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[Archport] Estudo de moedas poderá dizer qual era a nau portuguesa naufragada na Namíbia

Subject :   [Archport] Estudo de moedas poderá dizer qual era a nau portuguesa naufragada na Namíbia
From :   "Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>
Date :   Sun, 19 Oct 2008 01:58:12 +0100

Estudo de moedas poderá dizer qual era a nau portuguesa naufragada na Namíbia

Público, 18.10.2008, José Bento Amaro

Entre os destroços escavados em Oranjemud foram encontrados ossos
humanos cujo ADN
vai ser analisado. Canhões, moedas, espadas, pratos e até chinelos
constam do tesouro


"Estamos à espera de que as moedas falem." A frase do arqueólogo
Francisco Alves significa que só depois de se saber a datação da mais
nova das moedas encontradas nos destroços da nau quinhentista
portuguesa naufragada próximo de Oranjemud, no Sul da Namíbia, se
poderá ter ideia de que navio se tratava, quem era a sua tripulação e
quais os objectivos da sua viagem.

Após um mês "sem ver o mar", apesar de estar separado dele apenas por
uma parede de areia com seis metros de altura, Francisco Alves,
arqueólogo do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (Igespar), deu ontem a conhecer em Lisboa alguns dos
passos que conduziram a um dos maiores achados arqueológicos
subaquáticos.
Com a certeza de que se trata de uma embarcação portuguesa (os
posteriores estudos dirão se é uma nau ou um galeão), este é apenas o
segundo navio português escavado por portugueses à escala mundial (o
primeiro caso foi o da nau Nossa Senhora dos Mártires, há uma década,
em S. Julião da Barra, no Tejo).

O valor do espólio rondará os 70 milhões de euros. Mas essa é apenas
uma estimativa pecuniária, que para os intervenientes portugueses na
escavação de Oranjemud e também para os secretários de Estado da
Cooperação e da Cultura não é a mais relevante. "Mais importante do
que poder reclamar parte do achado ou saber quem fica com ele é salvar
o património", disse a secretária de Estado da Cultura, Paula
Fernandes dos Santos.
Esta posição foi assumida pelo Governo português mesmo depois de saber
que a Namíbia, por não ter ratificado uma convenção internacional, não
será obrigada a devolver qualquer percentagem do espólio ao país a que
pertencia a embarcação.

A questão de uma eventual partilha dos bens escavados não é, no
entanto, um assunto encerrado. É que entre os destroços também foram
encontrados ossos humanos. Após testes para identificação do ADN e de
consultados os livros marítimos da época, é bem possível que se
identifiquem alguns dos tripulantes de então e os seus actuais
familiares. Estes poderão então tentar ficar com algo.

Esta é apenas uma suposição da comunidade científica, que, conforme
disse ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo, se viu recentemente
confrontada com um pedido do género (parte da descendência que reside
no Brasil), quando se especulou que os destroços da embarcação até
poderiam de uma nau comandada por Bartolomeu Dias.
Francisco Alves descartou por completo essa hipótese. É que no local
das escavações foram já encontradas moedas que só terão sido cunhadas
anos depois do naufrágio de Bartolomeu Dias, em Maio de 1500.

O que o arqueólogo português garante é que o navio agora
intervencionado fazia a Rota das Índias, para onde supostamente se
deslocava quando naufragou. Essa certeza é fundamentada com a carga
que entretanto tem sido recuperada. Lingotes de cobre (20 toneladas)
recuperados mostram a marca de um conhecido comerciante alemão da
época, a quem o reino português comprara o metal para depois levar
para a Índia. Também a consulta da literatura de cordel publicada em
Portugal no século XVII, rica sobre naufrágios, poderá ajudar a
perceber de que embarcação se trata.

O espólio da por enquanto misteriosa embarcação é ainda composto por
diversas peças pesadas de artilharia, por lingotes de estanho, peças e
moedas de prata e por cerca de 2300 moedas de ouro. Um terço destas
são cruzados portugueses, as restantes são espanholas.
As moedas portuguesas, explicou Francisco Alves, são bem mais
valiosas, uma vez que o ouro que as compõe tem um grau de pureza de
999,2 por mil. Estas moedas terão começado a circular em 1499, e a sua
cunhagem findou 49 anos depois.


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