[Archport] penitenciária de Coimbra
Title: penitenciária de Coimbra
Apenas uma
pergunta, para quem é de Coimbra ou lá estudou ou lá
leccionou:
O GAAC
morreu?
É que, para além
desta situação irreal (vide notícia abaixo transcrita),
deparei-me, esta semana, com uma fachada de bradar aos céus no
ex-Banco Pinto & Sotto Mayor!... Já em finais dos anos 70 tinha
havido uma tentativa para a vandalizar. Só que, na altura, o GAAC
existia...
E a Biblioteca e o
Arquivo do IPA sem destino...
Cumprimentos,
Graça
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Retirado do
blog De Rerum Natura (Público on-line)
"Mon
devoir est de parler, je ne veux pas être complice."
Émile Zola
"Permitam-me que comece invocando as palavras de Émile Zola no
seu magistral artigo sob o caso Dreyfus, publicado em Janeiro de 1898,
sob a forma de carta dirigida ao Presidente da República Francesa,
mas a verdade é que com as devidas distâncias e proporções
também eu não quero ser cúmplice pelo silêncio do que vai
acontecer a Coimbra e em Coimbra com o processo de reconversão das
instalações da Penitenciária.
Já escrevi, mais do que uma vez, que vai ser cometido um erro
colossal se for avante o processo de transformação da
Penitenciária tal como protocolado pelo presidente Carlos
Encarnação com a ex-ministra da Justiça Celeste Cardona e hoje,
quando se anuncia o desenvolvimento da reforma do parque prisional e a
construção de novas cadeias, não quero deixar de o
reafirmar.
Coimbra sofreu um dos maiores atentados urbanísticos com a
transformação da sua Alta no tempo de ditadura. Foi um atentado
que nunca foi devidamente reparado porque Coimbra nunca o soube
reivindicar e porque não terá havido oportunidade para tal, pelo
que hoje, perante o cenário da libertação dum espaço
emblemático no seu coração, seria o bom momento para se bater por
essa reparação.
A reconversão das instalações da Penitenciária representa uma
oportunidade única para a Cidade, podendo assumir a visão e as
ambições dos cidadãos que nela vivem neste princípio do
século XXI e constituir um legado às gerações vindouras.
Sabemos das carências de espaços e de instalações, por
exemplo, para a Biblioteca Geral da Universidade, como repetidamente
tem sublinhado o seu Director - o professor Carlos Fiolhais -,
sabemos da importância para as cidade de assumirem edifícios
simbólicos como motores de atracção e desenvolvimento e sabemos da
importância de desenvolvimentos arquitectónicos paradigmáticos
do rejuvenescimento das cidades.
Sabemos isto e muito mais e, por isso, também já mais do que uma
vez apontei o exemplo do parque de La Villette, em Paris, como um
exemplo do que poderíamos e deveríamos considerar para as
referidas instalações. Lembremos que La Villette resultou de um
processo de transformação das instalações dum antigo
matadouro, com um projecto do arquitecto Bernard Tschumi elaborado em
consonância com o filósofo Jacques Derrida.
As instalações da Penitenciária são um verdadeiro diamante
que, com um projecto ambicioso e devidamente equacionado, poderiam
permitir congregar muitas coisas, levando-nos a edificar ali uma
UniverCidade como síntese do passado e proposta para o futuro de
Coimbra.
Lamentavelmente a ausência de visão e a falta de coragem dum
presidente titubeante levaram à assinatura dum protocolo que, no
essencial, vai permitir especulação imobiliária para o Governo
pagar as novas instalações, como se a cidade, mais uma vez, não
merecesse ficar, sem reservas, com aquele espaço para si e de lhe
traçar o destino que entendesse.
Sabemos que, para envolver o processo, com o tal manto diáfano da
fantasia, se fala num corredor verde a construir na zona, mas do que
verdadeiramente se tem a certeza é de que vai haver construção
imobiliária - um novo EuroStadium.
Como o tempo vai provar o que verdadeiramente aconteceu foi termos um
presidente de Câmara que se colocou de cócoras perante o Governo e
que, por isso, não posso deixar de acusar como primeiro e principal
responsável por um erro de lesa Coimbra que vai inevitavelmente
acontecer naquele espaço.
Claro que do julgamento na história, que um dia será feito deste
processo, também não sairão isentos partidos, forças
políticas e organizações cívicas que não foram capazes de
reagir a inverter a situação, bem como todos aqueles que clamando
tantas vezes contra o centralismo e a realização de investimentos
brutais em Lisboa e no Porto se calaram perante mais uma
discriminação negativa de Coimbra.
Não tenho pretensões a uma proposta definitiva para a
reconversão do espaço da Penitenciária, mas tenho a convicção
profunda do erro que vai ser cometido e lamento que Coimbra, mais uma
vez, não tenha a força, o nervo cívico e a capacidade de se
mobilizar para evitar esse erro.
Não podia deixar de o dizer."
João Silva