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Re: [Archport] Should Auschwitz be left to decay?

To :   archport@ci.uc.pt, Graca Cravinho <fcsilva@ptmat.fc.ul.pt>
Subject :   Re: [Archport] Should Auschwitz be left to decay?
From :   Sérgio Carneiro <sergiocarneiro@yahoo.com>
Date :   Tue, 27 Jan 2009 22:21:56 -0800 (PST)

Cara Graça,

   Por lapso ou excesso de zelo grafou progrom em vez de pogrom, ao invés do que faz o nosso PR que diz pograma em vez de programa. Seja qual for a norma ortogråfica (torna-se difícil nos dias que correm distingui-las) o termo parece-me anacrónico, embora frequentemente  utilizado para designar os acontecimentos de 1506, uma vez que surge apenas no sec. XIX, na Rússia (ainda que significando, também, massacres colectivos contra os judeus com a complacência das autoridades). Porquê usar o estrangeirismo pogrom quando as vítimas são judeus e massacre quando são de outra etnia?
   
   Quanto ao monumento do Largo de S. Domingos (vide imagem em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Homenagem_aos_Judeus_-_Massacre_de_Lisboa_de_1506.jpg), parece-me francamente hediondo. Não passa de mais um bibelot urbano com que os nossos edis vêm empecendo as cidades portuguesas em lugar de uma verdadeira arte pública. Trata-se de um gesto vazio, sem reminiscência, nem eco na memória colectiva, que apenas serve de operação de charme. Onde está o monumento em memória da escravatura, à custa de cujo comércio se construiu o império?

   De qualquer forma o caso de Auschwitz-Birkenau é bem diferente. O problema não é, evidentemente o número de mortos, nem sequer se limita a sua origem étnica (muito pouco se fala do genocídio dos ciganos, por exemplo, mortos nos mesmos campos, ou da eugenia dos deficientes) o problema é a banalização do mal, como brilhantemente expôs Hannah Arendt, a transformação de funcionários públicos em assassinos e torturadores sem que eles próprios de tal se dêem conta e isso está longe de ter acabado, como o provam Gaza, Abu-Ghraib, Guantanamo, Srebrenica, Ruanda, Tien-an-men etc.
   A catarse do holocausto feita pelo povo alemão foi em grande medida possível graças à manutenção de feridas abertas como os campos de concentração (o mesmo não se passou com o Führerbunker, selado desde 1945 e sujeito a várias tentativas de destruição pelo exército vermelho, pelo governo da RDA e mais recentemente pelo da Alemanha reunificada). Será que já estamos em condições de deixar que as feridas cicatrizem?

  Mas esta demonização tópica comporta um risco: ao fazermos a expiação do suposto mal absoluto, esquecemo-nos que ele continua a viver no meio de nós e a recrutar funcionários entre os mais insuspeitos Eichmanns que habitam a porta ao lado. Só o cultivo da mais incondicional democracia nos livra deste estigma.

Sérgio Carneiro



--- On Tue, 27/1/09, Graca Cravinho <fcsilva@ptmat.fc.ul.pt> wrote:

> From: Graca Cravinho <fcsilva@ptmat.fc.ul.pt>
> Subject: Re: [Archport] Should Auschwitz be left to decay?
> To: archport@ci.uc.pt
> Date: Tuesday, 27 January, 2009, 11:13 AM
> At 2:09 +0000 27/1/09, Rui Gomes Coelho wrote:
> > Que fizemos nós, sociedade, do Rossio e do Terreiro
> do Paço onde queimámos cristãos novos (ou outros não
> assim tão novos?)
> 
> Bem perto do Rossio, há um monumento a lembrar o progrom
> de 1506.
> 
> Graça_______________________________________________
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