NOVA CARTA ABERTA AO MINISTRO DA CULTURA (a propósito da transferência do MNA) Ex.mo Sr. Dr. José António Pinto Ribeiro S.E. o Ministro da Cultura Quando lhe escrevemos em Dezembro do ano passado estávamos preocupados. Em Fevereiro estamos desiludidos. É certo que em Janeiro, depois de algum eco na comunicação social dessa carta que lhe escrevemos, tivemos um telefonema a dizer que iríamos ser recebidos pelo seu Chefe de Gabinete. Como a audiência tinha sido solicitada em Abril, toda a documentação e as questões que queríamos discutir estavam bem preparadas. No próprio dia em que estava agendada a audiência, recebemos outro telefonema a desmarcá-la. Ainda aguardamos que nos seja comunicada uma nova data para a reunião. Não vamos, outra vez, colocar-lhe todas as perguntas que têm ficado sem resposta. Esquecendo por agora a reorganização do Ministério da Cultura (MC) no âmbito do PRACE ou a regulamentação da Lei de Bases do Património Cultural, escrevemos-lhe sobre uma das perguntas que iríamos colocar no dia 13 de Janeiro e cuja resposta conhecemos desde a sua audição no Parlamento no início de Fevereiro e desde a entrevista que deu ao jornal Público no dia seguinte: a transferência do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para o edifício da Cordoaria. Não somos, por princípio, contrários à ideia de transferência do MNA da sua actual localização. Mas, igualmente por princípio, estamos em profundo desacordo com a forma como esta ideia parece estar a ser concretizada. Ao arrepio de todas as opiniões tecnicamente fundamentadas, com a amarga sensação de uma das mais importantes instituições da arqueologia portuguesa estar a ser usada como moeda de troca nas negociações entre o MC e a Marinha a propósito da construção do novo Museu dos Coches. O MNA não é só o segundo museu mais visitado dos que se encontram sob sua tutela. O MNA são as suas colecções e todo o conhecimento sobre a ocupação humana do território hoje português que foi construído a partir delas. O MNA é também a sua biblioteca e arquivo, os seus laboratórios e as suas edições. O MNA é a casa onde diferentes gerações de profissionais aprenderam a ser arqueólogos, onde ainda muito mais se pode ficar a saber sobre como vivemos ao longo do tempo, através da investigação e estudos ainda por fazer. Falar da transferência do MNA devia ser falar sobre a grande oportunidade que este grande museu merece. Nunca o que nos parece ser um processo atamancado, politicamente decidido sem a necessária informação técnica, um remendo que se põe a tapar um buraco deixando a descoberto muitos outros. Já percebemos que o MC não quer ouvir a Associação Profissional de Arqueólogos (APA). Não podemos dizer que “está no seu direito”, porque ainda acreditamos que é dever dos governantes ouvir os cidadãos e as suas estruturas representativas. Mas, não querendo ouvir a APA, ouça ao menos o MNA e aqueles que lá trabalham. Visite as reservas, consulte a biblioteca, fale com os investigadores e estudantes que por lá encontrar, entre no laboratório de conservação e restauro, conheça o trabalho dos serviços educativos. Terá certamente muito a aprender e a ganhar. O mais importante, sem dúvida, será o respeito por uma instituição que merece ser valorizada e tratada com dignidade. 16 de Fevereiro 2009 |
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