[Archport] "Biblioteca de arqueologia vai ser demolida"

["Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>]

Biblioteca de arqueologia vai ser demolida

Público, 14.06.2008, Teresa Firmino


Abaixo-assinado concentra--se em acervo bibliográfico, mas o destino
das colecções arqueológicas do ex-Instituto Português de Arqueologia é
outra preocupação


Está a correr um abaixo-assinado on-line para salvar a biblioteca, o
arquivo e as publicações do antigo Instituto Português de Arqueologia
(IPA), fundido há um ano no Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico (Igespar).
As velhas instalações que têm albergado até agora aquele acervo vão
ser demolidas, para acolher o novo Museu Nacional dos Coches, em
Lisboa. Mas desconhece-se o destino deste espólio, o que preocupa os
mais de 1000 subscritores da petição dirigida ao ministro da Cultura,
Pinto Ribeiro.
"Os subscritores manifestam grande apreensão com o futuro da maior
biblioteca especializada em património arqueológico do país", lê-se na
petição, lançada pelo arqueólogo José d'Encarnação, da Universidade de
Coimbra.
Actualmente, a biblioteca disponibiliza ao público cerca de 55 mil
volumes. Nasceu da cedência (da Alemanha a Portugal) da biblioteca do
Instituto Arqueológico Alemão, quando a sua delegação de Lisboa foi
encerrada em 1999. A cedência foi em regime de comodato, o que
significa que o Estado alemão mantém a propriedade da biblioteca e
pode retirá-la do país se, por exemplo, não estiver aberta ao público.
Então com um ano de vida, o IPA acolheu-a e ampliou-a através de novas
aquisições e permutas de publicações com outras instituições.
Os receios dos arqueólogos cresceram quando, este ano, o Conselho de
Ministros aprovou a requalificação da zona ribeirinha de Lisboa, que
prevê a demolição das instalações do ex-IPA até ao fim do ano. Entre
os arqueólogos, diz-se que as demolições começam em Setembro.
Outra preocupação é o arquivo, onde estão os relatórios dos trabalhos
arqueológicos em Portugal desde o Estado Novo. Muitos nunca foram
publicados, pelo que os arqueólogos temem que estes dossiers
importantes para a investigação fiquem encafuados em caixotes.
Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Cultura considerou "prematuro
adiantar prazos e locais" para a mudança de instalações, segundo
referiu o assessor de imprensa Rui Peças. À Lusa, o vice-presidente do
Igespar, João Pedro Cunha Ribeiro, garantiu que a "biblioteca será
reinstalada num espaço que surgirá" e "não está em risco o
desaparecimento".
Mas as reacções são muitas. Entre os subscritores, está Raquel
Henriques da Silva, ex-directora do Instituto Português dos Museus,
que deixou este comentário: "O Museu dos Coches não é nenhuma
prioridade! Está bem instalado." Há muitos nomes estrangeiros, como o
de Priscilla Lange, dos EUA: "É indispensável para a investigação
arqueológica em Portugal. Beneficiei tantas vezes dos seus livros e
revistas, alguns não se encontram noutras universidades, nem mesmo em
Oxford." Ou o de Jackie Meier: "Vêm pessoas de todo o mundo usar esta
biblioteca, que é um tesouro nacional." Ariane Burke, da Universidade
de Montreal, comentou: "É difícil localizar as publicações portuguesas
no estrangeiro e este é um recurso importante para os arqueólogos de
visita a Portugal."