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Re: [Archport] Sobre o conteúdo de uma petição online.

To :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Sobre o conteúdo de uma petição online.
From :   joão pereira <trainzeiro@gmail.com>
Date :   Tue, 14 Jul 2009 15:18:40 +0100

Porventura, a falta de estruturação e avaliação dos curricula terá por base uma ideologia liberal em que o mercado dará conta do recado, amachucando mais e menos quem se atreve a fazer algo por si próprio, à custa de amor próprio e à custa do amor pela arqueologia.
 
E naturalmente que, deixando o barco à deriva, as marés e as correntes julgadas sem ideologia, porque um dia resolveram matar de vez as ideologias, mais cedo ou mais tarde a força motriz das águas do tempos empurrarão tudo e todos contra as rochas do infortúnio de quem abraçou, abraça e quer abraçar um conhecimento baseado nas escavações que toda a gente gosta de fazer.

2009/7/14 Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>

Sobre o conteúdo de uma petição online.

 

 

Subitamente este fórum foi agitado pela divulgação de uma petição que foi suscitando múltiplas reacções, de adesão, de rejeição, de desfocagem do conteúdo atribuindo relevância à forma.

E, afinal, sem questionar o mérito da iniciativa, mesmo tendo em conta a forma e a incógnita autoria, reconheço que a petição teve o mérito de acordar toda a gente para o que todos já sabiam. Aparentemente.

De facto, que alucinatória psicose colectiva nos impedia de antever este desfecho há cerca de vinte anos? Que alucinatória psicose colectiva nos impediu de ver que as universidades andavam a formar professores exponencialmente, quando todas as estatísticas apontavam para a quebra demográfica da população escolar? Importa relevar que os problemas que os arqueólogos enfrentam são similares aos que os professores enfrentam, os historiadores, os museólogos, até já os engenheiros, os economistas e os gestores.

Durante vinte anos, exponenciaram-se as licenciaturas, os cursos de formação profissional, fundaram-se universidades, institutos politécnicos…

Cada um por si, sem um avaliação estrutural, sem um plano estrutural de formação nos mais diversos níveis, sem avaliação e projecção das necessidades do mercado de trabalho.

O problema surgiu agora? Não. Nós só o quisemos ver agora.

Mas só uma exaustiva avaliação do passado pode informar uma rigorosa avaliação no presente e uma eficaz projecção no futuro.

Eu tenho tentado abordar esta questão de forma estruturada em vários locais. Ele não se pode circunscrever a meras avaliações de tendências do mercado de trabalho. Envolve e é envolvido estruturalmente por várias outras questões.

O que é um arqueólogo e qual o alcance possível da sua inserção profissional?

Qual deve ser o currículo da formação de um arqueólogo, qual o alcance da sua transdisciplinaridade, para que não fique captivo do cada vez mais exíguo horizonte de escavações em expectativa?

A realização de formações, académicas ou culturais, tem por exclusivo móbil a inserção profissional?

Não basta propor que se reduzam as licenciaturas e outras formações em arqueologia. Tal proposta devia já estar fundamentada em avaliações e projecções em profundidade.

Desde há vinte anos que tais avaliações deviam ter sido constantes. Não teriam porventura surgido tantas empresas de arqueologia.

È caso para dizer que falhou a supervisão. Cada universidade ou entidade de formação, no âmbito da sua autonomia, agiu por si, de acordo com alucinatórios programas de expansão e crescimento.

Mas a questão assim colocada ainda continua incompleta. Há muitas outras a ponderar.

Importa todavia partir do princípio que somos nós também quem pode produzir e transformar a realidade. Por isso, a mais importante das questões continua a ser a de como se podem ainda corrigir os desvarios do passado, sem ter que desistir da arqueologia, que tanto continua a ser necessária.

Temos que lhe abrir os horizontes e transformá-la porventura noutra coisa. Que não é nem foi, mas pode vir a ser. É mais nesta reflexão que concentro.

Quanto ao resto, deixo um apelo aos jovens arqueólogos um apelo, aos presentes e aos futuros:

Está nas vossas mãos o futuro da arqueologia. Talvez não valha a pena desistir dela. Importa que estejais conscientes dos problemas que vai enfrentar se não começais a transformá-la noutra coisa. É sobre isso que me interessa intervir.

 

Um abraço a todos.

 

Manuel de Castro Nunes.



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Manuel de Castro Nunes

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