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Re: [Archport] Arqueologia Subaquática

To :   "Ernesto Raposo" <ernestoraposo627@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Arqueologia Subaquática
From :   "Joao Paulo Pereira" <Joaop@inag.pt>
Date :   Wed, 14 Jan 2009 12:04:20 -0000

A minha experiência relacional com o CNANS foi a de abertura máxima para que pudesse ter a informação necessária para que o património arqueológico subaquático fosse protegido de alguma obra mais ou menos estúpida.

Ou seja, a disponibilidae foi sempre máxima por parte do CNANS e da minha também para uma troca de informação, de metodologias e de força de mão-de-obra para que as coisas fossem feitas de malhor maneira possível.

Quanto ao secretismo e quintas, isso é outra história muito velha da arqueologia (e de outros campos de investigação) portuguesa e que merece, por certo outra, discussão.

-----Mensagem original-----
De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Ernesto Raposo
Enviada: quarta-feira, 14 de Janeiro de 2009 11:56
Para: odisseia
Cc: archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] Arqueologia Subaquática

Confesso que reflecti bastante sobre a oportunidade de participar neste fórum, mas sobretudo porque julgo algumas das opiniões expressas revelam alguma falta de conhecimento, pelo menos em relação à minha experiência, entendi deixar aqui uma opinião sobre alguns aspectos que considero mais relevantes para um debate que se quer aberto mas
esclarecido:
1 -  "O ministro Carrilho dotou o CNANS com meios, uma equipa óptima, barcos, um laboratório, uma lei fantástica, etc.Dez anos depois, o CNANS tinha-se tornado numa organização fechada, secretiva, mais interessada em controlar do que em gerir"... "Quase ninguém sabe o que se passa dentro dos muros do CNANS em Belém, quase ninguém percebe para que serve o CNANS, para onde vai o património recuperado, etc".
(Doutor Filipe Castro);
- Pelo que sei, até às recentes mudanças institucionais com a fusão do IPA com o IGESPAR o CNANS/DANS continuou a investir na sua infra-estrutura logística, sobretudo ao nível do laboratório que foi dotado com os meios necessários ao cumprimento da principal obrigação do Estado - a preservação do património cultural;
 - A totalidade do trabalho produzido pelos técnicos do CNANS/DANS está disponível ao público interessado: relatórios no site, processos nas suas instalações, por exemplo. Do mesmo modo, os mesmos técnicos participaram a participam em congressos e reuniões, científicas ou não, em Portugal ou no estrangeiro, e publicaram resultados sobre a as intervenções com resultados mais relevantes - a informação está disponível e por isso conclui-se que só não a conhece ou usa quem não quer...
- O CNANS/DANS organizou ou participou em várias exposições relacionadas com o património cultural subaquático (PCS), tal como cedeu espólios e outros materiais sempre que solicitado - foram aliás publicitadas no Archport, que tive oportunidade de visitar;
- O CNANS/ DANS sempre cedeu materiais para estudo, arqueológicos ou documentais;
- Mais uma vez pelo que sei, a nível da formação, sempre que solicitado, alunos de arqueologia ou outros interessados sobre o património foram integrados em estágios ou trabalho voluntário nos programas desenvolvidos na retaguarda ou no terreno; o CNANS promoveu ainda a realização de cursos de introdução à arqueologia subaquática essencialmente vocacionados para mergulhadores;


2 - "Naturalmente, como em todas as organizações apostadas em controlar pessoas e coisas, o mundo do CNANS foi diminuindo na medida das possibilidades do CNANS, e a fatia da realidade que foi ficando de fora foi crescendo".
E não é uma das obrigações do Estado gerir ou controlara coisas (o
PCS) e o que as pessoas fazem e como fazem sobre essas coisas? A gestão do PCS promovida pelo CNANS/DANS baseia-se em legislação (que precisa de revisão), embora a seu efectivo sucesso dependa da maior ou menor disponibilidade financeira - conclui-se por isso, considerando o que foi dito no ponto 1, que a "fatia da realidade que foi ficando de fora" resulta sobretudo da falta de financiamento;

3 - "O CNANS aos surgir em 1998, aquando da Expo98, surgiu com o propósito de gerir, administrar a práctica da arqueologia subaquática em território nacional (incluindo ilhas), e não com o propósito de a bloquear."...." Outra situação é a vertente empresarial da arqueologia subaquática - centenas de empresas de serviços de arqueologia terreste e quantas de arqueologia suabquática? Será que o nosso país não tem trabalho para empresas de arqueologia subaquática? Ou será, antes de mais, que as oportunidades de trabalho neste sector são abafadas por operações transversais de bloqueamento? Espero vivamente que uma nova geração possa trazer ar fresco a esta área do conhecimento. Resta-me a esperança dos actuais alunos da tão criticada pós-graduação em arqueologia subaquática. Resta-me a esperança de entendimentos. Tiago Lino)".

A que se refere? Estas são suspeitas graves que deviam ser expressas publicamente com base em dados ou pelo menos exemplos objectivos se queremos ter um debate sério. Deviam ainda ter em consideração as condições estruturais e conjunturais do país. O maior bloqueamento que vejo está na falta de interesse, formação ou experiência da comunidade arqueológica portuguesa, que resulta de dificuldades estruturais do país, que não permite o desenvolvimento de programas universitários adequados, não promove a mobilidade de estudantes nem a participação em estágios na Europa ou outros continentes. O pioneirismo das décadas de 1970/1980 já está longe. A disciplina desenvolveu-se, surgiram outros intervenientes, vivemos numa Europa sem fronteiras e por isso os parâmetros para exercer a profissão têm que ser cada vez mais exigentes, em termos de formação mas também de garantias técnicas e financeiras para a prossecução de projectos ou intervenções sobre PCS (veja-se a Convenção da Unesco). A quase inexistência de empresas ou investigação fora do CNANS/DANS resulta por isso de uma conjuntura difícil de ultrapassar porque deveria incluir a prévia aquisição de competências. Não creio, pelo que conheço da realidade nacional e internacional, que uma cadeira na FCSH, outra em Coimbra e uma pós-graduação como a de Tomar venham resolver o problema, mas todas as "inovações" que surjam são importantes. De qualquer modo, numa sociedade capitalista e neo-liberal como a nossa, ou as relações entre cidadãos ou entre estes e o Estado se baseiam na lei não vejo a possibilidade de "bloqueamentos" quando os processos são claros e legais. Pelo menos ao nível de uma Direcção de Serviços...

Com os melhores cumprimentos,
Ernesto Raposo

2009/1/14, odisseia <odisseiaventura@gmail.com>:
> Caros colegas,
>
>
>
> Devemos ser prudentes ao abordar a temática da arqueologia subaquática 
> em Portugal.
>
> A prudência, imparcialidade e conhecimento do assunto são algumas das 
> premissas que devemos tender ao expormos a nossa opinião publicamente.
>
> Em relação à arqueologia subaquática, apenas quero tecer uma pequena 
> opinião pessoal sobre o assunto.
>
> Seria saudável esclarecer todo este "novelo" que se adensa em torno do 
> Cnans, actual Dans, pois o problema tende a prolongar-se e a 
> agravar-se cada vez mais.
>
> È um facto que não possuo, junto com outros tantos, opinião favorável 
> em relação ao Cnans/ Dans e, para que esta tendência seja invertida, 
> seria interessante haver a oportunidade de juntar todos os 
> interessados num encontro/ mesa-redonda para que se esclarecessem 
> alguns tópicos importantes sobre as linhas de actuação desta entidade, 
> motivos de descontentamento e fossem ouvidas todas as partes.
>
> Haveria oportunidade para que fossem esclarecidos todos os problemas e 
> lançadas propostas construtivas de forma a criar um diálogo mais 
> estreito, favorecendo colaborações e promovendo sinergias.
>
> Sempre continuarei a pensar que o diálogo constitui a vertente mais 
> viável para resolver mal-entendidos.
>
> Todo este mal-estar na área da arqueologia subaquática constitui um 
> entrave para a via do diálogo e surge sob a forma de uma "semente", 
> que germina maus frutos, resultando em atitudes arrogantes ou extremistas.
>
> O Dans terá de rever a sua linha de actuação pois não pode, de facto, 
> negar que existe um círculo fechado dentro da área.
> O que antevejo acontecer (se é que já não aconteceu), será a formação 
> de um grupo de arqueólogos e investigadores aparte desta instituição, 
> cuja postura passa pela circulação de informação, partilha, entreajuda 
> e comunicação construtiva.
>
> Eu faço parte desse grupo, sem dúvida!
>
> Criar um encontro para debater esta problemática não seria mau de 
> todo, pois penso que se pode encontrar a via diálogo. Porque não pensar nisso?
>
> Fica aqui a proposta.
>
> Agradeço a atenção.
>
>
>
> Uma jovem interessada.
>
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