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[Archport] ReRE: ARQueologia de Emergencia

To :   Archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] ReRE: ARQueologia de Emergencia
From :   Ricardo Gaidão <caioviator@yahoo.com.br>
Date :   Mon, 3 Mar 2008 20:25:46 -0300 (ART)

Caro Alexandre.

Tem toda a razão quando apresenta vários exemplos de aproveitamento abusivo, por parte de alguns governos, da investigação arqueológica para promover  um conjunto de interesses políticos, económicos ou culturais de legitimidade discutível.
Mas tal  conduz inevitavelmente às velhas questões sobre quem patrocina a investigação cientifica e como devem ser utilizados os seus resultados.
Da mesma forma como elaborou esta lista, também poderia fazer uma semelhante, com as utilizações mais perniciosas de algumas das maiores descobertas realizadas na área da Física ou da Química.

Estou ciente que o nosso contributo social, enquanto cientistas, é menos visível e mais reduzido que o prestado por outras áreas. Mas tal não significa que a sua importância deva ser menosprezada.

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Em 03/03/08, Ricardo Gaidão<caioviator@yahoo.com.br> escreveu:


> Quanto ao comentário do Alexandre Monteiro, não posso concordar na parte em
> que afirma que a Arqueologia é o luxo das sociedades ricas e coloca em
> dúvida o retorno produtivo dos arqueólogos. O valor que países como a China,
> India e Egipto desde cedo atribuiram à Arqueologia parece-me deixar poucas
> margens para dúvidas.

Sem dúvida. Atrever-me-ia até a acrescentar outros países, como a
Turquia e Israel. Contudo, quase todos atribuiram esse "valor" à
arqueologia, não pelo seu retorno científico, mas por um enorme desejo
de afirmação, identitário, étnico e territorial, para a qual a
arqueologia é por vezes pretexto e justificação histórica - ou, tão
simplesmente, porque lhes dá dinheiro a partir do turismo, caso do
Egipto.

A China, por exemplo, utiliza a arqueologia subaquática para reclamar
a posse das ilhas Spratly, um território rico em petróleo, disputado
por vários países
(http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/asia-pacific/331763.stm) ou usa os
dados cientificos recolhidos em escavações da Mongólia até ao Cantão
para justificar a união e coesão do Império do Meio.

Ou a grande valorização da arqueologia ariana, como suporte
histórico-justificativo para o Reich dos mil anos de Hitler... ou
Israel, que elevou aos píncaros os ideais do sionismo com a escavação
de Masada e causou umas dezenas de mortos quando tentou reabrir em
1996 os antigos túneis de Charles Warren sob Jerusalém, mais uma
epopeia naquela que é, de todas, a mais subjectiva de todas as
arqueologias, a biblica.

Há também aqueles que, com os egipcios, foram esbulhados de quase tudo
durante 2 séculos e que agoram olham qualquer estrangeiro com
desconfiança, só confiando no técnico nacional. Os gregos e os turcos,
por exemplo; se a marinha turca ainda dispara a matar sobre barcos de
caçadores de tesouros, a Grécia só há cerca de um ano abriu as suas
àguas ao mergulho amador, fechadas havia anos por temor de que os seus
naufrágios clássicos fossem pilhados e vendidos em leilão. Ou, na
mesma zona, o partido FYR, da Macedónia, -que se apropriou para seu
simbolo, não só do desenho figurado encontrado num artefacto
proveniente de uma escavação situado no actual território grego de
Vergina, como também do próprio nome Macedónia (termo que, para os
gregos, remete para o Império de Alexandre, o Grande) - facto que
azedou as relações entre os dois países.

Quanto à Índia, capitalizou o facto de ter tido Mortimer Wheleer a
formar quase toda uma geração de arqueólogos indianos entre 1944 e
1948 e avançou em pleno numa campanha de arqueologia pós-colonial sem
precedentes assim que ganhou a independência - o que não impediu que,
aquando da destruição em 1992 por da mesquita de Ayodhya
fundamentalistas hindus, se tivesse que encerrar antecipadamente o
Congresso Mundial de Arqueologia (Nova Deli, 1994), por os arqueólogos
que denunciaram a destruição terem andado à pancada com arqueólogos
indianos fundamentalistas que não queriam que o facto fosse
mencionado....

Alexandre


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