Seminário?
A divulgação deste assunto não pode deixar de me suscitar algumas correcções e comentários:
Em primeiro lugar, o assunto é divulgado de forma ambígua, seja, é apresentado em título como seminário, para depois se denominar de curso, o que, consultando os documentos de apresentação, se verifica corresponder, relativamente, à realidade. O curso tem a duração de vinte e seis dias e custa 504,00 Euros. Não se estabelece qualquer restrição, expressa, à frequência de não residentes em Espanha.
O curso é ministrado pelo Instituto Superior de Arte, escola de formação profissional associada a alguns poderosos operadores no mercado de arte espanhol. Não conhecemos detalhadamente o estatuto do I|Arte, mas sabemos que recorre programadamente a programas comunitários de apoio à formação profissional, FSE. De resto, os módulos distribuem-se entre inspectores das brigadas do património histórico da polícia espanhola, uma académica, um director de uma grande leiloeira e outro de um centro de documentação e restauro que serve sobretudo os grandes operadores de mercado.
A associação comparativa entre este curso e as iniciativas citadas que decorreram em Portugal, como o Seminário Internacional (…) de Março de 2004, é incompreensível, tanto pela natureza institucional dos participantes e promotores, como pelo facto de, neste caso, se tratar de uma iniciativa de intenções claras e genuínas, com participação aberta e grátis. No caso espanhol citado, trata-se de uma iniciativa empresarial, comercial, em que parece estar envolvida, de resto, a promoção de marketing de alguns operadores do mercado. Que não deixa de ser legítima, desde que coloquemos cada coisa no seu pé e lugar.
É óbvio que é de louvar que os operadores de mercado se comecem a preocupar com várias questões que começam a exigir uma maior atenção e lhes dizem respeito. O problema é quando a reflexão e o discurso predominante sobre elas passar a ser administrado por eles e de sua iniciativa. Então vão surgir as matérias todas misturadas, de cambulhada, a protecção do património e a prevenção dos furtos ao empurrão com a matéria das falsificações e outras.
Está por definir, com rigor, o que é o mercado negro, se tivermos que reportar a entidades e circunstâncias concretas e objectivas a denominação. A questão, só por si, exige uma reflexão exaustiva que não pode confundir-se com as disputas de estatutos dimanadas do seio do próprio mercado.
Também não posso deixar de chamar a atenção para o esforço que os grandes operadores de mercado continuam a fazer para contrariar uma tendência que lhes é adversa e continuarem a controlar, de acordo com os seus critérios, os procedimentos de documentação e análise que suportam a genuinidade ou denunciam o falso, réplica, ou cópia, conforme os casos.
Mas seria de louvar que algumas iniciativas que decorreram em Portugal, em regime de colaboração entre instituições tutelares de vária natureza se multiplicassem.
Manuel de Castro Nunes
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