Público, 20.09.2008, por Maria Antónia Zacarias
Arqueólogos do complexo dos Perdigões terão identificado três esqueletos que seriam das primeiras sociedades de camponeses do Sul da Europa
O Complexo Arqueológico dos Perdigões, projecto da Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, fez novas descobertas inéditas. Durante as escavações de 2008, realizadas pela ERA-Arqueologia, em fossas escavadas há aproximadamente 4500 anos, a equipa de arqueólogos identificou um conjunto de três esqueletos humanos do que se pensa serem das primeiras sociedades de camponeses do Sul da Europa.
Segundo os peritos, este achado é particularmente importante e surpreendente porque não teve lugar na necrópole, local onde até agora eram conhecidas todas as sepulturas do sítio, mas sim a cerca de 300 metros do cemitério. "Esta descoberta suscita um grande interesse na comunidade científica e abre novas linhas para o programa global de investigação do sítio dos Perdigões", afirmou António Valera, responsável pelo Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA.
Os vestígios encontrados indicam uma importante revelação no que respeita ao estudo do ritual de gestão da morte. "Era já sabido que, após a morte de cada indivíduo existiria um local onde o corpo era colocado para decomposição, sendo os ossos transportados posteriormente para a necrópole", explicou.
Esta descoberta surgiu no decorrer de uma investigação sobre a actividade da povoação na área da metalurgia do cobre em dois fossos e de um conjunto de fossas circulares. Segundo António Valera, aquelas fossos contêm abundantes vestígios de ossos de fauna e grande quantidade de fragmentos cerâmicos, de pesos de tear, instrumentos em pedra e restos de cobre resultantes de fundição. "Já a escavação das fossas circulares revelou algumas surpresas, sendo a mais significativa a identificação de enterramentos humanos", frisou.
"O povoado de 16 hectares, fundado há mais de cinco mil anos, apresenta particularidades que o tornam num dos importantes complexos pré-históricos deste género conhecidos na Europa, sendo constituído por vestígios de um santuário megalítico, incluindo menires, e um conjunto de recintos concêntricos definidos por grandes fossos escavados na terra e na rocha e um cemitério de sepulturas", explica António Valera.
Abertura ao público
A confirmação da grande importância histórica dos Perdigões deu-se em 1996, numa zona de plantação de vinha da Herdade do Esporão, que, "enquanto empresa que preserva o património, imediatamente se apercebeu da relevância deste achado, abandonando a plantação para investir em estudos e escavações", sustentou o presidente da administração da Finagra, José Roquette, que pretende agora "trazer à superfície o povoado e impulsionar visitas ao público para conhecimento do modo de vida dos nossos antepassados".
Está em curso o processo de classificação do complexo como monumento nacional. A ERA-Arqueologia, impulsionada por José Roquette, encetou há cinco anos um processo de candidatura, tendo-a apresentado ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico. Para Miguel Lago, um dos responsáveis desta investigação, "tudo aponta para que o complexo seja considerado monumento nacional e, se assim não for, no mínimo terá que ser considerado como imóvel de interesse público", justificou.