[Archport] "Destroços descobertos no Atlântico sul devem ser de barco português"
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Destroços descobertos no Atlântico sul devem ser de barco portuguêsPúblico, 04.05.2008, por Sérgio C. AndradeA descoberta de destroços daquilo que se presume seja uma caravela portuguesa do tempo dos Descobrimentos ao largo da Namíbia, no Atlântico sul, está a criar justificado alvoroço nos meios arqueológicos nacionais.
A notícia do achado foi ontem divulgada pela Lusa, que cita Lynette Gould, uma porta-voz em Londres da empresa sul-africana De Beers, especializada na mineração e comércio de diamantes. Foi uma equipa de geólogos que trabalhava para essa empresa que descobriu os destroços de madeira e, junto a eles, aquilo que se acredita seja parte da carga da embarcação, na qual estarão moedas e outras peças em ouro.
De imediato se pensou que a caravela em causa poderia ser aquela em que o navegador português Bartolomeu Dias (c. 1450-1500) naufragou, quando integrava a frota de Pedro Álvares Cabral e rumava à Índia, depois da descoberta do Brasil.
À Lusa, o arqueólogo Francisco Alves realçou a importância da descoberta, e a necessidade de investigações suplementares, mas considerou uma "perfeita especulação" acreditar-se que se trata da caravela de Bartolomeu Dias. "Como arqueólogo, penso que é uma grande descoberta. E tenho um palpite, muito alicerçado e com base em tudo o que veio ao de cima na Internet, de que efectivamente é um navio português" do século XVI, salientou o director da divisão de Arqueologia Náutica e Subaquática do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico.
Francisco Alves, que o P2 não conseguiu ontem contactar, sustentou a sua posição na análise de fotografias de moedas recuperadas do fundo do oceano, e que lhe parecem provadamente portuguesas. "A moeda que mostram, embora seja o reverso, foi identificada por um colega meu, Paulo Alexandre Monteiro. É indiscutivelmente uma moeda de D. João III [1502-1557], que foi cunhada a partir de Outubro de 1525". O arqueólogo acrescenta que a moeda de ouro em causa, com o valor facial de 10 cruzados, chamava-se "português" e era "uma das mais prestigiantes" da época.
Francisco Alves comentou também à Rádio Renascença que, "qualquer arqueólogo que se preze, é cauteloso antes da observação, e muitas vezes são mais as perguntas que ficam do que as respostas que dão estes achados". Mas acrescentou que este é um achado que deve ser acompanhado de perto e que se pode mostrar como "uma janela que se abre sobre o passado"
Já Lynette Gould disse à Lusa que a De Beers e o governo namibiano vão fornecer mais informações sobre o achado na semana que vem, e também que os governos de Portugal e de Espanha vão depois ser contactados para eventuais investigações conjuntas com o Conselho da Herança Nacional da Namíbia, que está a fazer o inventário do achado.
O assessor de imprensa do Ministério da Cultura, Rui Peças, disse que o governo português não foi ainda contactado oficialmente. "O que vamos fazer, em articulação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, é tomar todas as diligências junto da De Beers e do governo namibiano para saber o que se passa e o que está em causa", disse à Lusa."