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[Archport] A propósito do Património Subaquático

Subject :   [Archport] A propósito do Património Subaquático
From :   António Correia <avantecomuna@iol.pt>
Date :   Sun, 14 Dec 2008 20:20:08 +0000

A propósito do Património Subaquático recomendo ver o seguinte link do portal da UNESCO
http://portal.unesco.org/culture/es/files/34945/12138793063brochure_portuguese.pdf/brochure%2Bportuguese.pdf


Convenção da UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural
Subaquático (Paris 2001)

A Convenção da UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático, adotada pela Conferência Geral da UNESCO em 2 de Novembro de 2001 na sua trigésima primeira sessão (Convenção de 2001) é um importante tratado internacional cujo objetivo é proteger o patrimônio cultural subaquático. Ela entra em vigor para os Estados Partes três meses após a vigésima ratificação.

O Patrimônio Cultural Subaquático Naufrágios
O patrimônio cultural é um testemunho inestimável da cultura das civilizações passadas e da história da humanidade. O patrimônio subaquático, em especial, nos informa sobre modos de vida no mar, de trabalho, rotas comerciais e guerras. Um naufrágio, assim como uma ruína submersa é uma cápsula do tempo esperando para ser revelada. A pesquisa desses sítios arqueológicos contribui imensamente ao conhecimento histórico e social da humanidade. Estima-se que existam mais de três milhões de naufrágios ainda desconhecidos no fundo do oceano. Muitos navios famosos se perderam, sagas que inspiraram livros e filmes, incluindo a Armada de Felipe II da Espanha, o Titanic, a esquadra de Kublai Khan, os navios de Cristóvão Colombo e galeões espanhóis que singraram os mares entre as Américas e a Espanha.

Ruínas
Da mesma forma, inúmeros remanescentes de civilizações antigas se encontram atualmente no fundo do mar. Enquanto lendas contam histórias sobre a misteriosa Atlantis, uma verdadeira Pompéia foi encontrada na Baía de Alexandria junto às ruínas do famoso Farol de Alexandria (conhecido como uma das sete maravilhas do mundo), o palácio de Cleópatra e numerosos templos. A essas relíquias submersas somam-se inúmeras aldeias do período Neolítico, encontradas no fundo do Mar Negro, parte da «antiga Cartago; templos hindus de beleza deslumbrante complementando o sítio de Patrimônio Mundial em Mahabalipuram, na Índia, e a cidade de Porto Real, na Jamaica, submersa durante um terremoto em 1692.

Cavernas
O Patrimônio Cultural Subaquático inclui também sítios arqueológicos em cavernas que se encontram submersas ou inundadas. Esses sítios incluem:
· Cenotes no México (Chichén Itzá)
· Cavernas de arte rupestre do período Neolítico no Mar Negro

Paisagens
Algumas das mais bem preservadas paisagens pré-históricas do mundo sobreviveram no fundo do Mar do Norte. Datadas de aproximadamente 50.000 a 60.000 anos atrás, elas preservam vestígios de acampamentos de caçadores Neandertais. Estima-se que centenas ou mesmo milhares de quilômetros de paisagens pré-históricas posteriores à idade do gelo tenham sobrevivido desta forma.

Patrimônio em perigo
Naufrágios e ruínas subaquáticas se tornam cada vez mais acessíveis. Para se realizar escavações são necessários equipamentos profissionais e um elevado nível de formação, mas esses requerimentos não mais protegem os sítios dos caçadores de tesouros.

Maior Acessibilidade
• Em 1942-43, Jacques-Yves Cousteau e Emile Gagnan inventaram o aqualung, tornando possível o mergulho a maiores profundidades no mar. Assim, os vestígios de civilizações passadas tornaram-se mais acessíveis. • No início do século XXI, mergulhadores com circuito aberto são capazes de descer a uma profundidade de até 100 metros, e com circuito fechado a mais de 140 metros. • Em 1989, Shinkai 6.500, um submarino japonês de pesquisa, desceu a 6.527 metros abaixo do nível do mar em Sanriku, no Japão. Em 1995, a sonda japonesa não tripulada Kaiko desceu a 10.911 metros de profundidade.

Destruição, Pilhagem, e Exploração Comercial
Destruição
Um objeto imerso durante um longo período em água salgada e então recuperado do fundo do mar enfrenta o risco de rápida deterioração quando entra em contato com o ar. Esses objetos devem ser submetidos a dessalga e adequado tratamento de conservação para serem preservados. Em 1840, por exemplo, quando particulares recuperaram artefatos a partir do famoso naufrágio Mary Rose e os leiloaram, verificou-se que bolas de ferro de canhão pesando inicialmente 32 quilos tinha encolhido a apenas 19 quilos. A exposição ao ar durante um certo tempo causou oxidação. Além disso, o sal da água do mar cristalizou-se na secagem causando erosão da estrutura do metal. Este tipo de fenômeno também afeta cerâmica e madeira. Portanto, escavar sem a devida conservação pode facilmente transformar-se em vandalismo,
ainda que involuntário.

Pilhagem
Muitos sítios arqueológicos subaquáticos já tinham sido presas de depredação e roubo. Em 1974, estudos mostraram que todos os naufrágios até então conhecidos ao largo da costa da Turquia já tinham sido roubados. Em 1990, arqueólogos israelenses estimaram que quase 60 por cento dos bens culturais inicialmente submersos próximos à costa de Israel tinham sido recuperados e dispersos sem deixar traço em coleções públicas. Do mesmo modo, cientistas franceses estimam que, de todos os antigos naufrágios conhecidos em águas francesas,
apenas 5 por cento permanecem intactos.

Proteção Jurídica Insuficiente
Em muitos Estados, a falta de proteção jurídica implica na inexistência de instrumento que evite a exploração e apropriação de objetos a partir de sítios submarinos por caçadores de tesouros. Portugal ilustra bem tal situação. Entre 1993 e 1995, a legislação portuguesa permitia a venda de artefatos recuperados a partir de escavações arqueológicas subaquáticas. Pelo menos seis empresas internacionais de resgate de tesouro implementaram operações em Portugal a fim de explorar o rico patrimônio cultural subaquático ao longo de sua costa. Tal legislação foi congelada em 1995 e revogada em 1997, o que levou a um renascimento científico da arqueologia subaquática. Em 2006, Portugal ratificou a Convenção da UNESCO de 2001 para reforçar a proteção de seu patrimônio cultural subaquático e cooperar eficazmente com outros
Estados da região.


Estudos de Caso
Naufrágio do Titanic, Newfoundland,
Canadá
Este lendário navio de luxo que afundou em 1912 depois de se chocar com um iceberg foi procurado em vão ao longo de muitos anos. Apenas em 1985 o Titanic foi finalmente localizado. Apesar da comoção internacional para que os destroços permanecessem intactos e respeitados como um local de sepultamento e sítio arqueológico, uma primeira expedição começou a remover artefatos em 1987. Posteriormente, uma empresa privada recuperou mais de 1.800 artefatos do naufrágio. A maior parte destes artefatos está suscetível à venda e à dispersão. No entanto, Reino Unido, Canadá, França e Estados Unidos estão cooperando para proteger o naufrágio.

Naufrágio do Tek Sing, Mar da China Meridional
Em 1999, uma enorme quantidade de porcelana foi resgatada de um dos últimos juncos chineses, o Tek Sing. O navio, medindo 60 metros de comprimento e mais de 10 metros de largura, foi encontrado por uma empresa privada de resgate de tesouros que operava no Mar do Sul da China. Mais de 300.000 peças de porcelana foram recuperadas e leiloadas em Stuttgart, na Alemanha. A preciosa carga foi dispersa e o naufrágio destruído. O fato de o naufrágio ser testemunho de uma das maiores catástrofes da história da navegação marítima não foi levado em consideração pela empresa. O naufrágio levou com ele quase 1.500 pessoas para o fundo do mar - mais do que os que foram mortos quando o Titanic afundou.

Naufrágio do Elizabeth e Mary (Frota de Phips’s), Baie-Trinité, Canadá
O mais antigo naufrágio jamais encontrado em Quebec é o Elizabeth e Mary, descoberto em 1994 submerso apenas 3 metros sob as águas. Nele foi encontrada uma das mais refinadas coleções arqueológicas do século XVII. O serviço de arqueologia subaquática “Parks Canadá” procedeu à vistoria e à escavação do naufrágio durante três verões, trabalhando para protegêlo contra tempestades e caçadores de tesouros. Esta constante presença também permitiu a rápida recuperação dos artefatos que flutuaram para a superfície. Os restos do casco do navio foram retirados, registrados, desmontados e posteriormente submersos mais uma vez em um lago nas proximidades. Globalmente, o sítio produziu cerca de 400 peças.

Naufrágio Geldermalsen, Recife Almirante Stelingwerf,
Indonésia
Em 1986, um operador de resgate britânico descobriu as ruínas do Geldermalsen, um navio mercante neerlandês, que naufragou em 1751 com uma carga de chá, seda, ouro e porcelana. Um total de 126 barras de ouro e de 160.000 peças de porcelana foram recuperados - a maior carga de exportação de porcelana chinesa já encontrada. O Congresso Internacional de Museus Marítimos condenou a operação de resgate e a destruição do naufrágio, argumentando que essa importante descoberta arqueológica deveria ter sido escavada por uma equipe de cientistas. Apesar disso, a carga do Geldermalsen foi saqueada pelo valor comercial de suas peças, recebendo pouca consideração sua importância arqueológica, histórica e científica. O naufrágio foi destruído, e as peças de porcelana foram leiloadas em Amsterdan sob o nome de “A Carga de Nanquim".

Naufrágio do HMS Pandora, Queensland, Austrália
O Pandora, uma fragata enviada em busca dos famosos amotinados da Bounty, em 1790, é um dos mais impressionantes naufrágios situados no hemisfério sul. Ela afundou ao largo da costa da Austrália, em 1791. Logo após naufrágio, o navio foi coberto por uma camada de areia que o manteve protegido através dos anos, deixando-o praticamente intacto. Em 1983, a primeira das nove escavações começaram, lideradas pelo Museu de Queensland. As descobertas forneceram uma oportunidade única para compreender a cultura européia e a vida no mar no final do século XVIII. Arqueólogos subaquáticos trabalharam dentro de uma estrutura quadriculada de grelhas sobrepostas erguida sobre a areia em profundidades de 30 a 34 metros, concentrando-se em áreas onde os oficiais e tripulantes viveram e trabalharam. Os cientistas puderam coletar uma grande quantidade de informações sobre a vida quotidiana e costumes sociais a bordo. Além disso, as escavações também contribuíram grandemente para uma melhor compreensão do famoso motim na Bounty e da perseguição aos amotinados.

Naufrágio de Nuestra Señora de Atocha, Marquesas Keys, Flórida, Estados Unidos. Nuestra Señora de Atocha é um dos mais valiosos naufrágios já encontrados e, possivelmente, o que suscitou mais controvérsias. O Atocha fazia parte da frota espanhola que singrou as ondas entre Havana e Espanha no século XVII. Ele afundou em 1622 ao largo da costa da Flórida. Em 1970, uma empresa privada de resgate de tesouros dos Estados Unidos iniciou a procura do Atocha e sua carga. Tendo localizado e identificado o naufrágio, eles obtiveram licença do estado da Flórida para excavação dos destroços. Foram encontrados ouro e prata, bem como um grande número de mosquetes e pequenas armas, jarros de armazenamento e moedas. Arqueólogos subaquáticos têm criticado fortemente a escavação do Atocha e das técnicas brutas e destrutivas dos caçadores de tesouros.

Naufrágio da Idade de Bronze, Bodrum, Turquia
O espectacular Uluburun, que afundou ao largo da costa da Turquia durante a Idade de Bronze, é um dos mais antigos navios já encontrados. Ele se encontra atualmente no MuseuBodrum de Arqueologia subaquática, um pioneiro "museu vivo". A investigação científica dos destroços começou em 1982 e durou 11 anos, produzindo 20 toneladas de artefatos. Arqueólogos encontraram matéria orgânica, tais como frutas e nozes a bordo do navio, bem como cerâmica, ouro e jóias de prata, ferramentas de bronze e armas. O navio juntou-se então a outros objetos recuperados durante as escavações em uma famosa coleção subaquática que rendeu projeção internacional ao Museu Bodrum.
António Correia

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