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[Archport] Mértola: à vista vestígios das épocas romana e paleocristã

To :   "archport archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Mértola: à vista vestígios das épocas romana e paleocristã
From :   Alexandre <no.arame@gmail.com>
Date :   Sun, 25 May 2008 16:40:00 +0100

PÚBLICO, 25 de Maio de 2008 - 16h38



Instalação de esgotos em Mértola põe à vista vestígios das épocas
romana e paleocristã

Por Carlos Dias


Trinta sepulturas ocupadas com esqueletos, vasos de cinzas em vidro e
uma necrópole de incineração estão entre os achados já recolhidos no
local

a A necessidade de instalar uma rede de esgotos no eixo comercial de
Mértola obrigou a abrir valas que puseram a descoberto diversos
vestígios arqueológicos, que os especialistas dizem conter "muitas
novidades".

Qualquer intervenção no solo realizada no centro histórico de Mértola
suscita sempre expectativas sobre o aparecimento de sinais dos
diferentes períodos históricos que marcaram a vila erguida na margem
direita do rio Guadiana. Por ela passaram e viveram, durante longos
períodos, fenícios, cartagineses, romanos, visigodos e muçulmanos.

As obras na rede esgotos iniciaram-se na Rua Alves Redol, local onde
foram descobertas estruturas e cerâmicas da época romana e alicerces
de um torreão do castelo de Mértola, desenhado por Duarte d"Armas no
princípio do século XVI.

Uma intervenção realizada na mesma rua em 2002 já tinha exposto alguns
vestígios arqueológicos. Agora foi trazida à luz do dia "uma necrópole
de incineração com muitas novidades", explicou ao PÚBLICO António
Virgílio, investigador do Campo Arqueológico de Mértola (CAM),
destacando o aparecimento de vasos de vidro onde estavam
acondicionadas cinzas de corpos incinerados. "Penso ser a primeira vez
que um objecto destes é recuperado em território nacional" admite o
arqueólogo.

Da necrópole de incineração foram recuperados vestígios do sítio onde
eram colocadas as urnas e do local onde se queimavam os cadáveres.
"Recolhemos restos de incinerações", salienta António Virgílio para
frisar que os arqueólogos tinham notícias da necrópole de incineração
mas que esta ainda não tinha sido localizada. Na Rua Serrão Martins,
próximo do Cine-teatro Marques Duque, foram também encontradas mais de
30 sepulturas datadas do período paleocristão. O cine-teatro, que já
foi capela de pescadores, poderia ter tido nas proximidades um templo
paleocristão à volta do qual se enterravam os mortos.

Há documentos que confirmam o testemunho de Estácio da Veiga, o pai da
arqueologia portuguesa que em meados do século XIX "assistiu à
abertura da estrada real que ligava Mértola a Beja e passava junto ao
actual cine-teatro e viu lápides e túmulos", nota António Virgílio.

Agora foram identificadas 30 sepulturas ainda em bom estado de
conservação, com lajes de cobertura e esqueletos. Muitas são de
crianças, eventuais vítimas de um foco de peste. Os corpos
encontram-se enterrados numa posição nascente/poente, em função do
juízo final em que os mortos se erguem e ficam virados para Jerusalém.

"O saber viver ao lado dos outros e entender as suas culturas sem a
tentação de as assimilar" é "a grande mensagem do mundo mediterrânico"
que a pesquisa arqueológica tem revelado em Mértola, referiu o
arqueólogo Cláudio Torres, responsável pelo CAM.


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