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[Archport] NO PORTO JUDEU - Escavações concluídas no adro da Igreja

To :   archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] NO PORTO JUDEU - Escavações concluídas no adro da Igreja
From :   "Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>
Date :   Sat, 26 Jul 2008 01:46:10 +0100

A União, Sexta-Feira, dia 25 de Julho de 2008



NO PORTO JUDEU - Escavações concluídas no adro da Igreja

Publicado na Sexta-Feira, dia 25 de Julho de 2008, em Actualidade



Ao todo foram encontradas 30 sepulturas nas escavações arqueológicas
no adro da Igreja Paroquial do Porto Judeu, que decorreram durante os
últimos dois meses e meio, depois de suspensas as obras de construção
do novo Centro Paroquial.



Foram ainda contabilizados 33 esqueletos, 14 ossadas, 27 crânios, o
que perfaz um total de 63 indivíduos enterrados no antigo cemitério da
freguesia.
As datas situam os achados na segunda metade do século XIX.



Uma vez concluídas as escavações arqueológicas no terreno do novo
Centro Paroquial do Porto Judeu, as obras iniciadas no passado mês de
Abril recomeçaram normalmente.



Para trás ficaram dois meses e meio de interrupção dos trabalhos de
construção do edifício, com o objectivo de uma equipa de cinco
arqueólogos remover correctamente do solo os vestígios materiais
encontrados e proceder ao seu registo e estudo.
Nas três dezenas de sepulturas foram recuperados fragmentos de
tecidos, botões de vidro, solas de sapatos, adereços pessoais como
anéis, colares, entre 33 esqueletos, 14 ossadas e 27 crânios. No total
foram contabilizados 63 indivíduos enterrados, segundo o estudo
arqueológico, em diferentes rituais fúnebres.

"Os ossários podem pertencer a um ou vários indivíduos enterrados na
mesma campa. Para nós a localização desses ossários são um indicador
da existência de uma sepultura por baixo destes", revela Catarina
Garcia, arqueóloga, em declarações à "a União".
Já Ricardo Erasum, também arqueólogo, revela que "naquele local
verificou-se o enterramento com mortalha, excepto um que foi
encontrado em caixão de madeira".

Segundo o especialista essas características "não indicam
necessariamente duas épocas diferentes, mas poderá ser a evolução do
padrão do enterramento ou a diferença do status social".

Embora com uma área de aproximadamente 60 m2, a equipa dos cinco
profissionais verificou que as sepulturas estavam concentradas na zona
Oeste do adro da Igreja, sendo que a zona Este do terreno estava
"limpa".

A escavação ocorreu apenas na área em que a obra prevê a construção do
edifício. Começámos a encontrar sepulturas que foram escavadas até a
uma zona considerada estéril, isto é, que já não afecta nada em termos
de património arqueológico", explica Catarina Garcia.

Porém, a arqueóloga defende que "deve-se ter em conta os trabalhos de
arqueologia antes das obras começarem, o que neste caso não se
verificou".

"A partir do momento que fomos avisados pela comissão da Igreja do
Porto Judeu seria impossível a obra prosseguir sem que fossem feitos
trabalhos prévios de arqueologia, pelo menos cumprir o que a
legislação prevê, que é salvaguardar os testemunhos que estão ali
através de registo arqueológico", sustenta.

Depois de recuperada a informação no terreno pelos arqueólogos, a
análise osteológica como doenças, sexo, idade e origem genética de
cada indivíduo prossegue em laboratório, nomeadamente no Centro de
Investigação de Recursos Naturais, departamento de Biologia da
Universidade dos Açores. Um trabalho conjunto entre a Direcção
Regional da Cultura e aquele estabelecimento de ensino superior que
para já não tem conclusões a apresentar.
"Neste momento o Centro está ainda a trabalhar no caso dos achados em
São Gonçalo, em Angra. No entanto, posso avançar que dos 63 indivíduos
encontrados apenas um era criança, sendo que onze deles têm amostra
para estudo do DNA antigo", conclui Ricardo Erasum.



População "compreensiva"



Catarina Garcia considera que o trabalho desenvolvido pela equipa
constituída por quatro arqueólogos e um antropólogo físico, do
continente e dos Açores, "não apresentou dificuldades". E mesmo a
população do Porto Judeu, apesar de "surpreendida" com os vestígios
encontrados mostrou-se "interessada e compreensiva" com a interrupção
das obras desde o princípio.

"No início fizemos esclarecimento público, com excelente adesão, para
explicarmos que o nosso trabalho passava por tentar preservar a
memória dos seus antepassados. E, aliás, nada invalida que possamos
voltar a fazer o enterramento de todas as ossadas, depois de estudadas
e conservadas, de forma individualizada, num local que a população
entenda", refere a arqueóloga.

De modo a sustentar toda a informação recolhida, a Direcção Regional
da Cultura entendeu expor um cartaz no local da obra com os registos
escritos e fotográficos das escavações arqueológicas. Uma forma também
de dar a conhecer à comunidade do Porto Judeu a sua história e o seu
passado.

Quanto à profissão de arqueólogo nos Açores, Catarina Garcia afirma
que "ainda não é entendida, mas não deixa de ser respeitada e que aos
poucos as pessoas vão compreendendo que património histórico não são
apenas janelas, mas toda a história que fica contida num espaço
abandonado".

(...)

Sónia Bettencourt

sonia@auniao.com


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