[Archport] Custo de fotografias

[José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>]

   Tenho acompanhado com o maior interesse o debate, até porque a questão se pôs comigo mui recentemente em relação a uma Câmara do nosso País. Acabei por achar tão 'interessante' o tema, que escrevi sobre ele o texto que tomo a liberdade de transcrever, com as melhores saudações a todos os archportianos.

 

A CÂMARA MUNICIPAL E A FOTOGRAFIA

 

            [?] este final de manhã está, na verdade, uma delícia ? a anunciar, parece, os bons Outonos cascalenses preferidos pelos nossos monarcas de finais do séc. XIX?

            Há, porém, um pensamento que me espicaça e não me deixa saborear em pleno esta quietude e o alarido espaçado e roufenho das gaivotas: aquele ofício duma Câmara deste país, que acabei de receber! Pedem-me, pela fotografia de uma inscrição romana, a bela quantia de cento e dois euros e noventa e seis cêntimos (102,96 ?), de acordo com o regulamento em vigor nessa autarquia. O envio da foto solicitada, explicita-se no ofício, fica dependente do pagamento antecipado ? por cheque ou transferência bancária ? da importância em apreço.

            Eu bem tentara explicar ao senhor presidente que se destinava a ilustrar um estudo científico a publicar em Barcelona e que o Município teria, como contrapartida, exemplares no valor da foto e que, assim, mais uma vez, o património romano do concelho se divulgava além-fronteiras. O argumento não valeu. 102,96 ?, Amigo! E pagamento adiantado! Manda o regulamento.

            Pensei no teor da minha resposta: «Como facilmente compreenderá, atendendo a esse elevado custo, fica sem efeito o nosso interesse em divulgar graficamente o monumento numa publicação de cariz internacional».

            Mas fiquei altamente contente (que é preciso ver o lado bom das coisas!). É que, por conseguinte, tenho a certeza de que essa é a política desse Município em relação a todos os seus fornecedores: paga-lhes adiantadamente, só pode! Um exemplo a reter!

            Por outro lado, se a simples foto de um monumento epigráfico custa 102,96 ?, o que não pagarão a um professor universitário que se disponibilize a ir lá fazer uma conferência! E com pagamento adiantado!...

 

                                                                                  José d'Encarnação

 

Publicado no Jornal de Cascais, nº 139, 02-09-2008, p. 4.