Lista archport

Mensagem

Re: [Archport] ainda as ruínas romanas

To :   archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] ainda as ruínas romanas
From :   Presidente APA <presidente@aparqueologos.org>
Date :   Mon, 24 Mar 2008 23:44:49 +0000

Caros colegas,

dando uma achega ao evolucionismo multilinear, a direcção da APA encontrava-se a discutir os termos da carta a enviar ao Director do Correio da Manhã sobre a notícia dos achados de Valpaços quando o nosso colega António Valera escrevia a mensagem em que sugeria que a APA enviasse à imprensa um comunicado. E até calha bem, porque o citamos no texto enviado ao Correio da Manhã, já que nos pareceu que a imagem de alguém que decide operar um amigo só porque o sabe doente é tão elucidativa que não podia ser desperdiçada.

Gente que se faz passar por médico sem o ser sempre houve e provavelmente irá sempre haver. O tratamento que a comunicação social dá a essas notícias é que é particularmente diferente do que foi dado ao "investigador" de Valpaços. Se um falso médico é um charlatão porque é que um falso arqueólogo é um investigador?

Não é seguramente linear esta resposta, mas concordaremos todos que parte dela é "porque os media nos dizem quem são os charlatães e quem são os investigadores". 

O que importa nesta história, mais do que discutir o carácter do sujeito da notícia (que, intuitivamente, de facto não me parece dos mais recomendáveis), é a forma como a notícia é trazida a público e a (ir)responsabilidade de um jornal que banaliza e até valoriza um atentado ao património arqueológico. Por essa razão, a direcção da APA escreveu ao director do Correio da Manhã a mensagem que transcrevemos abaixo. Em função da resposta, ou da ausência dela, poderá haver um comunicado mais alargado sobre o tratamento das notícias relativas a achados fortuitos em geral e "caçadores de tesouros" em particular.

Seria injusto, contudo, meter todos os meios de comunicação social no mesmo saco. Não podemos esquecer que boa parte da visibilidade social que a actividade arqueológica teve nos últimos anos em Portugal se fica a dever à acção responsável dos media, nomeadamente através da imprensa escrita. Bom, mas tal como com os arqueólogos, na imprensa também há de tudo: há os de referência e os tablóides... 

Maria José de Almeida
Presidente da Direcção


Begin forwarded message:


From: Presidente APA <presidente@aparqueologos.org>
Date: 24 de março de 2008 22:46:25 GMT+00:00
Subject: Vestígios romanos em Valpaços

Ex.mo Sr. Director do Correio da Manhã 

Foi com alguma surpresa que vimos noticiar através do vosso jornal uma situação que configura uma violação às legislação aplicável ao património cultural como uma "descoberta arqueológica". Trata-se da notícia publicada na vossa edição on-line de 24-03-2008 assinada por Almeida Cardoso e intitulada "Vestígios romanos. Valpaços: descoberta na aldeia de Sanfins" 

A situação descrita parece indicar a existência de escavações levadas a cabo em local de interesse arqueológico por alguém que não é habilitado para o fazer e sem a necessária autorização pela entidade da tutela, podendo estar-se em presença de  destruição de património cultural e, seguramente, de informação de natureza arqueológica. O dever de qualquer cidadão que identifica testemunhos arqueológicos é dar conhecimento do achado às entidades competentes, seja neste caso os organismos de administração desconcentrada do Ministério da Cultura na região Norte ou as autoridades policiais, de modo a que esses testemunhos possam ser salvaguardados e tratados com métodos próprios da disciplina que lhe garantam a necessária contextualização e interpretação. 

Infelizmente, todos os anos, a acção de "caçadores de tesouros" e de curiosos mais ou menos bem intencionados é responsável  por perdas irreparáveis no nosso património arqueológico. A informação de natureza arqueológica é frágil e dificilmente sobrevive a quem "lança mãos à obra" sem a formação adequada e se preocupa apenas com a "descoberta" de muros ou objectos mais vistosos. 

Não questionando as intenções do protagonista da notícia, questionamos a responsabilidade de um órgão de comunicação social que divulga um atentado ao património como uma "descoberta", identificando o seu autor como "investigador" e deixando aos leitores a sensação que qualquer um de nós pode ir por esse país fora de pá e picareta delapidando um património que é de todos. Citando um colega arqueólogo numa lista de discussão da especialidade em que a vosssa notícia foi comentada, "já ninguém assumiria e noticiaria tão candidamente que alguém, sabendo de uma doença de um amigo, o resolvera operar e que, face ao tamanho do problema, agora pedia ajuda a especialistas." 

A Associação Profissional de Arqueólogos encontra-se à disposição do Correio da Manhã para esclarecer quaisquer dúvidas suscitadas sobre este caso em particular ou sobre o exercício da actividade arqueológica em Portugal. 

Com os melhores cumprimentos, 

A Direcção da APA

Mensagem anterior por data: Re: [Archport] E o que dizer desta situação Próxima mensagem por data: [Archport] Património Ferroviário
Mensagem anterior por assunto: [Archport] ainda as ruínas romanas Próxima mensagem por assunto: [Archport] Ainda é possivel fazer inscrições para participar no Congresso Internacional de Conservação, Turismo e Gestãao de Riscos, em Itália (projecto coordenado pelo IPT)