[Archport] Generalização dos mestrados e doutoramentos
Prezados archportianos e estimado Sr. Rui Cabral:
Até ao 25 de Abril (com algumas reminiscências "pós-revolucionárias"),
também se primava muito por uma grande qualidade do Ensino... para
alguns!
Creio ser escusado falar em percentagens e números quanto ao
analfabetismo e/ou iliteracia daqueles tempos. Mas - pasme-se! -
trabalho não faltava... numa agricultura digna de Antigo Regime, numa
indústria precária, nas fileiras das Forças Armadas rumo ao Ultramar
ou no estrangeiro, em serviços que nos deviam corar de vergonha, a
nós, os que nascemos em liberdade. Mas "nesse tempo é que era bom!",
dirão alguns...
Que hoje em dia se exagera em trazer à discussão tanta estatística,
com fins supostamente propagandísticos, não duvido. Mas uma coisa é
certa: prefiro que esses números sejam por razões justas e válidas - a
maior qualificação da generalidade dos cidadãos portugueses - do que
com aspectos mais tristes e reprováveis. Falar-me-á de desemprego, já
sei... Pois bem, se é verdade que muitas pessoas qualificadas têm
grande dificuldade em encontrar trabalho na sua área, não posso
afiançar que as menos qualificadas não tenham. Antes pelo contrário!
Tudo aponta para que, no novo modelo económico que prevalece hoje em
dia (não ponhamos a cabeça na areia: ele está aí para ficar, e há que
nos adaptar a ele), quem ousar ter melhores condições de vida
(materiais e intangíveis), tem de apostar na sua qualificação e tentar
ir o mais longe possível. E eu falo por mim: nunca precisei da
"cenoura e chicote" de qualquer empresa para fazer um esforço
acrescido de valorização académica e profissional.
Também falou das dissertações e teses feitas "por arrastamento" e
supostamente de qualidade duvidosa ou sem aplicabilidade real no mundo
académico ou do trabalho, ou mesmo fruto de vaidades pessoais...
Quanto a isso, nenhum de nós pode fazer juizos de valor quanto ao que
cada um pretende fazer com esse produto intelectual! E também não sou
eu que lhe posso garantir se um trabalho tem qualidade ou não!
Uma coisa é certa: não se pode desculpabilizar os autores, criticando
o "sistema" que aprova esses trabalhos. Até ver, cada um é livre de
escolher o tema que quiser, se o achar pertinente. Mal era se houvesse
uma "Real Mesa Censória" que nos guiasse doutamente sobre que temas
investigar, como investigar, e com que finalidades. A sociedade (e,
dentro desta, o inevitável mercado) fará o aproveitamento que julgar
oportuno!
Referiu, de igual modo, a "visão economicista" das faculdades. Não sei
se anda a par da grande reformulação por que o Ensino Superior público
está a passar, e não falo apenas de Bolonha. Trata-se do RJIES (Regime
Jurídico das Instituições de Ensino Superior) que, para além de alguns
aspectos que podem ser considerados negativos (inerentes a qualquer
"pedrada no charco"), faz com que, muito resumidamente, cada faculdade
tenha de se começar a reger pelos seus próprios meios.
Para atenuar os graves e históricos problemas orçamentais, as
faculdades (em especial as de Letras, sempre tão indiferentes ao que a
sociedade necessita em termos de áreas de conhecimento e, sobretudo,
de formação), terão de começar a criar meios de se afirmar e mesmo de
sobreviver! Em bom português, terão de começar a saber "vender o seu
peixe", como até aqui já faziam, muito inteligentemente, algumas
outras (em especial as de Engenharia). Neste âmbito, inserem-se os
planos de estudos dos 2.º e 3.º ciclos de Bolonha. Mas também falo na
prestação de serviços (no nosso caso, na Arqueologia, Museologia e
Património), de forma HONESTA, LEGAL e dentro do espírito de SÃ
COMPETITIVIDADE, a par do sector privado.
Por outro lado, também não me apercebi, até ao momento, que as
faculdades andassem a puxar as orelhinhas às pessoas e,
particularmente, aos recém-licenciados, para se inscreverem naqueles
cursos...
Apenas mais um pormenor: vivemos - feliz e/ou infelizmente - num mundo
globalizado (passe o pleonasmo). O povo português, que "deu novos
mundos ao mundo" durante séculos, não pode, paradoxalmente, continuar
a carpir as suas mágoas sobre a falta de emprego no seu país, na sua
cidade-natal, no seu quarteirão, no seu sofá.... Temos, como povo,
aque aprender a competir no terreno dos outros, porque é isso que
esses outros já começaram, desde há muito, a fazer. Já tantos
portugueses o começaram a fazer, e com pleno sucesso!
Sucesso é também o que lhe desejo a si e a todos os leitores,
independentemente de tirarem mestrados ou doutoramentos.
Cordiais saudações!
Carlos Delgado
----- Mensagem de ruiluzescabral@iol.pt ---------
Data: Sat, 24 May 2008 19:01:41 +0100
De: Rui Luzes Cabral <ruiluzescabral@iol.pt>
Assunto: [Archport] A Carlos Filipe Santos Delgado
Para: ": Archport Arqueologia" <archport@ci.uc.pt>
Ora Viva
O que é que isso tem a ver com o que escrevi? É o que conta menos para
a análise sobre a minha opinião.
Não pense que escrevi isto só porque ainda não tenho nenhum destes
estudos pois hoje em dia é mais fácil tirar um mestrado do que
arranjar emprego.
Posso lhe dizer que não sou ciumento de quem tem, e se algum dia o
tiver não é isso que me vai fazer mais ou menos feliz.
Mas deve ter percebido mal o meu texto. Eu só pretendi alertar para o
estado da educação nessa área.
Já agora fica aqui o compromisso: Se algum dia tirar um Mestrado
voltarei à carga. Se calhar depois já poderei ser ainda mais critico.
Ah! E não se esqueça que no meu texto referi que existiam excepções,
felizmente.
Cumprimentos
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----- Fim da mensagem de ruiluzescabral@iol.pt -----
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