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[Archport] Os primeiros europeus

Subject :   [Archport] Os primeiros europeus
From :   marioruisr@sapo.pt
Date :   Wed, 26 Mar 2008 21:02:44 +0000

PÚBLICO


Escavações feitas em Burgos apresentam novos dados sobre chegada dos primeiros
aventureiros ao continente

Os primeiros europeus viveram na Península Ibérica há mais de um milhão de
anos

26.03.2008 - 19h20 Ana Gerschenfeld

Há mais de um milhão de anos, numa gruta na Serra de Atapuerca, no Norte de
Espanha, vivia um grupo de homens e mulheres primitivos. Tinham muita comida,
pois, naqueles tempos, o clima era bastante ameno e húmido na Península
Ibérica, e sabiam fabricar ferramentas de pedra muito simples, que lhes
permitiam cortar a carne e os ossos dos animais que caçavam. Tinham
provavelmente vindo do Médio Oriente através do Cáucaso, na fronteira entre
a Europa e a Ásia.

Juan Luis Arsuaga, co-director do projecto de investigação de Atapuerca, deu o
nome de Homo antecessor a esta espécie de homem primitivo - e especula que
eles foram os antepassados comuns à nossa espécie (Homo sapiens) e aos
Neandertais.

Na Europa, terão dado origem aos Neandertais (ramo que "secou" há 28 mil
anos), enquanto em África acabariam por desembocar no homem moderno, que mais
tarde sairia do seu "berço" africano e conquistaria o mundo. Um belo
relato, que embora seja compatível com os diversos restos fósseis que se
conhecem, ainda não foi totalmente confirmado.

Mas o que parece confirmar-se é que esses primeiros homens chegaram até à
extremidade ocidental da Europa bastante mais cedo do que se pensava. Até
aqui, os achados provenientes de Atapuerca, uma zona em escavação há 30
anos, apontavam para uma primeira instalação humana há cerca de 800 mil
anos. Mas agora, a descoberta de novos fósseis obrigou a rever a cronologia.

Hominíneos e hominídeos

O artigo publicado amanhã na revista Nature por Eudald Carbonell, Arsuaga e os
seus colegas do Centro Nacional de Pesquisa da Evolução Humana de Burgos e do
Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social de Tarragona, tem
um título tão simples quanto contundente: "O primeiro hominíneo de
Europa" (os hominíneos são uma sub-família dos hominídeos). Claro que os
investigadores não excluem que, no futuro, a data dessa primeira migração
possa ainda vir a recuar mais.

Mas, tanto quanto sabem, o maxilar inferior humano descoberto em 2007 na antiga
gruta de Sima del Elefante - e que vai ser apresentado publicamente amanhã,
por volta do meio-dia, em Burgos - faz deste local particular de Atapuerca
"o mais antigo e o mais precisamente datado registo de ocupação humana na
Europa". Sima del Elefante encontra-se a uns escassos duzentos metros da
jazida de Gran Dolina, onde, em 1994, foram descobertos os primeiros fósseis
de Homo antecessor (os tais com 800 mil anos de idade).

Três tipos de datação

Os investigadores espanhóis não olharam a meios para confirmar a idade do
maxilar. Utilizaram técnicas "baseadas no paleomagnetismo, bioestratigrafia
e nuclidos cosmogénicos", escrevem na Nature.

O estudo do paleomagnetismo permite fazer a datação a partir das variações,
ao longo do tempo, do campo magnético terrestre, que fica "registado" nos
minerais magnéticos contidos nos sedimentos. A bioestratigrafia permite
estudar a fauna enterrada nos sedimentos e fossilizada ao mesmo tempo que os
restos humanos (os cientistas analisaram os ossos de pequenos roedores
contemporâneos dos homens que ali viveram).

Quanto aos nuclidos cosmogénicos, trata-se de determinar as proporções de
diversos elementos radioactivos (alumínio e berílio, neste caso), produzidos
em partículas de quartzo que na altura se encontravam perto da superfície por
interacção com os raios cósmicos vindos do espaço.

Como esses grãos de quartzo foram a seguir soterrados, deixaram de ser
bombardeados pelos raios cósmicos - e a degradação radioactiva dos dois
elementos referidos deu-se a partir daí com uma precisão literalmente
atómica, constituindo um verdadeiro "cronómetro geológico" (expressão
dos autores).

Todas as técnicas de datação são convergentes e colocam a idade do maxilar
em um milhão e duzentos mil anos (mais ou menos 160 mil).

A morfologia do maxilar, dizem os investigadores em comunicado, "é primitiva
e faz lembrar a de fósseis africanos do Pleistoceno inferior [1,8 milhões a
800 mil anos atrás]". Mas também apresenta "muitas semelhanças com os
maxilares encontrados em Dmanisi" (no Cáucaso, que datam de há 1,7 milhões
de anos). Ou seja, tudo indica que, naquela altura, uma nova espécie (Homo
antecessor) terá surgido no extremo mais ocidental da Europa.




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