[Archport] Faleceu Pierre Salama
Acabo de receber a informação do falecimento, em Paris, de
Pierre Salama; as exéquias fúnebres decorrerão na próxima terça-feira, 7, às
14 horas, para o Cemitério do Père-Lachaise.
Antes, porém, de dar a palavra a Michel Christol que comunicou a
notícia, permita-se-me que recorde a presença sempre bem disposta de Salama
nas reuniões científicas em que, desde há mais de três décadas, tive o
ensejo de com ele conviver. E lembro amiúde, para além do aspecto científico
de que falarei a seguir, de duas das facécias que contava. É que, na bolsa
de mão, fazia-se sempre acompanhar de dois objectos: um batom para o cieiro
e um apito.
Sobre o batom, dizia-nos como, da primeira vez que a mulher o
vira, ia fazendo uma cena de ciúmes, pois se parecia exactamente com os
batons usados pelas senhoras e foi-lhe difícil explicar que, na verdade,
sempre o usava, devido às mudanças de temperatura e de humidade a que, em
viagem, estava sujeito.
Quanto ao apito, garantia-nos que era a melhor arma: se se via
em situação complicada, designadamente na perspectiva de vir a ser atacado
ou assaltado, pegava no apito e. os presumíveis assaltantes, colhidos de
surpresa, pensando que se tratava de polícia que andava por perto, depressa
se afastavam.
Como adiante dirá M. Christol, uma das suas 'paixões' em
Epigrafia foram os miliários. E deve-se-lhe a hipótese - hoje, creio,
comummente aceite - de que o facto de, nos miliários, a partir do século
III, o nome dos imperadores vir em dativo, isso se devia à intenção de,
assim, se lhes prestar homenagem, dado que as vias eram - mais do que as
cidades - os lugares de passagem e, desta forma, a presença imperial era
mais evidente. Robert Étienne discordara veementemente, não aceitava ver
nesses miliários um vestígio do culto imperial, mas Pierre Salama manteve a
sua opinião.
Num dos seus escritos, abordou, se não erro (estou a citar de
cor), a parábola dos miliários criada por Santo Agostinho: tal como os
miliários indicavam o caminho certo, assim Cristo o indicava aos seus
seguidores. Não garanto a fidelidade total da citação; mas não posso deixar
de, no final deste singelo preito de homenagem a quem tanto se dedicou ao
estudo das vias e que, na sua vida, procurou seguir recto caminho, augurar
que tenha, agora, encontrado o caminho da verdadeira serenidade - onde não
seja necessário trazer consigo... nem apitos nem batons!...
José d'Encarnação
O depoimento de Michel Christol
Pierre Salama était un grand spécialiste de l'épigraphie et de
l'histoire de l'Afrique du nord romaine. Il avait publié de nombreuses
études d'épigraphie, de numismatique et d'histoire, dont un ouvrage ancien
et classique sur les voies romaines, un ouvrage plus récent sur les bornes
milliaires du territoire de Tipasa (en 2002, à l'initiative d'Attilio
Mastino) qui faisait suite à un livre publié en 1987 dans la collection de
l'École Française de Rome.
Récemment, avec l'aide de J.-P. Laporte, il avait publié (Paris,
De Boccard, 2005; propos liminaires d'A. Beschaouch; Introduction de S.
Lancel) un recueil de travaux sous le titre "Promenades d'Antiquités
africaines. Scripta varia", où l'on pouvait lire ses contributions majeures
depuis les articles de 1953 sur le limes de Maurétanie Césarienne et
retrouver tout des traces inestimables de son légendaire humour.
Il a consacré ses ultimes forces à l'étude des milliaires des
provinces d'Afrique du Nord. Il avait été longtemps un fidèle des congrès
sur l'Afrique du Nord, ceux du Comité des Travaux Historiques, ceux de la
SEMPAM, ceux organisés à l'initiative d'Attilio Mastino en Sardaigne et
ailleurs.