barragem de
Foz Côa.
No inicio de 2006 Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura nos
governos de Cavaco Silva e do Ambiente no de Durão Barroso dizia ser
“ prioritária e decisiva para os interesses energéticos de Portugal a
construção das barragens nos afluentes do Douro (…) se a decisão lhe
pertencesse teria optado por construir já a do Baixo Sabor e a do
Alto Côa” e acrescentava “A decisão de não construir a barragem do
Baixo Côa, por causa das gravuras rupestres, foi um erro político
crasso" ver http://dn.sapo.pt/2006/01/02/suplemento_negocios/
eu_construia_a_barragem_baixo_sabor_.html
Mas ATENÇÃO isto não é um problema das gravuras do Côa ou da arte
rupestre portuguesa, isto pode ser um catástrofe para a arqueologia
nacional.
Compreendo que para muitos este tipo de grandes empreendimento queira
dizer trabalho e, nalguns casa, a própria subsistência mas e depois ?
Não sou tão lírica que pense que cada pedra, cada muro, cada sitio
arqueológico deva ser preservado mas nas ultimas décadas o nosso
pais, em nome do progresso, perdeu milhares de sítios arqueológicos.
Muitos deles não foram conveniente estudados e a falta de recursos
deixou muitos projectos de investigação na gaveta.
O que vamos afinal deixar aos nossos filhos? Um pais de “mil lagos”?
Segundo o Prof. Encarnação existem mais de 1000 subscritores nesta
lista, sei que hoje muita gente se preocupa em dizer alto o que pensa
- principalmente se não está de acordo com o que o Primeiro Ministro
pensa – mas gostava muito de saber a vossa opinião --- em particular
dos mais novos e dos que estudam hoje arqueologia--- sobre esses
projectos e do que queremos para o futuro.
Será que esta “nossa” lista só serve para mandar convites, anunciar
de empregos e enviar de CV?
Cordiais saudações arqueológicas
Mila Simões de Abreu
PS. O que atrás escrevi só compromete a minha pessoa e mais ninguém.