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[Archport] Revolta da província

Subject :   [Archport] Revolta da província
From :   Carlos Filipe dos Santos Delgado <cdelgado.templo@netc.pt>
Date :   Tue, 23 Oct 2007 10:31:43 +0100

Meu caro Rui Pinheiro:

 

Numa simples frase, poder-te-ia confessar que te compreendo bastante… E também poderia dizer-te que a resolução disso passaria por uma atitude mais crítica e exigente de quem vive e trabalha, segundo as tuas palavras, na “província”. Mas não! Infelizmente, há muitas coisas que já não passam por aí, e que apenas se regem pela “mão invisível” do mercado, segundo Adam Smith.

 

Falaste dos cursos livres na área de Arqueologia.

 

Pois eu posso falar-te também dos cursos de licenciatura ou mestrado com qualidade (na generalidade das áreas) e a preços mais acessíveis do que na U. Porto! E porque não falar também da vastidão de trabalhos arqueológicos que se desenvolvem da Serra de Aire e Candeeiros para Sul, e mais ainda a Sul do rio Tejo? Ou então do verdadeiro cluster, em torno da capital, de empresas realmente competitivas, de qualidade, que apostam fortemente na inovação e na Investigação e Desenvolvimento – I&D e na comunicação tecnológica (sublinho sobremaneira estes aspectos) …

 

O grande problema, creio eu, reside neste pormenor: Portugal é, sempre foi, e sempre há-de ser o país dos empreiteiros e dos construtores civis! Como tal, mede o seu “progresso” pela “obra feita” e visível, e não pelo capital intangível, onde se enquadram a Arqueologia e o Património. E este dito progresso é concentrado onde existem os maiores aglomerados de capital, e não necessariamente as pessoas (se assim fosse, o Entre-Douro-e-Minho estaria a fervilhar de trabalho, o que não sucede…).

 

E no encalço desse “progresso” à custa de muita obra, pairam os arqueólogos e as suas empresas… Muitos deles, revelam uma atitude exterior de grande pesar pelo enorme sacrifício de que se vai revestir a opção política (e económica) de tornar Portugal o “país dos mil lagos”; no entanto, interiormente e no conforto dos seus gabinetes, já devem estar a fazer contas à vida, enquanto esfregam as mãos… Nisto concordo com a subtil ironia do nosso archportiano João Paulo Pereira, ao referir-se àqueles que, com este tipo de “atentados” ao património «aproveitaram bem a ocasião para encher CV's»…

 

Não concordo que haja uma universidade (ou um hospital…) em tudo o que é lugar. Mas já o mesmo não se pode falar dos citados cursos livres e cursos de formação, que apenas existem onde dá lucro. Isto torna as coisas ainda mais complicadas para quem é da “província”, e não se pode dar ao luxo de, a expensas suas, ir para Lisboa ou Porto para tentar, por sua iniciativa, ganhar as competências técnicas que as empresas de arqueologia genericamente não oferecem… nem facilitam!

 

O mesmo se aplica em relação aos próprios trabalhos arqueológicos, onde apenas são requeridos técnicos e arqueólogos “da zona” e “com viatura própria”… já agora, se puderem, que tragam também uma pá e uma enxada, se lá tiverem nos arrumos do pai!

 

Portanto, como depreenderás das minhas palavras, a coisa está má e tende a piorar! Já não basta a flexigurança e mobilidade do trabalho na área, como ainda existe a excessiva concentração dos veículos de formação e de obtenção de competências em torno de uma ou duas cidades… Para Adam Smith, a mão pode ser invisível, mas acho que, se estivermos atentos, existem faces bem visíveis a lucrar com esta situação!

 

 

Forte abraço para ti, Rui!

 

Saudações geográficas e arqueológicas para todos.

 

Carlos Delgado



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