- Sem dúvida que "a selecção de candidaturas apenas diz respeito aos interessados", e para isso serve a análise dos curriculos enviados e posteriores entrevistas. Isto em nada colide com a minha sugestão.
- "Os anúncios que, habitualmente, vemos nos jornais para os mais diversos trabalhos" visam, por norma, recrutar pessoas com as quais se pretende estabelecer um vínculo contratual, do qual resultará uma série de encargos jurídicos e fiscais.Aqui não se trata de tal coisa: a ideia é celebrar um acordo de prestação de serviços, por um período geralmente curto, para a execução de um trabalho técnico, que apenas pode ser levado a cabo por um profissional credenciado na área e não por qualquer outra pessoa. Esses profissionais têm um "valor comercial" para quem os contrata e que deve ser ditado pela adequação das suas qualificações académicas específicas e experiência profissional às exigências do trabalho a executar. Não vejo qual é o impedimento para que esse valor seja revelado, à partida, à semelhança do que se faz noutros países: http://www.bajr.org/Employment/UKEmployment.asp
- Por outro lado, o Archport não é a secção de anúncios de um jornal qualquer: é um espaço que privilegia as trocas de informação do mundo da arqueologia em todas as suas dimensões, de uma forma relativamente informal. Quem o utiliza serão, na sua maioria, pessoas de alguma forma ligadas à área e que, portanto, têm o direito de conhecer, de forma clara, o espaço que as rodeia. Como compreenderá, isto é ainda mais importante para as pessoas que estão a chegar agora.
- Com a premissa que legitima o "segredo" como protector "da alma do negócio", muitos outros e indesejáveis segredos se vão, de vez em quando, revelando: são feios, cabeludos, pouco dignos de profissionais, pouco dignos de cidadãos, pouco dignos da democracia. Refiro-me a situações como a que o Público acaba de revelar e que é, obviamente, a ponta do iceberg;
- Refiro-me, muito concretamente, aos miseráveis valores pagos pelas empresas aos seus colaboradores que, muitas vezes, são inferiores ao que recebe um qualquer trabalhador não especializado e não qualificado (por vezes, ouço falar de valores tão baixos que me custa acreditar que seja verdade!). Devemos somar o isto, o facto de que estes trabalhadores têm, com frequência, que se deslocar para longe da sua área de residência, sempre com custos para as suas vidas privadas.
- Pergunto, portanto: será por vergonha que não se publicam os valores que se oferecem? Será por vergonha que não se fala mais abertamente sobre os valores que se aceitam? Sim, é que agora está, também, na "moda" culpar os que aceitam para justificar os baixos valores que se pagam.
- Sei que estamos a anos-luz das condições sociais, económicas e políticas que se vivem noutras partes da Europa (infelizmente não apenas no que respeita à Arqueologia...). Mas será que o longo caminho a percorrer não poderá ser iniciado pela vontade individual de cada um? Estaremos sempre à espera que as instituições se pronunciem, criem regras, leis, proibições e obrigações? Não temos vontade própria, consciência social, sentido de justiça?
- E isto não é idealismo; é pragmatismo. A clareza facilita, não dificulta. Quem prefere nadar em águas turvas, podendo nadar em águas cristalinas, daquelas que revelam tudo o que se movimenta entre a superfície e o fundo?
Não pretendia ser exaustiva, mas este assunto tem, obviamente, "pano para mangas" se nos dispusermos a falar dele abertamente e de forma construtiva.
Não é minha intenção gerar controvérsias ou incómodos. Gostaria, apenas, de fazer saber que há quem esteja disposto a falar e a ouvir falar deste assunto, eventualmente gerando uma troca de ideias e impressões que viessem de quem pode falar do tema na primeira pessoa. Serei muito ambiciosa?
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<>< Isabel Matos ><>