Re: [Archport] Sobre a notícia (ou falta dela no início da descoberta) do navio naufragado na Namíbia
Para uma compilação dos artigos que têm saído na imprensa (inclusivé,
a namibiana e a nacional - Correio da Manhã, Público, DN), ver aqui:
http://www.forum-mergulho.com/t13080.html
e aqui:
http://www.forum-mergulho.com/t13080.html&st=20
Quanto à teoria da "caravela" ser a do Bartolomeu Dias... não passa
de uma fantasia. Embora fazer arqueologia pela internet seja pura
especulação, o que está em jogo pede pés no chão e algum espírito
crítico. Ora, moedas em ouro, moedas em prata, marfim, cobre… que
pistas nos apontam?
1) Quanto à carga em geral… relata um veneziano que, no incêndio da
nau capitania Nunciada, prestes a partir para a Índia em Abril de
1504, salvaram-se apenas 700 ou 800 cantari de cobre e 300 cantari de
chumbo, que iriam ser trocados por mercadorias indianas. Nessa nau
teriam sido carregados 2800 cantari de cobre a 12 ducados o cantar,
6500 onças de coral a 1 ducado a onça, 500 cantari de chumbo a 6
ducados o cantar, 300 cantari de cinábrio e outros tantos de mercúrio,
respectivamente a 20 e a 18 ducados o cantar.
Diz o Godinho que as naus do reino partem de Lisboa com espécies de
ouro e prata e metais preciosos, e com carga em que predomina o cobre
– no primeiro decénio uns 4.000 quintais,, a partir de 1515 uns 6.000;
seguem-se o chumbo, o mercúrio, o cinábrio, o estanho (que
posteriormente passará a ser importado da Índia, tudo pesando em
conjunto 1.000 a 1.500 quintais. O alúmen e o coral entram com algumas
centenas de quintais, vindo depois o vinho e o azeite, destinados
principalmente aos consumidores portugueses. A destacar também o
comércio dos têxteis: escarlatas de Veneza, Florença e Valência, rasos
florentinos, veludos de Génova, damascos de Lucca, calças de seda
napolitana e toledana, acolchoados de Nápoles, tafetás de Toledo,
panos de seda e luvas de Valência, panos finos de cor, ingleses,
neerdelandeses e castelhanos, sarjas flamengas e chapéus.
Carregar-se-ia igualmente quinquilharia alemã, flamenga e portuguesa,
espelhos venezianos, armas, papel e livros (a avaliação da carga de
cada nau andava à volta de 50 a 60.000 cruzados, valendo no Índico
cerca de duas vezes e meia o que valia à partida do Reino).
A partir de 1504, as remessas de metais preciosos, ouro e prata,
entregues pela casa da Moeda à Casa da Índia para serem levadas nos
cofres das naus do Reino atingiam anualmente montantes entre os 30 mil
e os 80 mil cruzados. Anos há em que os valores eram mais elevados:
100.000 cruzados em 1524, 200.000 em 1528 e 135.000 em 1533. A estes
valores acresciam as avultadas somas, tanto em ouro como em prata,
entregues pelos particulares à mesma Casa da Moeda para cunhagem,
sendo essa amoedação posteriormente entregue às mesmas armadas.
O cobre fazia igualmente a mesma viagem pelo Cabo até Cochim ou outra
cidade malabar ou canari, onde todos os anos eram fundidos 1500 a 1600
quintais em bazarucos ou sapecas, alimentando igualmente a amoedação
de reinos indianos e abastecendo as fundições de artilharia. Assim, de
Lisboa seguiam anualmente uns 4000 quintais de cobre até 1515, sendo
depois em média embarcados cerca de 6000 quintais, representando cerca
de 48000 a 72000 cruzados: a sua contribuição correspondia à das
espécies e metais precisos. Ao todo, os envios de moedas e metais
amoedáveis oscilava entre 80000 e 150000 cruzados.
Os mecanismos monetários da rota do Cabo foram sustentados durante
mais de meio século pelo ouro da Mina e da Guiné, por um lado, e pela
prata alemã, balcânica e tirolesa, por outro, escoando-se esta por
Antuérpia para Lisboa. Se as remessas do ouro estavam em mãos
portuguesas, a prata era controlada por alemães, flamengos, franceses,
italianos e burgaleses (a pimenta comprava-se entre 2 ½ e 2 2/3
cruzados o quintal, sendo um quarto pago em cobre e ¾ em xerafins ou
zechinnis de ouro).
Seria um navio do tráfego da Mina e que se perdeu para sul da sua rota?
Duvido. Para além de não se explicar as moedas em ouro e prata, o
cobre em lingote não encaixa. É que, na Mina, o que se usava era o
cobre trabalhado (bacios machos, bacias de urinar, bacias de barbeiro,
caldeiras de aro e manilhas) com milhões de manilhas provenientes da
Alemanha e da Flandres a inundar os povos da Costa da Mina e do
interior.
Na zona da Mina, à excepção dos escravos e dos coris, resgatados no
delta do Níger e recebidos por intermédio da ilha de São Tomé, tudo o
mais vinha de Lisboa, da Casa da Mina com três grandes sectores de
mercadorias a alimentar o comércio do ouro: vestuários e tecidos
(40%); objectos de cobre e latão (37%); coral, coris e cauris,
contarias para enfeites e vinho (13%). Os vestuários eram recebidos em
Lisboa do Magrebe (alambéis e aljaravias) e do Norte da Europa
(tecidos finos em linho de Rouen). O cobre vinha da feitoria de
Antuérpia. Famílias de grandes mercadores, como os Schezs, possuidores
das minas de calamina do Limburg, ou os Fugger, que lhes faziam
concorrência com o cobre da Turíngia, da Hungria, do Tirol e da
Caríntia, eram os grandes fornecedores do rei de Portugal, pelo
sistema de contratos.
2) Quanto às moedas de ouro… a que aparece na foto publicitada em
primeiro lugar e outras que posteriormente me foram disponibilizadas,
é uma moeda de 10 cruzados, um português de D. João III. Há-os de 2
tipos: o primeiro, cunhado em Lisboa e no Porto, apresenta a Cruz de
Cristo encimada, sem cordão. O segundo tipo foi cunhado entre Outubro
de 1525 e 29 de Novembro de 1538, nas casa da moeda de Lisboa e do
Porto. As deste naufrágio são do segundo tipo.
É para a viagem de Vasco da Gama que D. Manuel I manda lavrar os
"Portugueses", a moeda que foi, durante os 70 anos seguintes, a maior
e mais pesada moeda de ouro europeia. Cada Português pesava cerca de
35.5 grama e valia 10 cruzados de ouro (3900 reais). Apresentavam no
anverso o nome e títulos do monarca, numa extensa legenda latina,
envolvendo as armas de Portugal: Manuel I, rei de Portugal e dos
Algarves, daquem e além mar em África, Senhor da Guiné, da conquista e
navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. No centro,
figurava a cruz de Cristo. Na orla, surgia pela primeira vez a legenda
"In Hoc Signo Vinces" (e que vai figurar no reverso das moedas
portuguesa até 1837, sempre que a cruz aparece).
O português foi, claramente, uma moeda de propaganda de D. Manuel I,
tendo sido imitado, na forma e na decoração, por outros países e
cidades-estado até pelo menos 1614 (Zwolle, Hamburgo, Lubeck, Dresden,
Daventer, Bremen, Magdeburgo, Polónia, Suécia e Dinamarca) – são os
portugalösers ou portugalóides. Sendo moedas muito apreciadas pelo seu
peso e toque (24 quilates), os portugueses eram permanentemente
drenados para o comércio internacional, constituindo grande causa de
perda para o Reino que, em retorno, recebia numerário de alto valor
nominal e baixo valor intrínseco (22 quilates). Tal facto levou a
queixas em cortes, em 1525 e 1535, sendo a cunhagem dos portugueses
proibida a 29 de Novembro de 1538.
3) Quanto ao local do naufrágio: não me parece que a costa fosse muito
frequentada, depois do Bartolomeu Dias por lá ter passado, na Angra
das Voltas até porque em 1520 no regimento dado por D. Manuel a Manuel
Pacheco e Baltasar de Castro, que foram descobrir o reino de Angola,
diz-se que "fareis vossa via caminho do cabo da Boa Esperança pela
costa ao longo, descobrindo e sabendo o que nas ditas terras há: e
assim mesmo o fareis, posto que se o dito rei [do Congo que enviara a
D. Manuel duas manilhas em prata do N´gola] faça cristão,
parecendo-vos que é bem e nosso serviço, porque de feito o é saber o
que há em toda a dita costa. Onde quer que achardes que há ouro, prata
ou quaisquer outros metais, fareis por saber a localização deles e a
valia que têm, e as mercadorias por que os trocam; e assim do marfim
que soma se poderá tirar de cada uma dessas partes, e se o há na mesma
terra ou onde, e por que o trocam. e todo poreis em memorial; e,
quanto a coisa valer mais e for cá estimada, tanto menos lhes dareis a
entender que a estimais para não encarecerem. Posto que vos aqui
dizemos que comeceis de fazer o dito descobrimento de Angola para o
cabo da Boa Esperança, e dele pela costa em diante até Angola vireis
fazendo o dito descobrimento na sobredita maneira."
Poderia isso sim, ter sido navio arrastado para Norte aquando da volta
do Cabo. No regimento da nau São Pantaleão escreve-se que "vos poreis
na altura do cabo de Boa Sperança que esta em trinta e quatro graos e
meio e por elle hireis sempre correndo te serdes fora das ilhas de
Tristtãod a Cunha e como fordes fora das ditas ilhas correreis por
trinta e cinco graos te verdes terra (…) E nao fareis muito caso do
vento sul parecendo vos que dando vos também rijo achando vos em pouca
altura já perto do Cabo da Boa sperança vos lançará ao norte delle e
não será boa navegação porque alem de ser vento de estrupada que dura
pouco hé vento que mui poucas vezes venta ahu e logo acode ao
noroeste. Já o Duarte Pacheco Pereira chama a atenção para apenas se
meter a nordeste quarta do norte quando se estiver a 37º S e não
antes, porque se corre o risco de errar o Cabo e voltar para a costa
da Guiné.
O Linschoten, por exemplo, escreve que "a 11 de Julho, o nosso piloto
fez a estimativa de que estávamos a uma s 50 léguas larga do Cabo da
Boa Esperança, pelo que o Arcebispo solicitou que se rumasse a terra,
para poder ver o Cabo. O tempo estava enevoado, e tendo rumado a terra
durante uma hora ou mais, avistámos terra mesmo em frente a nós, a uma
distância de menos de duas léguas, não a tendo podido avistar antes,
por estar encoberta pela escuridão e nevoeiro, o que nos causou muito
espanto porque a nossa estimativa tinha sido diferente - E, começando
o tempo a limpar, reconhecemos a terra, que era a ponta chamada cabo
Falso e o banco Parcel ou bancos da mesma Ponta, que ficam a cerca de
15 léguas para além do Cabo da Boa Esperança, em direcção a
Moçambique".
O comandante Malhão Pereira, comentando o roteiro do piloto Gaspar
Manuel, nota que este sugere ganhar latitude, até aos 35º 1/3 sul,
devendo pelo menos a 250 léguas do Cabo já estar nessa altura,
evitando assim que um erro de estima provoque uma aterragem na costa
oeste africana a norte do Cabo, visto a distância entre a costa da
América do Sul e o Cabo "ser na realidade mais curta do que se acha
nos mapas e cartas."
4) Quanto à questão do marfim: o comércio de marfim era dos mais
rentáveis, com as presas trazidas até Goa a ser armazenadas na casa de
Manuel Moraes donde eram levadas até Cambaia, Surate e outros locais
do Guzarate, onde os artesãos locais as processavam e as transformavam
em estatuária, adornos e decorações embutidas.
Embora existissem igualmente elefantes na Índia, o seu marfim era de
inferior qualidade, relativamente ao proveniente de África. Este
último, para além de ter uma cor mais apreciada, era de superior
dureza, mais capaz de ser finamente polido e, sendo de maior dimensão
a presa, mais apropriado para a manufactura de estatuária. As melhores
presas provinham de Moçambique e de Zanzibar mas também se trocava-se
na costa ocidental africana - no livro da nau Conceição, de 1522,
escreve-se que levava para o rio dos Forcados (Benim) manilhas em
cobre (4000), panos de linho, cauris (15 quintais, 2 arrobas e dois
arráteis), barretes vermelhos "e sereys avisado de resgatardes todo
marfim que vos vier, ajamda que sejaa meudo". Comprou o piloto 19
dentes por troca com 261 manilhas de cobre e tudo levou para Lisboa.
Resumindo e sintetizando: neste momento, dadas as informações
disponiveis, tudo leva a crer que este naufrágio na Namibia seja o de
um navio português que ia para a Índia e que terá naufragado entre
1526 e 1540. Se eu quisesse mesmo ser um jogador - coisa que ninguém
neste ramo deverá ser - até diria que apostaria no São João, navio de
Francisco de Noronha da frota de 1533. Mas é claro que o não faço. O
que faço é ficar aberto a outras sugestões ou hipóteses! :)
Alexandre Monteiro
http://www.alexandre-monteiro.blogspot.com/
2008/6/11 Deana Barroqueiro <d.barroqueiro@netcabo.pt>:
> De uma escritora que vai publicar em Outubro um romance histórico sobre
> Bartolomeu Dias e a sua passagem por esse lugar onde deixou uma das mulheres
> que levava para "lançar" nos sítios "novamente descobertos"
>
>
> O país em que vivo não é o país com que sonho
>
>
>
> No dia 1 de Maio, as principais cadeias de televisão e os mais
> diversos jornais dos Estados Unidos, do Canadá e de muitas outras nações do
> mundo, exultaram com um espantoso achado arqueológico, de interesse mundial,
> com particular relevo para Portugal cujos media, no entanto, mantiveram
> silêncio total sobre o assunto. Na Namíbia fora descoberto um navio,
> possivelmente português, com mais de 500 anos e um incalculável tesouro
> entre os seus destroços.
>
> Quando procediam à exploração mineira de diamantes, depois de drenarem e
> isolarem uma área da orla atlântica, com a construção de um muro de terra
> para manter afastado o oceano, elementos da companhia Namdeb Diamod Corp.,
> num projecto de parceria com o governo da África do Sul, encontraram os
> restos de um navio português ou espanhol dos finais do Século XV ou inícios
> do XVI, com um espólio fabuloso composto por 2500 de moedas de ouro e prata
> portuguesas e espanholas, toneladas de lingotes de cobre e de latão,
> cinquenta dentes de elefante, dez canhões, inúmeros artefactos de mesa em
> estanho, instrumentos de navegação marítima, armas e vestígios humanos.
>
> Enviou-me a notícia Fernando Santos, o editor do Jornal Luso-Americano, de
> Newark, por nela vir mencionada a hipótese de ser a caravela de Bartolomeu
> Dias que naufragou na zona do Cabo, no ano de 1500. Sabendo que este
> navegador é a personagem principal do meu romance "O Capitão do Fim" (já no
> prelo, com publicação prevista para antes do Natal) e também o herói de um
> anterior romance de aventuras publicado em 2002, Fernando Santos não duvidou
> de que esta seria uma notícia de grande interesse para mim.
>
> Não se enganava, de facto e, cuidando eu que haveria de ser
> ainda mais interessante para os media de Portugal, lancei-me imediatamente
> em busca de notícias nas nossas cadeias de televisão e nos jornais, dado que
> Hilifa Mbako, o porta-voz da Namdeb, assim como Dieter Noli e Bruno Werz, os
> cientistas encarregues da descoberta, referiam que os governos de Portugal e
> de Espanha tinham sido informados e iam enviar um grupo de peritos à
> Namíbia.
>
> Todavia, para minha grande surpresa, nem nesse dia nem nos que se seguiram,
> logrei encontrar sequer uma breve menção ao espantoso achado na televisão,
> com todos os canais a "esticarem" ou a repetirem, durante uma interminável
> hora, as requentadas notícias dos dias anteriores, os conflitos dos barões
> do PSD, o estafado "caso Maddie" ou o acidente da velhinha que foi mordida
> por um cão! Para os nossos media, mergulhados em sucessos de tão
> incomensurável peso e relevância como os mencionados, que importância pode
> ter a descoberta longínqua desses vestígios do passado, pese embora o
> incalculável tesouro ali sepulto e provável pertença dos portugueses de
> Quinhentos? Nenhuma, pelo que pude ver.
>
> Prossegui a busca na Internet e li em muitos jornais que, pelas primeiras
> observações, se trata de uma descoberta de interesse global, por ser este o
> navio mais antigo de todos os que até hoje se encontraram de naufrágios
> desse período da nossa História. No entanto, pela pesquisa de mais de quinze
> anos que venho fazendo sobre os Descobrimentos – a matéria dos meus romances
> –, não me parece que possa ser a caravela de Bartolomeu Dias, como de início
> foi anunciado, nem as embarcações dos capitães Aires Gomes da Silva, Simão
> de Pina e Vasco de Ataíde, naufragados ao mesmo tempo junto do Cabo da Boa
> Esperança, além de outras razões, pelos dentes de elefante, dado que estas
> naus e caravelas vinham incorporadas na armada de Pedro Álvares Cabral e não
> fizeram aguada em África, mas no Brasil aquando do seu "achamento". E dentes
> de elefante e outros produtos africanos não iam de Lisboa, eram comprados,
> resgatados nas povoações africanas e carregados na torna-viagem para o
> reino.
>
> Parece-me mesmo improvável que seja um navio ainda do tempo de D. João II,
> após o regresso de Bartolomeu Dias, em 1488, com a notícia de ter dobrado o
> cabo de África e achado a Passagem de Sueste que unia o Atlântico ao Índico,
> uma das mais espantosas odisseias do Homem. Será provavelmente o de outra
> qualquer viagem de exploração e comércio, já no tempo de D. Manuel e depois
> da viagem de Pedro Álvares Cabral, quando todos os anos partiam uma ou duas
> armadas a caminho de Sofala, no reino do Monomotapa (o das minas de Salomão)
> ou da Índia e que, na torna-viagem, traziam riquíssimas cargas, cujo peso
> muitas vezes esteve na origem de trágicos naufrágios.
>
> Julgo pouco provável também que se trate de uma nau espanhola, por
> interdição dos tratados de Alcáçovas e de Tordesilhas, este último assinado
> em 1494 entre D. João II e Isabel e Fernando de Castela, mediado pelo Papa,
> a que os Reis Católicos em geral obedeceram para não arriscarem a excomunhão
> nem o confronto directo com o Príncipe Perfeito, que muito respeitavam e
> temiam e, mais tarde pelos laços de parentesco com D. Manuel, casado
> sucessivamente com duas infantas castelhanas.
>
> Por outro lado, também não me parece muito válida a sugestão de que o navio
> teria ido comprar cobre para se fazer armamento, pois os "pães de cobre",
> assim chamados pelos portugueses devido ao formato cónico dos lingotes –
> igual ao dos "pães de açúcar" que deram o nome ao celebrado morro do Brasil
> – eram levados de Portugal para "resgatarem" (trocarem por) ouro e outros
> produtos em África onde em muitos lugares não havia cobre, tendo por isso
> imenso valor.
>
> Todavia, seja qual for o mistério que envolve este achado e vem despertar
> emoções e espevitar a imaginação daqueles que, como eu, são apaixonados pela
> História, tem já o mérito de lembrar Bartolomeu Dias ao mundo, o primeiro
> europeu a pisar o solo da África do Sul, considerado um dos heróis desta
> nação, com estátuas e um museu onde existe uma réplica da sua caravela. Numa
> longuíssima viagem a bordo de uma frágil "caravela de descobrir", percorreu
> toda a costa ocidental africana e achou a tão desejada passagem para o
> Oceano Índico, dobrando o Cabo de África e avançando até ao Rio do Infante,
> sendo então forçado pela tripulação temerosa a regressar ao reino, antes de
> atingir as vilas mais desenvolvidas da sua costa oriental. Desembarcou em
> vários lugares, para fazer a aguada, deixar três padrões a assinalarem a sua
> passagem e quatro degredadas para aprenderem a língua e os costumes dos seus
> povos, chegando a Lisboa após dezasseis meses e dezassete dias de viagem.
>
> Bem gostaria eu que este navio naufragado fosse o de Bartolomeu Dias, o meu
> Herói da Passagem, o "Capitão do Fim" como lhe chamou Fernando Pessoa, ao
> escrever-lhe o epitáfio na sua "Mensagem"! Com o meu novo romance, espero
> vir a contribuir também um pouco para um melhor conhecimento desta figura
> extraordinária.
>
> A saga dos navegadores portugueses foi grandiosa, heróica e trágica. Apesar
> dos aspectos negativos dos Descobrimentos (mesmo assim, muito aquém da
> crueldade, violência e destruição das nações nossas rivais, como a Espanha,
> a Inglaterra, a Holanda), não deve ser esquecida nem desprezada, por medo de
> nos tomarem por saudosistas ou por qualquer outra razão, pois faz parte da
> nossa identidade cultural e do nosso passado colectivo que, ao contrário dos
> outros povos que enaltecem e preservam a sua história e cultura, parecemos
> fazer gala em ignorar.
>
> Continuarei a procurar notícias sobre este admirável "achamento"
> na TV por Cabo, na Internet e em jornais e revistas estrangeiras, até que,
> nesta cauda da Europa que é Portugal, como de costume, se descubra que, se
> foi noticiado "lá fora", talvez mereça ser falado "cá dentro"... embora já
> tarde e a más horas.
>
> Deana Barroqueiro
>
> (escritora e professora)
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> d.barroqueiro@netcabo.pt
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