Re: Re: [Archport] Salteadores destruíram o mais importante povoado da Idade do Bronze em Évora
Infelizmente não é só em Évora e TRás-os-Montes que os "salteadores da arca perdida" actuam. Conheço casos no Norte de Portugal, em Castros, onde a mesma prática é corrente ao fim-de-semana.
Numa visita a um desses sítios,deparei-me com um sujeito a escavar uma das habitações, questionei a sua presença ali e qual não é o meu espanto quando diz que pertencia ao núcleo arqueológico da referida cÂmara municipal...mal ele sabia que eu era arqueólogo. Esse fulano escavava indiscriminadamente, sem qualquer noção do que fazia, sendo buracos aqui e ali. Não pude fazer grande coisa, pois fazia-se acompanhar por um cão de raça "PitBull", certamente, ciente dos problemas que poderia vir a ter.
Abandonei o local e chamei a polícia, contudo não mais soube o que de facto aconteceu e se foram ao local.
É muito grave, ainda para mais num sítio pouco escavado... a perda de informção de forma definitiva em alguma das estruturas é uma realidade!!!
Enfim, esta é uma realidade que ultrapassa fronteiras. É de esperar que os "enormes" fundos para a cultura e património sejam devidamente distribuidos e não apenas para os monumentos mais visíveis, de forma para inglÊs ver... Há monumentos na sombra que precisam urgentemente de intervenção e salvaguarda...
Jorge Pinho
---------------------- MENSAGEM ORIGINAL ----------------------
Demitir? Com a crise que anda para aí?
E, depois de demitidos, ainda teriam, quiçá, que trabalhar...
2009/2/6 Joao Paulo Pereira Joaop@inag.pt
Depois diz-se que o património não está em perigo ...
Mas ninguém se demite?
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*De:* archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] *Em
nome de *Alexandre Monteiro
*Enviada:* sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009 8:30
*Para:* Archport
*Assunto:* [Archport] Salteadores destruíram o mais importante povoado da
Idade do Bronze em Évora
Afinal, é verdade: o país está mesmo a saque.
Alexandre
http://www.alexandre-monteiro.blogspot.com/
Salteadores destruíram o mais importante povoado da Idade do Bronze em
Évora
Público, 06.02.2009, Maria Antónia Zacarias
A pilhagem de objectos de ouro, prata ou bronze, para colocação no mercado
ilícito
de antiguidades, tem sido feita de forma sistemática com recurso a
detectores de metais
Um grave atentado contra o património arqueológico da Coroa do Frade, no
concelho de Évora, mais precisamente na freguesia de Nossa Senhora da
Tourega, foi o resultado de uma pilhagem metódica efectuada por
detectoristas, indivíduos munidos de detectores de metais. Estes infractores
têm, habitualmente, como único objectivo a recolha ilegal de artefactos em
ouro, prata, cobre, bronze ou ferro, para futura venda a mercados ilícitos
de antiguidades ou directamente aos coleccionadores privados.
De acordo com Maria Manuela Oliveira, directora do Departamento do Centro
Histórico, Património e Cultura da Câmara Municipal de Évora, neste sítio
arqueológico, o maior e mais importante povoado de Bronze Final,
fortificado, no concelho, foram contabilizadas centenas de "covas"
criminosas, muitas delas abertas até ao substrato geológico.
Segundo os técnicos que se depararam com esta situação, o arqueólogo Mário
de Carvalho e o historiador de património João Santos, "pelo carácter
destrutivo e sistemático das acções, poderá ter sido invalidada a realização
de futuros projectos de investigação que visem a escavação arqueológica e
estudo deste sítio arqueológico". Na opinião destes especialistas, o saque
condicionou de "forma irreversível e dramática" uma grande parte da
informação arqueológica, estratigráfica e paleoambiental.
Descoberto nos anos 50
Ocupado durante o final da Idade do Bronze e inícios da 1.ª Idade do Ferro
(do sec. X a.C. ao séc. VIII a.C.), o sítio foi descoberto nos finais dos
anos 50, mais concretamente em 1957, por José Ventura Fernandes.
Inicialmente identificado como sendo do período de transição entre o
Neolítico e o Calcolítico, foi, após as escavações, que se revelaram
bastante frutíferas, caracterizado como sendo final da Idade do Bronze e
inícios da Idade do Ferro. As pesquisas decorreram entre Agosto e Setembro
de 1971, e numa segunda fase em Abril de 1972, sob a direcção do arqueólogo
José Morais Arnaud, tendo os materiais provenientes dos trabalhos sido
depositados no Museu Regional de Évora.
De acordo com o arqueólogo Mário de Carvalho, o espólio recolhido até então
pode ser classificado como "típico" dentro do panorama histórico-cultural
regional dos períodos históricos referidos, sendo de salientar "as
decorações cerâmicas que variam entre losangos e linhas paralelas, uma
fíbula de dupla mola e um fragmento de um molde que se destinava à produção
de instrumentos em bronze e pedra lascada sobre quartzo".
Queixas à PJ e GNR
A responsável pelo Departamento do Centro Histórico afiançou que o sucedido
foi já comunicado à entidade competente, Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), que, por sua vez, apresentará
queixa à Polícia Judiciária e à Guarda Nacional Republicana. Entretanto, os
técnicos da autarquia eborense vão proceder à realização de novas sondagens
de diagnóstico, com o objectivo de determinar a verdadeira natureza e
extensão dos danos provocados, tendo, contudo, já "procedido a uma exaustiva
recolha do material arqueológico classificável que, pelo seu baixo valor
comercial, nomeadamente cerâmica e material lítico, foi abandonado pelos
transgressores no local".
A utilização de detectores de metais é um método ilegal, tanto no
território nacional como na maioria dos restantes países da União Europeia,
segundo a Lei nº 121/99, podendo a sua prática ser punida com pena de prisão
até três anos, ou com pena de multa até 360 dias, segundo o artigo 103.º da
Lei de Bases do Património.
Carta Arqueológica do concelho de Évora
A descoberta do saque do património arqueológico no sítio da Coroa do Frade
decorreu durante os trabalhos de prospecção, que se resumiam à recolha de
material fotográfico, tanto do sítio arqueológico, como da sua envolvente
paisagística, no âmbito da realização da Carta Arqueológica do concelho de
Évora que está a ser produzida.
De acordo com o arqueólogo e técnico da autarquia, Mário de Carvalho, uma
vez publicado este documento "será único e de referência, dentro do contexto
nacional, uma vez que se trata do concelho com maior numero de sítios
arqueológicos de grande interesse identificados, em todo o território
nacional".
"São cerca de 2200 os locais, até ao momento já identificados pelos
arqueólogos no concelho de Évora, sendo que muitos deles são inéditos, dos
mais variados tipos, cronologias e implantações", observa ainda o arqueólogo
Mário de Carvalho.
A publicação desta Carta Arqueológica do concelho de Évora, que segundo os
técnicos está agendada para ocorrer entre finais de 2009 e inícios de 2010,
"revelará um importante testemunho do património arqueológico identificado
neste concelho de Évora", sublinhou o mesmo responsável. M.A.Z.
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