[Archport] Acompanhamento visível
Caro Jorge Cruz.
A sua mensagem despertou-me particular atenção por duas razões. Em primeiro lugar porque trabalhei intensamento no passado com a ADIM e com o Professor Francisco Ramos, com cuja colaboração e de alguns seus assistentes, preparei, em minha casa, os documentos axiais que suportavama candidatura ao Programa Leader para o Alentejo Central, primeira fase, de má memória. E digo de má memória, porque não pudemos, depois, exercer o controlole e a vigilância, em fase de aplicação, sobre os pressuposos que lhe estavam subjacentes. E, embora, em minha opinião, tais pressupostos tenham estado na base da sua recepção e aprovação, as aves de rapina logo trataram de se apropriar de todos os mecanismos de distribuição dos despojos, em fase de aplicação. É por isso que estamos como estamos e ouvimos o Primeiro Ministro proclamar durante quatro anos que era preciso qualificar os portugueses, que se presumiam qualificados desde há cerca de quase quinze anos, com os biliões de contos aplicados à formação profissional. E é por isso que me continuo a dirigir preferencialmente aos jovens.
Depois, voltamos à tónica das obras sem acompanhamento arqueológico visível. O tópico do caos que se prenunciava com as intensivas e extensivas intervenções destrutivas sobre áreas recenseadas como nevrálgicas do ponto de vista arqueológico, começou a ser abordado consequentemente, se a memória não me falha, pelo Manel Calado, logo nos inícios da década de 1990. O Manuel Calado reside na minha memória como o companheiro de vivências dificilmente reproduzíveis numa intensa relação com o território eborense e os seus tópicos arqueológicos, perdidos dias a fio pela campina, de sol a a breu.
Ora, estamos a falar de um intervenção em território arquelogicamente nevrálgico, sem acompanhamento arqueológico visível, que é coisa, do meu ponto de vista, já trivial. Espero que a construtora Lena compense, pelo menos, essa alegada atrocidade com os tais 1% do valor da obra e que tal valor possa reforçar os orçamentos aplicáveis, não peço já à investigação arqueológica, mas, sobretudo, à promoção da cultura arqueológica.
Mas não posso deixar de lhe clocar uma questão. Da sua expressão podemos presumir que possa haver acompanhamento arqueológico invisível?
Tenho a certeza de que compreenderá a raiz e extensão da questão que lhe coloco.
Um abraço.
Manuel de Castro Nunes
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Manuel de Castro Nunes