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Boa noite
Em primeiro lugar, peço desculpas mas a placa de rede do meu computador
decidiu que nao trabalha mais, assim que estou com um portatil espanhol, com
teclado espanhol e sem acentos portugueses.
Hoje, depois de falar com alguns amigos e de ver de novo algumas mensagens
desta lista de correio achei interessante levantar mais uma questao. Os
arqueologos aceitam trabalhar por miserias porque nao há trabalho para todos
os arqueólogos? Sinceramente, nao concordaria com esta opiniao. Nao estou a
ver aos arqueologos junto do pelourinho de uma vila, à espera que chegue o
empresario explorador, como se fosse o terratenente de outros (espero) tempos,
a dizer, tu hoje trabalhas, tu hoje nao trabalhas.
De facto, as conversas que eu tenho com amigos de outras empresas (de empresas
que pagam ordenados, estadias etc) e que é muito dificil arranjar arqueólogos
ou assistentes para trabalhar. Se for assim só vejo duas hipóteses.
1.- De facto nao ha desemprego para os arqueólogos e assistentes de arqueólogo
deste pais (o que ganhem ou nao, é outra historia).
2.- Existe uma falta de canais de comunicaçao entre as empresas e os
arqueólogos e assistentes, que faz que haja pessoas a procura de trabalho e
empresas que procuram arqueólogos e que nao encontram trabalhadores.
A minha sensaçao é que nao há falta de trabalho. Conheço assistentes, alguns
já arqueólogos (parabens Rui), que trabalham e nao aceitam trabalhar por
miserias.
Se outros trabalham por pouco dinheiro sera por vontade própria?. Muitas veces
será falta de informaçao. Outras veces será que estao mal informados e mal
aconselhados.
Compreendo perfeitamente a situaçao de um rapaz o de uma rapariga que sai da
faculdade, sem experiência, apenas com algumas semanas de trabalho em
escavaçoes, com vontade de trabalhar e chega uma oportunidade. Uma escavaçao,
um acompanhamento, tudo bem, é pouco dinheiro, mas é curriculum. E faz o
trabalho.
Mas, a realidade é que nao e suficiente com vontade. Que os arqueólogos neste
pais, pelo menos pelo que eu conheço, nao saem da Universidade com capacidade
para dirigir um trabalho arqueológico. E, é melhor dizer as coisas como sao.
Este trabalho é um trabalho profissional que se enquadra dentro de uma
realidade complexa. Nao se pode soltar a un miudo perante engenheiros de uma
obra ou de uma fiscalizaçao, ou até de outros arqueólogos, que evidentemente
vao cheirar o medo e a insegurança do arqueologo e fazer que passe uma vida
bem dificil.
Como é que se pode dar uma soluçao? Com mais fiscalizaçao? Acham que com o
numero de arqueólogos do IPA e do IPPAR se pode conseguir fazer melhor?. Vamos
a ser serios. Alguem consegue fazer melhor do que os arqueólogos que estao
sozinhos nas extensoes territoriales? Mesmo levando o trabalho a casa e
trabalhando 72 horas por dia nao poderiam resolver o problema. As
universidades? Nao sei, nao conheço a Universidade Portuguesa por dentro, só a
conheço pelos seus resultados em forma de arqueólogos e nao é bem distinta à
espanhola. Só quando a Universidade compreenda que o papel dos arqueólogos na
sociedade nao é o da investigaçao e os trabalhos de verao, é que poderemos
começar a falar.
Gostaria imenso que este papel de informaçao e de apoio aos arqueólogos
partisse da APA, mas acho que é dos próprios arqueólogos que tem de sair a
soluçao.
Sinceramente nao acho que se esteja a falar de ganhar 2000 euros. De nada
serviria ganhar 2000 euros ou 3000 se as despesas sao de 2500 ou de 3500.
Estamos a falar de outras coisas. De poder ganhar a vida de forma honrada com
um trabalho profissional. De poupar algum dinheiro, mesmo que seja pouco e de
poder dormir todas as noites a pensar: fiz um bom trabalho. De ter condiçoes
de poder fazer um trabalho profissional com os medios adequados.
Deve ser que hoje era o dia dos meus anos e que tinha saudades das minhas
revolucionarias Asturias. Promero nao chatear mais nos proximos meses.
Cumprimentos
Jorge Menéndez
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