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[Archport] Desabafo - arqueologia num outro ponto de vista

Subject :   [Archport] Desabafo - arqueologia num outro ponto de vista
From :   hst.arq@sapo.pt
Date :   Mon, 26 May 2008 22:22:53 +0100


Olá,

Acedo à lista archport desde 2003 e estou a intervir pela 1ª vez.
Conheço muitos dos contribuidores desta lista através dos e-mails que recebo e leio diariamente e pelas intervenções e debates que tenho vindo, atentamente, a "assistir". Aproveito para felicitar as intervenções do Professor José d? Encarnação cujo papel de moderador muito tem contribuído, de forma positiva, para esta lista.

Já estive várias vezes para dar a minha opinião em vários temas e assuntos que ao longo destes anos têm vindo a ser divulgados e debatidos nesta lista, cujo papel informativo e de espaço para troca de opiniões tão importante revelou ser, mas por várias razões nunca o realizei e agora penso que é oportuno.

Já muito me ri com as intervenções publicadas na archport, tal como outras emoções mais tristes me ocorreram, tal como a estupefacção, incredulidade e a desilusão.

Sim, sou uma dessas pessoas que, por vezes, são referidas na lista como não detentoras de formação de base em arqueologia e trabalharam na área. Também estou inscrita como arqueóloga na base de dados do IPA devido a vários trabalhos que realizei e não sou arqueóloga de formação.

Efectivamente, trabalhei em várias empresas, mesmo antes de concluir a minha licenciatura e, realizei desde escavações a acompanhamentos terrestres e de dragagens (também faço mergulho).

Considero-me, de formação e pela experiência adquirida, bastante polivalente e penso que a pluridisciplinaridade é uma mais-valia profissional. Já realizei escavações, acompanhamentos, trabalhos topográficos associados, desenhos de estruturas, trabalhos de laboratório tal como tratamento materiais, desenho de peças e conservação e restauro (sim, também tenho formação na área).

Fiz um hiato no meu percurso porque para além ser solicitada várias vezes para estar à frente de trabalhos arqueológicos (que acabei por estar na prática), não achava correcto (legalmente), tomar o lugar de um arqueólogo quando efectivamente não o era.

Mas essa, é a minha consciência pessoal.

O meu percurso na área que tanto estimo, a arqueologia, correu bastante bem, ainda sou bastante contactada para realizar trabalhos, talvez como resultado da dedicação, motivação e preocupação na aplicação das melhores metodologias aos diversos contextos arqueológicos. Devo dizer que esta área me está, efectivamente, no sangue.

Existe, porém, uma contrariedade: a desilusão que tenho em relação à forma como esta comunidade interage e se posiciona perante os problemas o que, lamento dizer, por vezes me envergonha.

Analisando, desprendidamente e com algum distanciamento os debates desta lista, devo dizer que se fizeram progressos em várias vertentes através de diálogos construtivos que aqui se mantiveram ao longo destes anos, no entanto, é algo recorrente a intromissão de querelas pessoais e, por vezes, discussões que em nada dignificam esta comunidade.


O meu desabafo, que não resulta de uma arqueóloga de formação, talvez não tenha (a vosso ver), o mesmo valor de um arqueólogo/a (é um facto), até porque sei que existe uma grande demarcação entre o arqueólogo de base e o arqueólogo formado à posteriori, que será olhado para sempre ao longo da sua carreira com certa "desconfiança".

Podemos dar como exemplo, os vários arqueólogos que leccionam em universidades portuguesas (trabalhei com alguns deles), cuja a formação de base não foi a arqueologia e, ocorre com frequência, as suas opções de escavação serem questionadas e postas em causa tendo em conta essa premissa. Isso acontece, mesmo que seja por um aluno do 1ª ano de arqueologia a escavar pela 1ªa vez e que sabe o "segredo" de que afinal o Prof. não é arqueólogo de raiz (isto é bastante cómico, e decerto que levo estes assuntos com bastante leveza). Não se deve, porém, deixar passar erros crassos mas posturas destas... (penso que o problema se inicia na própria universidade).

Neste momento a "Vossa" comunidade está tão fechada que já me aconteceu pretender tirar uma formação cuja ocorrência e oferta é escassa, e ser barrada a minha participação por não ser arqueóloga, apesar do currículo (licenciatura em área afim). Sinceramente não fico incomodada porque sei como funciona a área e contorno as situações de outra forma...

Neste momento, por exemplo, pretendo fazer uma especialização específica na área e vou no final do ano para fora do país para adquirir conhecimentos que me são negados cá, isto, porque ainda não conclui o mestrado em arqueologia (que, penso eu, me poderá resolver o problema, ou não...).

Espero, com este e-mail, não ter afectado a susceptibilidade e melindrado ninguém devido à minha confissão de intrusão na "Vossa área" que tanto pretendem proteger ( e devem faze-lo de forma organizada e saudável).

Só a consciência e postura aberta de que a arqueologia só pode evoluir e enriquecer através pluridisciplinaidade e a conjugação de saberes, poderá fazer a diferença.

Podemos por isso afirmar: "cada um no seu lugar". Existem arqueólogos sem vocação a fazer asneiras (umas mais conscientes que outras), é um facto. Os bons profissionais não se vêm pela formação de base mas por uma avaliação das suas competências profissionais e científicas e de trabalho no terreno.

Enfim, fosse este o único problema na arqueologia portuguesa. Urgem assuntos mais emergentes, tratem desses primeiro.

Agradeço a V. atenção e tempo dispensados.
Carla


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