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From:
elena moran <
moran.elena@gmail.com>
Date: 2008/4/18
Subject: Alcalar_Povoado Calcolítico_Parcela L16
To:
Câmara de Portimão comemora Dia Internacional dos Monumentos e Sítios
deixando construtor de moradia entulhar sítio pré-histórico
classificado.
Curiosa forma, esta, de proteger a área envolvente de uma moradia em
construção no Povoado Calcolítico de Alcalar, cujo edital de
classificação (proposta como Monumento Nacional, atendendo à
relevância histórica deste património) foi recentemente publicitado...
O local vem sendo estudado sistematicamente desde há cerca de 11 anos
por uma equipa internacional de arqueólogos, com prospecções
geofísicas, escavações e estudos especializados no campo das
arqueociências, revelando um vasto espaço habitacional directamente
relacionado com a conhecida necrópole megalítica de Alcalar, cujos
túmulos monumentais, dispondo já de um centro interpretativo, integra
uma selecta e recentemente constituída rede europeia de sítios
megalíticos, juntamente com Stonehenge, Avebury, os monumentos do Vale
do Boinne (como Newgrange) e os alinhamentos de Carnac, entre outros.
Depois de, em pleno povoado calcolítico de Alcalar, uma obra de
demolição/renovação de uma antiga casa rural em ruínas ter sido
licenciada com apertadas condicionantes patrimoniais, que obrigavam a
uma intervenção de arqueologia preventiva, os antigos proprietários
vendeream o terreno, sem que o Instituto do Património ou a Câmara
Municipal de Portimão se disponibilizassem a exercer o seu direito de
preferência na aquisição.
Os novos proprietários promoveram a demolição da ruína da casa rural
até à cota de soleira (sem escavação) e a nova construção foi
levantada em aterrro (com o embasamento da construção coincidente com
a construção antiga e apoiado sobre o seu antigo pavimento), com
compactação mas sem alicerces escavados no terreno), pelo que a cota
de soleira da nova moradia ficou cerca de 0,8m elevada em relação à
anterior e sem danos para o património arqueológico, designadamente
para as numerosas pré existências do 3º milénio AC. Estas operações
foram efectuadas com o devido acompanhamento arqueológico e mediante
autorização concedida pela Autarquia para que a cota de soleira da
moradia e da área mais imediatamente envolvente pudesse ser alteada,
mantendo a mesma implantação planimétrica. Está igualmente assegurado
que as ligações das diversas infraestruturas às respectivas redes
públicas se façam com o devido acompanhamento arqueológico.
Numa recente reviravolta nestes procedimentos cautelares, os
arqueólogos responsáveis pelas investigações sistemáticas realizadas
no sítio, constataram, com surpresa e raiva, hoje, dia 18 de Abril, Dia
Internacional dos Monumentos e Sítios, que o empreiteiro procedeu,
durante a semana que agora finda, à deposição de entulhos (terra,
pedras, lixo...) sobre mais de metade da superfície da propriedade
rural, numa área com cerca de 50 x 50 metros, sem que nem a
fiscalização, nem a área de património cultural da Autarquia tivessem
impedido esta acção. A ocultação da superfície do terreno por baixo de
um espesso depósito de entulhos inviabiliza praticamente um futuro
alargamento da área já escavada nesta parcela. Mas, em contrapartida,
abre a possibilidade de os futuros usuários da nova moradia poderem
implantar uma área agradavelmente ajardinada, sem quaisquer
contingências do ponto de vista da arqueologia, dado que o espesso
manto de entulhos lhes assegura a almejada tranquilidade relativamente
aos «fundamentalistas» do património... Curiosa forma de proteger o
património arqueológico, perante a extraordinária inoperância, dos
serviços autárquicos! será falta de vontade? Ou é só desleixo?
Elena Morán e Rui Parreira
(Arqueólogos, autores de trabalhos de investigação sobre o Povoado
Calcolítico de Alcalar)