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[Archport] Tesouros e preciosidades arqueológicas à “espera”: naus e navios afundados a poucas milhas da costa

To :   "archport archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Tesouros e preciosidades arqueológicas à “espera”: naus e navios afundados a poucas milhas da costa
From :   Alexandre <no.arame@gmail.com>
Date :   Sat, 17 May 2008 23:16:08 +0100

http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=14&id=95849&sdata=2008-05-11


Jornal da Madeira, 11-05-08

Tesouros e preciosidades arqueológicas à "espera"

Naus e navios afundados a poucas milhas da costa

Rui Carita, vice-reitor da Universidade da Madeira e historiador
madeirense, sublinha que grande parte dos navios em causa são de
piratas e corsários. Naus portuguesas e mesmo espanholas não passavam,
na vinda (quando estavam carregadas de tesouros), pela Madeira.
Optavam pelos Açores. Na ida sim, Funchal era porto obrigatório.
Há ainda navios ingleses e franceses, que faziam desta zona do
Atlântico cenários de muitas lutas.
Rui Carita diz que só há conhecimento oficial dos navios que vieram
dar à costa, vítimas de temporais. Os outros continuam afundados, à
espera que alguém os vá buscar.
O historiador diz que enquanto Portugal não tiver meios de garantir
que esses tesouros ficarão na sua posse, o melhor é não fazer qualquer
levantamento dos locais onde esses navios estão.
Porque a própria lei internacional ainda não definiu regras claras
para os salvados e para a propriedade dos tesouros. E lembra o que se
passa em torno do navio português "Frol de la Mar", de Afonso de
Albuquerque, afundado no Estreito de Malaca, por um temporal, após ter
pilhado um grande tesouro do Reino de Pego (actual Tailândia).
Neste momento, não se sabe bem a sua localização, mas as autoridades
da Tailândia alegam a sua posse, lembrando que o tesouro foi-lhes
roubado, Portugal também o quer, apontando para a propriedade do navio
e o então Reino da Batávia, hoje Indonésia, lembra que as águas são
suas. Recorde-se que, recentemente, Portugal foi contactado para
colaborar na identificação do espólio subaquático descoberto ao largo
da Namíbia, e que provavelmente era transportado por um navio
português, naufragado no século XVI.
Para além disso, lembra Rui Carita, há ainda as empresas de salvados,
com meios melhores do que os estados e sem sujeitos aos seus
condicionalismos legais.
«Dizer onde estão as naus era meio caminho andado para termos essa
gente por aí, a levar tudo» — avisa.
O historia lembra o que se passou em 1974, com o célebre navio
holandês "Slot ter Hooge", quando o caçador de tesouros Robert Sténuit
conseguiu autorização dos governos holandês e português para levantar
o que estava do espólio do navio.
O "Slot", lembre-se, voltava em 1724 das "Índias Orientais
Holandesas", com um carregamento de prata de 1.500 barras de oito
pesos de Amesterdam.
Ao largo do Porto Santo, com 254 homens a bordo, enfrentou uma
tempestade, afundando-se. Escaparam 33 tripulantes. Um ano depois, uma
equipa inglesa levantaria 346 barras. Voltaria em 1733 e 1734, com
modestos resultados.
Em 1974, Robert Sténuit procedeu ao levantamento de todo o material. A
Madeira protestou e — Rui Carita era então responsável pelo Museu das
Cruzes — o carregamento final ficou bloqueado, na Alfândega. Mas,
devido à autorização dada pelo estado português — «era depois do 25 de
Abril e vivia-se numa quase anarquia» — o explorador conseguiu ganhar
o caso em Tribunal. Como compensação deu à Madeira dez por cento desse
último carregamento, hoje exposto no Museu Colombo, no Porto Santo. A
Região entretanto, chegou a comprar mais algumas peças (barras e
moedas de ouro) no mercado internacional e juntou ao espólio, onde
também está incluído um canhão.
Rui Carita diz que, para além das naus, há ainda o caso do
contra-torpedeiro "Vouga" (abalroado, por acidente, por um outro navio
português, em 1931, aquando do cerco da Armada portuguesa à Madeira,
devido à revolta da Madeira), que está afundado a 300 metros de
profundidade, no mar da Travessa, perto da costa.
Depois, há ainda a juntar naus e navios vítimas das aluviões, que
deram à costa, como é o caso dos portugueses "Novo Beijinho" e "Dart",
em 1842. Em 1803 afundaram-se duas galeras norte-americanas, nas
proximidades da Pontinha (estima-se que também com tesouros a bordo).
O historiador lembra ainda o caso de um outro navio afundado nas
proximidades do Porto Santo, no século XIX. De tesouros nada resta,
mas lá continuam quatro ou cinco canhões de grande valor arqueológico.
Um deles terá sido retirado por um privado e colocado numa casa, no
Caniçal. No entanto, já foi devolvido ao mar, devido à publicidade em
torno do acto.
Enfim, Rui Carita diz que não há relatos oficiais, mas há conhecimento
de destroços que chegaram a terra, com sinais claros de luta entre
mais do que um navio. E estima em largas dezenas os navios afundados
nas águas madeirenses. E, alvitra, muitos deles com tesouros a bordo.


Miguel Angelo


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