[Archport] Pois não se alimente o jornalismo de baixa qualidade

[Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>]

Em referência à oportuna intervenção do Professor José d'Encarnação e o comentário de Hans Daenhardt que lhe serve de mote, não querendo maçar o archportianos, vou contar brevemente um episódio.

Em Outubro de 1989, a redacção do Semanário propôs-me que realizasse um trabalho de reportagem sobre a actividade de um ano de exercício da Presidência da Comissão Nacional das Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, sob a égide de Vasco Graça Moura. Fiz a reportagem centrada em questões estruturais de orientação, quem tiver interesse pode consultá-la em qualquer hemeroteca. Passe a publicidade.

Porque o que interessa agora é outro assunto. Quinze dias depois da edição da reportagem, tive que desligar o telefone da minha residência. Todos os dias recebia chamadas de compositores, cineastas, investigadores, que me queriam expor as suas razões, porque os seus projectos de trabalho haviam sido preteridos pelos respectivos juris, relativamente a outros, em suas opiniões muito menos qualificados. Devo confessar que, na minha palermice, ainda compareci a dois ou tres encontros. Subitamente depositavam nas minhas mãos partituras, guiões de realização cinematográfica, esboços de trabalhos de investigação nas mais diversificadas áreas. E eu nem ser ler uma partitura, reconheço as claves e a posição das notas numa pauta, pouco mais.

Um jornalista não se pode substituir a um juri. E sobre aquilo que não sabe deve informar-se junto de quem sabe. E aceitar sem transliterações a sua informação.

Mas os investigadores não devem fornecer informações aos jornalistas sem garantir que a sua transmissão será fiel. Todos já caimos nessa armadilha. Insisto em que se torna necessário referenciar quais os jornalistas mais habilitados a reportar matéria arqueológica com isenção. E  penso que os há.

É cada vez mais necessário um jornalismo de qualidade. Mas também, talvez, inibir um pouco a precipitação da divulgação mediática. Não sendo assim, a culpa terá que ser partilhada pelo jornalista e pelo arqueólogo. Mea culpa.

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Manuel de Castro Nunes