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[Archport] Baía de Angra revela artefactos de naufrágios seculares

Subject :   [Archport] Baía de Angra revela artefactos de naufrágios seculares
From :   "Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>
Date :   Tue, 26 Aug 2008 21:41:57 +0100

Baía de Angra revela artefactos de naufrágios seculares

Açoriano Oriental, Regional | 2008-08-25 11:30

A Baía de Angra do Heroísmo continua a revelar-se uma "arca" de
vestígios arqueológicos do século XVI ao XX, com o aparecimento de
três novos "sítios" descobertos por uma equipa de nove investigadores
de arqueologia marítima.


José António Bettencourt, responsável pelos trabalhos arqueológicos,
revelou à agência Lusa que foram localizados um novo naufrágio,
denominado "Angra J", um túmulo de lastro de embarcação e um terceiro
com uma densidade de vestígios que vão do século XVI ao século XX.

"Junto do naufrágio, que mantém grande parte da sua estrutura de
madeira e que é um local com elevado potencial de investigação, foi
também localizado um canhão em ferro e um apito em bronze [século
XVI], que se supõe fosse usado para chamar a tripulação e que já foi
enviado para o Centro de Conservação e Restauro", adiantou o
arqueólogo.

No mesmo local, foi ainda recolhida uma "concreção" (solidificação)
que os técnicos pensam "corresponder a uma espada", bem como outros
objectos em metal e cerâmicas.

Os investigadores localizaram, também, junto do túmulo de lastro, uma
"anforeta" e outras cerâmicas mais comuns.

O terceiro sítio agora sinalizado, onde existe uma densidade de
vestígios que vão do século XVI ao século XX, deverá estar relacionado
com a sua utilização como fundeador - zona de ancoragem e actividades
portuárias.

Dentro desta área, segundo José António Bettencourt, "há uma zona
cujos materiais - entre eles, potes de cerâmica e cachimbos - possuem
uma coerência tipológica e cronológica que se pensa ser do século XIX
e que poderá corresponder a outro naufrágio".

"A datação dos materiais recolhidos vai ser feita pela sua tipologia
em comparação com outros artefactos recolhidos de outros sítios e que
já se encontram bem datados", explicou o arqueólogo.

O trabalho dos arqueólogos estende-se a uma intervenção num outro
naufrágio, denominado "Angra B" - um navio do século XVI ou princípio
do século XVII -, no sentido de ser finalizado "o seu registo, de
forma exaustiva, em termos de planta, fotografia e análise
descritiva".

"Os vestígios deste naufrágio serão, no final da campanha, no fim de
Agosto, protegidos com sacos e redes, uma vez que nas intervenções
feitas, nos últimos dois anos, indicaram que ocorre um processo de
erosão que o pode colocar em perigo", adiantou José António
Bettencourt.

As pesquisas estão a ser feitas no âmbito do Projecto de Investigação
Arqueológica Subaquática (PIAS), financiado pela Direcção Regional da
Cultura, dotado com 40 mil euros, e que teve o seu início em 2006 e se
prolonga até ao próximo ano.

O projecto é dirigido pelo professor da Universidade dos Açores, José
Damião Rodrigues, e do Centro de História de Além-Mar, uma unidade de
investigação inter-universitária que une as universidades dos Açores e
universidade Nova de Lisboa.

O seu trabalho desenvolve-se na investigação na área da História dos
Descobrimentos e Expansão Portuguesa, nomeadamente a história dos
Açores.

Na Baía de Angra, ilha Terceira, estão sinalizados, a partir de agora,
dez locais de naufrágios denominados de "Angra" e numerados de "A" a
"J", e cerca de duas dezenas de sítios com interesse arqueológico.

Dois deles são parques arqueológicos e abertos ao turismo subaquático
desde 2006.

O primeiro parque, "Naufrágio do vapor Lidador", navio brasileiro de
transporte de passageiros e mercadorias, que afundou em 1878, está
localizado a dez metros da costa da baía e a sete metros de
profundidade.

O "Lidador" foi movido do local original onde foi encontrado para uma
nova localização dentro da baía de forma a ser construído o porto de
recreio da cidade de Angra do Heroísmo.

O segundo, um "Cemitérios de Âncoras", onde ancoravam as naus e
galeões dos séculos XVI e XVII, localiza-se a 500 metros da costa e a
uma profundidade variável entre os 16 e 40 metros.

Os visitantes poderão observar, através de um itinerário subaquático
previamente estabelecido, 40 metros de casco do "Lidador" e cerca de
35 âncoras.

Para além destas reservas, o Governo Regional pretende abrir mais duas
nas ilhas do Pico e Flores, onde se encontram afundados os navios
"Caroline" (1901), que controlava o mercado europeu de adubos, e o
"Slavónia" (1909), um navio inglês de passageiros.

Paralelamente, as autoridades regionais estão a elaborar a Carta
Arqueológica Subaquática dos Açores (CASA) que visa criar um banco de
dados informatizado, constituído por informações das mais diversas
fontes.

A CASA vai permitir ainda a criação de um roteiro específico de
turismo de parques arqueológicos subaquáticos na região.

Para a elaboração desta carta, a região estabeleceu um protocolo de
cooperação técnica com a Fundação Rebikoff-Niggeler, que tem abrangido
desde 2006 a realização das pesquisas na costa sul da ilha Terceira e
que este ano se estendeu às ilhas do Pico e Faial

O protocolo, com uma dotação de 340 mil euros, determinou a
disponibilização por parte da fundação do submarino "Lula", com
capacidade para mergulhar até 500 metros de profundidade, de um sonar
de varrimento lateral, um magmetómetro e de uma embarcação de apoio.

As primeiras investigações arqueológicas subaquáticas nos Açores, com
carácter científico e sistemático, datam de 1996.

João Aranda e Silva, Lusa/AO online


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