Espanta-me tanta ingenuidade e desconhecimento da realidade. Se o IGESPAR vai processar o homem por ter posto à vista os muros, então vai ter que processar metade dos proprietários do Alentejo que "involuntariamente" põem à vista objectos arqueológicos e ruínas. Assim como vai ter que processar muito mais gente que todos os dias cava em "sítios dos mouros" para ver se encontra algum tesouro.
Não é que a atitude do homem tenha desculpa. Não tem. Mas penso que não é assim que se resolvem as coisas. É preciso educar e sensibilizar as pessoas, tomar medidas eficazes para a protecção do património, em vez de punir. O que acontecer aquele homem remeterá para o silêncio dezenas de outras situações iguais a estas e que nunca mais serão do conhecimento público ou dos interessados que são os arqueólogos, dando cabal sentido à frase "Arrasa isso antes que apareça aí alguém e tenhas chatices".
Os antiquários estão repletos de materiais arqueológicos trazidos e vendidos por particulares, achados involuntaria ou propositadamente. O ex-IPA alguma vez tomou alguma medida para travar esse comércio ilícito? E os detectores de metais? Toda a gente compra detectores de metais. Quantos foram punidos por fazerem pesquisa ilegal em sítios arqueológicos? Existe uma lei que não tem aplicação prática. Onde está a fiscalização? No horário das 9 às 5, certamente que não conseguem apanhar nenhum.
Mas mais vale um pequeno peixe na rede, já que aos tubarões a tutela não se atreve a fazer frente. Quando se permite a destruição de um povoado calcolítico com 20 hectares, para passar uma estrada, e o único mau da fita é o arqueólogo já que a tutela está de acordo com o dono de obra, muito mal vai este país.