[Archport] Muito mais do que incertezas: Caos no Ministério da Cultura?
A questão da transferência da actual Divisão de Arqueologia Náutica e
Subaquática DANS
(ex. CNANS artigos) não tem sido devidamente evidenciada. É óbvio que
o futuro da
Biblioteca do ex: IPA, alvo de um maior acordo entre os profissionais
do sector uma vez
que se assume como instrumento essencial de trabalho, merece a "onda"
de debate que
resultou em artigos de opinião, petições e "blogs". No entanto, o
futuro físico da DANS é
um problema muito mais complexo que, numa perspectiva minimalista (e
não minimizo a
desactivação da biblioteca, da osteoteca ou do arquivo), não se resume
à reinstalação de
prateleiras e transferência do acervo bibliográfico ou de arquivo. Nas
instalações da
DANS foram nos últimos anos depositados materiais provenientes de
ambientes submersos e
ribeirinhos que incluem, por exemplo, navios construídos em madeira,
cinco pirogas
monóxilas (duas do século II a.C.), peças de artilharia em bronze e
ferro, a colecção
de cerâmica comum em melhor estado de conservação do país (com mais de
600 peças completas),
entre outros. Ora o problema reside de imediato no facto de alguns
destes materiais serem
peças de grande dimensão, com cerca de duas toneladas, fabricadas em
materiais frágeis
que recomendam o mínimo de movimentação necessária ao seu estudo e
tratamento e que não
permitem a sua exposição por períodos prolongados. Por outro lado,
alguns destes
vestígios encontram-se em tratamento laboratorial por impregnação com
PEG que não devem
ser interrompidos sem que estejam criadas condições para dar
continuidade imediata noutro
local. Neste quadro, o CNANS dotou-se de equipamentos fixos que
implicaram a construção
de tanques, sistemas de aquecimento e circulação de fluidos ou a
instalação de gruas que
não podem ser transferidos para qualquer armazém, palácio, quartel ou
museu por uma
qualquer transportadora contratada à pressão para dar inicio às
demolições previstas.
O que está em causa com a transferência da DANS não é só a provável
desactivação, por um
período mais ou menos longo, de um serviço essencial, como a
biblioteca, a osteoteca ou o
arquivo do ex: IPA. Trata-se de um processo que se não for devidamente
ponderado
tecnicamente coloca em risco um património impar à escala
internacional. Onde estão, nos
museus portugueses, pirogas com 6 m de comprimento e 2000 anos de idade?
José Bettencourt