[Archport] Ainda e sempre Foz Côa e a indigência nacional
Já não há paciência para abrir as mensagens do Archport e ler opiniões
do tipo, os arqueólogos têm de explicar o que é a Arte do Côa e qual a
sua importância, que os arqueólogos têm de descer dos seus pedestais
e... ... patati, patata... É que já não há mesmo paciência!!??
Jean-Marie Le Pen e os neo-fascistas negam o Holocausto! Isso faz com
que ele não tenha existido? Há alguém no Archport que acredite nisto e
insista em ter ainda e sempre mais explicações sobre o que foi isso do
Nazismo e do Holocausto!!??
Os modernos criacionistas acreditam que o mundo foi criado, parece, em
4.004 a.C. como em prosa barrocamente opulenta historicizou Bossuet.
Há quem diga que num estalar de dedos! Consequentemente nega-se o
Evolucionismo das Espécies e ensina-se o Criacionismo em escolas
oficiais, por exemplo, de alguns estados americanos. Há alguém no
Archport que acredite nisto e que exija ainda mais explicações e
provas sobre o que é isso do Evolucionismo?
Sousa Tavares, uma reconhecida autoridade em matéria de arte pré-
histórica !!, nega a autenticidade da Arte do Côa e cita Bednarik de
que nem lembra o nome e um título do Independente de Julho de 95, a
que apesar de tudo retirou um 0 e de 3.000 anos passou a 300 anos! O
que apesar de tudo faz toda a diferença. Há alguém no Archport que
acredite nisto e que continue a exigir explicações!!? Eu sei que há
gente para tudo...
Os sítios de Foz Côa são os mais explicados e palrapiados da
arqueologia portuguesa! Só não vê quem não quer ver ou insiste em
continuar ignorante!
Que estação arqueológica nacional, logo desde a sua revelação, se pode
gabar de ter recebido a quantidade de gente que aqui aportou?. Se
alguém se der ao trabalho de fazer um apanhado do noticiário
arqueológico português e internacional sobre sítios arqueológicos
nacionais verá que de Foz Côa se falou e escreveu mais do que de todos
os outros sítios juntos!! Podem consultar algumas amostras disto mesmo
no livro coordenado por Maria Eduarda Gonçalves "O caso de Foz Côa: um
laboratório de análise sociopolítica", Edições 70, 2001.
Quando vi pela primeira vez os "rabiscos" do Côa nos inícios de
Novembro de 94, através dos primeiros desenhos da Canada do Inferno do
Fernando Barbosa e do Nelson Rebanda, lembro-me de ter dito a NR que
poderá haver quem não os ache paleolíticos, mas que posteriores ao
Epipaleolítico é que não os poderão considerar!! E foi sobre a sua
indesmentível paleoliticidade que escrevi no parecer que entreguei ao
IPPAR em finais de Janeiro de 95! Passados 13 anos e toda a história
que se sabe ainda ando a ler coisas como as de MST, Helena Matos e
alguns simpáticos figurões que por'í andam?? Se querem mesmo defender
a maldita barragem arranjem outros argumentos!
Exilei-me em Foz Côa na sequência da criação do PAVC e do CNART desde
1997. Há 11 anos portanto! E com todo o prazer aqui continuo. Recebi e
continuo a receber gente de todas as proveniências e a explicar a Arte
do Côa a centenas ou milhares de responsáveis políticos, desde
primeiros-ministros, ministros e secretários de estado e suas
comitivas, presidentes disto e daquilo (praticamente só Cavaco aqui
não veio, mas lá chegará!), centenas de grupos internacionais e
nacionais, arqueológicos ou não, participei na criação do dossiê
(excelentemente coordenado pela grande figura da arqueologia
portuguesa que é João Zilhão) que levou a Unesco, com uma celeridade
inusual, a considerar os sítios do Côa como Património da Humanidade
(e tornei-me entretanto eu próprio avaliador ICOMOS do Património
Mundial), dei centenas de conferências sobre o Côa algumas nos sítios
mais exóticos, escrevi e participei em livros e artigos, dei centenas
de entrevistas a jornais, rádios e televisões, participei (e
participo) em filmes sobre o caso (o próximo versará sobre a "história
política" do Côa), continuo a coordenar uma equipa que passa (quase
por puro prazer) noites sobre noites a estudar e descodificar a Arte
do Côa e está presentemente a trabalhar afincadamente na produção de
conteúdos para o Museu do Côa... E ainda vou tendo tempo para ler
todos os disparates que se continuam a escrever sobre o Côa. Haja
paciência. Citando, ainda e sempre Duvignaud, o que nos ameaça não é
verdadeiramente o apocalipse, mas sim a mediocridade! Num mundo
globalizado, com indigestões de informação que matarão qualquer mortal
que não se cuide e se previna, e ainda me vêm falar que lhes falta
informação, que querem mais contraditório!! Já não há paciência!
Já agora circulem de vez em quando por aqui
http://dafinitudedotempo.blogspot.com/
e cuidem-se das indigestões e do choque térmico da Grande Arte do Côa...
Saudações arqueológicas
António Martinho Baptista
PS: Saúdo a carta de Manuel Maria Carrilho ontem publicada no Expresso
e o seu artigo de opinião no DN também de ontem, onde, com toda a
serenidade, trata de corrigir as palavras inqualificáveis de MST sobre
os assuntos do Côa. A tréplica de MST à carta de Carrilho é
suficientemente esclarecedora das suas fontes primárias e de como se
opina em Portugal.