Por Francisco Ribeiro (texto) e João Abreu Miranda (fotos)
Marco de Canaveses, Porto, 20 Jun (Lusa) - Os futuros 'Indiana Jones' portugueses que estão a ser formados na Escola Profissional de Arqueologia, no Marco de Canaveses, sabem que, em vez de aventuras e perigos variados, apenas os espera muito trabalho para desenterrar os vestígios do passado.
"Os que vêm para arqueologia a pensar que vão ser como o Indiana Jones têm muita imaginação", afirmou Ricardo Pereira, aluno do primeiro ano do curso de Assistente de Arqueólogo, que lhe permitirá entrar mais tarde na universidade para concluir a formação superior em Arqueologia.
Rodeado pelos colegas de turma, o jovem de Braga encontrava-se entre as ruínas da zona residencial da antiga cidade romana de Tongobriga, nos arredores do Marco de Canaveses, a realizar um trabalho para a disciplina de Registo em Arqueologia.
Ricardo Pereira, que não escondeu a sua paixão pela arqueologia, admitiu que "ainda há muito espaço para a aventura" nesta área de actividade, mas foi muito claro ao dizer que a figura do arqueólogo interpretada no cinema por Harrison Ford "não tem nada a ver com a realidade".
No mesmo sentido, Rosa Soares, directora executiva da escola, frisou que "a arqueologia actual não tem nada a ver com a figura de Indiana Jones", acrescentando que "a maioria dos alunos não vem com essa ilusão".
"O arqueólogo hoje é alguém muito bem preparado cientificamente porque a arqueologia é uma ciência de muito rigor", salientou a responsável da escola.
"As coisas são feitas com muita seriedade e com o apoio de outras ciências que ajudam a interpretar e a analisar os materiais recolhidos nas escavações", concordou Margarida Moreira, arqueóloga e directora pedagógica da escola.
A Escola Profissional de Arqueologia, instituição pública criada em 1990 pelos ministérios da Educação e da Cultura, é a única escola profissional nesta área em Portugal.
Actualmente conta com cerca de 90 alunos, oriundos de vários pontos do país, a maioria dos quais assume que pretende seguir carreira na área da arqueologia.
"Alguns colegas vieram para este curso só para poderem tirar o 12º ano, mas eu vim por gosto, quero ser arqueóloga", afirmou Barbara Lima, que veio de Coimbra para frequentar esta escola.
De mais longe veio Rosalina Varela, que é natural de Cabo Verde e conseguiu um lugar na escola ao abrigo de um protocolo assinado com o município do Tarrafal.
"Estou a gostar muito e vou seguir arqueologia, mas o que gostava mesmo era de ter ido para um curso de gestão", admitiu a jovem caboverdiana, enquanto tentava desenhar uma parte da uma antiga rua romana posta a descoberto pelas escavações.
Como em qualquer escola do ensino secundário, aqui os alunos também têm aulas de disciplinas como Português, Matemática ou Educação Física, mas o que mais os anima são as horas da componente de formação técnica, que os obriga a trabalhar no terreno.
"A escola foi colocada aqui porque se entendeu que tinha lógica estar perto de um local onde os alunos pudessem praticar. Assim, o primeiro contacto com ruínas é feito aqui, na Área Arqueológica do Freixo", salientou Rosa Soares.
Esta área arqueológica, que se estende por cerca de 50 hectares de zona classificada, abrange a antiga cidade romana de Tongobriga, uma das últimas cidades romanas que foram construídas no território que actualmente é Portugal.
"A estação arqueológica acolhe a escola e serve-se da escola", frisou Lino Tavares Dias, que dirige esta zona classificada.
Segundo o arqueólogo, a instalação da escola neste local foi decidida por se sentiu que "havia operários e técnicos superiores, mas não existiam técnicos intermédios".
"A escola surgiu para cobrir essa insuficiência", acrescentou Lino Tavares Dias.
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