ROBERT ÉTIENNE (18-01.1921 ? 04.01.2009) Cumpre-nos o doloroso dever de participar o falecimento, esta manhã, em Bordéus, do Prof. Robert Étienne. Em nome da Administração da archport (em que se integra a Doutora Conceição Lopes, também ela discípula de R. Étienne), apresentamos à família enlutada, mormente a sua esposa, ao filho, Roland, e demais familiares, assim como à sua colaboradora de sempre, Doutora Françoise Mayet, as mais sentidas condolências. E que me seja permitido escrever, ao correr da pena, o que, assim «a quente», se me afigura de maior importância em relação à sua memória, que muito prezamos. O nome de Robert Étienne fica indissociavelmente ligado a duas áreas do conhecimento no âmbito da História Antiga: a Epigrafia e a Arqueologia.
Depois de ter desenvolvido actividade arqueológica em Marrocos
(designadamente em Volubilis) e em
Espanha (Baelo), tendo criado o
Centre Pierre Paris, na Universidade de Bordéus III, (hoje Centre Ausonius), um
centro pioneiro na investigação da História Antiga da Península Ibérica, a sua
dissertação de doutoramento ? que preparou enquanto membro da Casa de Velázquez,
em Madrid ? constitui a primeira a síntese sobre o culto imperial: Le Culte Impérial dans No âmbito da actividade do Centre Pierre Paris se desenvolvem, nas décadas de 60 e 70; as campanhas luso-francesas de Conimbriga, primeiro com J. M. Bairrão Oleiro e, depois, com Jorge Alarcão. Dessas campanhas se publicaram ? e foi essa uma das primeiras publicações do género no mundo da investigação arqueológica ? 7 volumes, as Fouilles de Conimbriga, sempre sob sua orientação e do Prof. Jorge Alarcão, tendo sido mais actuante a sua intervenção no volume II ? Épigraphie et Sculpture (Paris, 1976), q preparou com. Georges Fabre et Pierre et Monique Lévêque (este volume, um marco na investigação epigráfica a nível mundial), e no último volume (1979), de conclusões. Depois de Conimbriga, o ?itinerário urbano? (veja-se Itineraria Hispanica. Recueil d?Articles. Textes réunis par F. Mayet. 2006), veio o itinerário rural, com as campanhas na villa romana de São Cucufate (Vidigueira), de que nos legou, com J. Alarcão e F. Mayet, dois volumes sobre os trabalhos aí realizados: Les Villae Romaines de São Cucufate (Portugal), Paris, 1990. E podemos dizer que também essa pesquisa sistemática de uma villa romana, que pela primeira vez se levava a efeito entre nós, constituiu um marco decisivo na investigação da ocupação do solo em tempo de Romanos na Lusitânia. O itinerário seguinte foi para o litoral, no estuário do Sado, o que o levou a escrever, além do volume sobre Tróia, três outros (sobre o vinho, o azeite e as ânforas), sempre em colaboração com F. Mayet e os demais membros da equipa. Entretanto, nunca esqueceu a sua Aquitânia natal e a colectânea de artigos En Passant par l?Aquitaine (Bordéus 1995) é disso elucidativo exemplo.
Se um traço primordial posso relevar na personalidade de R. Étienne é a
sua disponibilidade para ensinar e criar equipa. O Centre, com a sua rica
biblioteca, acolheu inúmeros estagiários vindos dos mais diversos países (muito
antes de se ter pensado sequer De realçar, ainda, o seu papel determinante no desenvolvimento dos estudos epigráficos na Península Ibérica, de que concebeu um plano sistemático de publicações em que se incluem, entre outros, o volume sobre as inscrições de Lugo (Paris, 1979) e a colecção Inscriptions Romaines de Catalogne (I ? 1984, V ? 2002), a que lançaram ombros G. Fabre, Marc Mayer e I. Rodà.
Noutra ocasião, com mais vagar, se traçaria do Mestre um perfil mais
adequado à sua personalidade e à sua obra. Perdoe-se-me se ficam, de momento,
estes breves apontamentos, escritos à medida que os pensamentos se atropelavam.
Não terminarei, porém, sem a referência a um outro volume onde se pode conhecer
muito do que Robert Étienne (que também foi doutorado honoris causa, recorde-se, pela
Universidade de Coimbra) levou a efeito na sua incansável actividade: Histoire et Archéologie de Que a sua alma descanse em paz ou ? como sói desejar-se a um ilustre epigrafista ? sit tibi terra levis, «que a terra te seja leve»!
José
d'Encarnação |
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