Re: [Archport] Cepo de âncora de Armação de Pera
Os achados de cepos de âncora - da Antiguidade, não necessariamente da
época romana - estão relativamente bem documentados em Portugal.
Refira-se, a título de exemplo:
ALVES, F. J . S., REINER, F., ALMEIDA. M. J., VERÍSSIMO, L. (1988-89)
- "Os cepos de âncora em chumbo descobertos em águas portuguesa -
contribuição para uma reflexão sobre a navegação ao longo da costa
atlântica da Península ibérica na Antiguidade" in O Arqueólogo
Português. Lisboa. Série IV, 6/7, p. 109-185
já algo datado, bem como o inventário exaustivo dos cepos de âncora
encontrados na costa portuguesa, elaborado por Gonçalo de Carvalho e
em depósito no ex-CNANS.
Conforme bem diz o Professor Mantas, a sua perenidade e pervivência
formal ao longo dos séculos torna os cepos de âncora pouco apetecíveis
para efeitos de datação. Embora tenham sido elaboradas algumas
tentativas de tipificação e seriação, de que são exemplo:
GIANFROTTA, P.A., (1980) Ancorae romanae. Nuovi materiali per lo
studio dei traffici marittime. in Memoirs of the American Academy in
Rome, 36
KAPITAN G. (1984) "Ancient Anchors - technology and classification".
in International journal of nautical archaeology and underwater
exploration, vol. 13, no1, pp. 33-44 (1 p.). Londres: Academic Press
PALLARES F., (1971) "Tipologia y cronologia preliminar de las anclas
antiguas". in: Actes du IIIe Congres international d'archeologie sour
marine, 1961
o facto é que, sem que sejam descobertos em contexto de naufrágio,
datado, estes cepos de âncora continuarão a ser apenas um artefacto
que, quando muito, nos indica que um navio um dia passou por ali, tal
como, hodiernamente, a presença de um embelezador de jante abandonado
na berma de uma estrada pouco nos diz sobre que carro o perdeu e
quando (relembro que nenhum destes cepos foi encontrado em contexto de
perda de navio, o que não é de admirar já que, desde Cadiz até
Guernsey, não se encontrou até agora qualquer vestígio indubitável de
um naufrágio da Antiguidade nesta nossa fachada Atlântica).
Resumindo: sem que hajam outros elementos conexos, que possam datar o
cepo; sem que haja núcleo em madeira que o possa datar por
radiocarbono (como aconteceu com o cepo 03 da Berlenga, como também
bem lembra o Professor Mantas) ou sem que haja grafito/marca de
proprietário (como a encontrada no cepo neopúnico do naufrágio da
Chrétienne M2 e identificada como sendo a de Abdamnon, armador do
navio); parece-me muito difícil que se chegue assim a uma data tão
precisa.
Mas, enfim, há que descontar sempre o voluntarismo da comunicação
social e aguardar serenamente pela publicação dos resultados.
2009/6/9 vasco mantas <vgmantas@yahoo.com>
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> Caros Archportianos
> Mais um cepo de ancora antiga na nossa costa, para contrariar as teses da fraqueza das actividades marítimas no Atlântico.
> A notícia suscita-me, porém, uma interrogação: como se fez a datação (séc. IV a.C.) do cepo? Navios romanos no Atlântico por essa altura parece-me francamente difícil...e certo que há referências literárias a navegação etrusca, em conlito com os púnicos, mas nvios romanos não creio.
> O problema é que a tecnologia das âncoras é idêntica, como provou, para as nossas águas, o enorme cepo da Berlenga, recuperado e bem publicado há uma vintena de anos. Quanto à dimensão dos navios, já dizia Estrabão qe s maiores que portavam a Puteoli iam da Turdetânia.
> Se houver dados que confirmem o século IV a.C., arrisco num navio púnico.
> Cordialmente
> Vasdco Gil Mantas
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