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Reconstituição
de uma mesquita do Ribât da Arrifana |
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As escavações arqueológicas começaram há seis
anos, mas é preciso dinheiro para trabalhos sistemáticos e para a
musealização do espaço.
TEMAS: Arqueologia
São 120 páginas, com textos, fotografias e
ilustrações. Mais do que um simples catálogo da exposição «Ribât da
Arrifana ? Cultura material e espiritualidade», este livro pretende ser
uma chave que abra portas aos apoios de que este importante sítio
arqueológico na costa de Aljezur precisa para terminar as pesquisas
arqueológicas e poder ser, enfim, musealizado.
O catálogo foi
lançado no passado sábado, numa sala da Câmara de Aljezur completamente
cheia de gente, apesar do sol que brilhava lá fora e de até haver mais
eventos a decorrer na vila.
A exposição já fechou, porque esteve
patente em
Setembro e Outubro, mas em breve vai passar por outros
concelhos do Algarve ? Lagos, Albufeira, Faro -, para depois ser
apresentada, no Verão do próximo ano, no Museu Nacional de
Arqueologia do Algarve.
O livro contém os resultados das
investigações que todos os anos, desde 2002, durante um mês, no Verão, os
arqueólogos Rosa e Mário Varela Gomes, assistidos por alunos da
Universidade
Nova de Lisboa, vêm fazendo na ponta da Atalaia, onde
estas pesquisas permitiram descobrir o quase mítico Ribât da Arrifana, a
fortaleza-mosteiro islâmica fundada no século XII pelo mestre sufi Ibn
Qasi.
Como salientou Rosa Varela Gomes, as escavações começaram há
seis anos, mas «ainda não totalizaram um ano de trabalhos de campo».
Tudo porque, até agora, apesar do enorme apoio da Câmara de Aljezur e de
entidades externas como a Fundação Gulbenkian, ainda não houve dinheiro
para desenvolver uma campanha sistemática e contínua de escavações
arqueológicas, que permitam pôr a descoberto tudo o que ainda se esconde
naquela península à beira mar.
«Já disse ao Sr. José Marreiros,
presidente
da Associação de Defesa do Património de Aljezur, que não
gostava de um dia ter que prosseguir estas escavações já de cadeira de
rodas», ironizou a arqueóloga.
Por isso, salientou, além de dar a
conhecer nacional e internacionalmente a importância deste que é o único
ribât da Península Ibérica, além do de Guardamar, em Almeria
(Espanha), o livro agora editado irá «permitir também
algo muito importante: tentar que, ao divulgar este sítio, se consiga
obter financiamentos para prosseguir o trabalho».
«É necessário
fazer uma campanha até ao fim, perceber a totalidade do ribât e depois
integrar essas descobertas num projecto de musealização, para que este
sítio possa ser usufruído pelas gerações vindouras», defendeu Rosa Varela
Gomes.
A mesma esperança tem Manuel Marreiros, presidente da
Câmara de Aljezur. É que o autarca percebeu já a
importância que este local magnífico poderá ter para desenvolver o turismo
cultural e para atrair ao seu concelho, ao longo de todo o ano, turistas
diferentes.
Além disso, como confessou no lançamento do catálogo,
Manuel Marreiros nutre alguma simpatia por Ibn Qasi, o fundador da
fortaleza-mosteiro.
«Também ele, no século XII, lutava contra o
centralismo do poder central. Ainda hoje esse é um rumo que perseguimos
aqui em Aljezur. Não sou propriamente um discípulo de Ibn Qasi, mas
compreendo as suas preocupações?», disse o autarca, com muita
ironia.
Quanto à falta de apoios para completar o trabalho e dar
seguimento ao projecto de musealização, Manuel Marreiros garante que
a Câmara
vai «continuar sempre a dar apoio. Todos os anos procuramos é que haja
entidades públicas e privadas que nos dêem algum apoio. Este ano, por
exemplo, a Gulbenkian apoiou as escavações, e alguns privados deram o seu
apoio para a publicação deste catálogo e para a exposição».
E o
QREN não poderá dar uma ajuda a este projecto? «Vamos tentar, neste novo
Quadro Comunitário de Apoio, ver se o nosso projecto consegue encaixar-se,
nomeadamente a musealização do Ribât da Arrifana. Mas antes é preciso
escavar, conhecer, para depois mostrar às pessoas».
É que,
explicou o autarca em declarações ao «barlavento», «no QCA anterior
tentámos que o nosso projecto fosse financiado, mas as coisas não correram
bem, as cargas burocráticas que impõem às vezes são inultrapassáveis.
Naquela fase, o que havia para financiar eram escavações. Não podíamos
promover a musealização e a visitação daquele sítio arqueológico sem antes
conhecer o que lá estava, como a CCDRA queria».
Ao longo dos anos
de trabalhos arqueológicos, o Ribât da Arrifana tem recebido a visita de
inúmeros cidadãos de países islâmicos, alguns bem ilustres, nomeadamente
príncipes, embaixadores e outros altos dignitários.
Desses
contactos, sempre se esperou que surgisse algum apoio, tendo em conta a
importância histórica que o local tem para os muçulmanos.
Mas,
segundo Manuel Marreiros, desses contactos «até agora ainda não surgiu
nada. Houve cartas para as embaixadas, mas não obtivemos respostas. Mas
vamos insistir». «Talvez não se tenha percebido ainda bem a importância do
local. Com este livro talvez as coisas fiquem mais claras», concluiu.
O livro-catálogo «Ribât da Arrifana ? Cultura material e
espiritualidade», editado pela Associação de Defesa do
Património de Aljezur, está à venda na sede desta
instituição.
15
de Novembro de 2007 | 08:30 elisabete
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