[Archport] Núcleo Museológico da Bemposta

[José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>]

Núcleo Museológico da Bemposta

 

            Inaugurou-se, ontem, dia 15, ao fim da tarde, o Núcleo Museológico da Bemposta (Penamacor).

            Numa iniciativa conjunta do Município de Penamacor, da Junta de Freguesia local e da Fábrica da Igreja da Bemposta, a capela de S. Sebastião recebeu peças arqueológicas que, pelo seu valor histórico, mereciam ser condignamente expostas.

            Assim, para além de um significativo conjunto de estelas discóides simbolicamente decoradas, datáveis dos primórdios da Idade Média; de um sugestivo ?marco? paralelepipédico que apresenta, em baixo-relevo, numa das faces a cabeça de um touro e, noutra, um crescente e uma cruz patada; e de dois fragmentos de pilastras decoradas com motivos cristãos também em baixo-relevo (nomeadamente cabeças de anjos) - aí vamos encontrar o espólio epigráfico romano achado no termo de freguesia: as duas aras dedicadas a Bandis Isibraia (AE 1967, 133 e 134); a inscrição (funerária ou votiva) que refere Virius Alluqui filius (AE 1982, 475); e a ara possivelmente dedicada à divindade indígena Quangeius, por Carpas (?), filho de Tôngio (AE 1982, 476).

            Recorde-se que foi o achamento, pela primeira vez, de duas aras dedicadas à divindade Banda (independentemente de ser esta ou outra a sua designação em nominativo), no mesmo local e ostentando o mesmo epíteto que levou D. Fernando de Almeida a propor, no já longínquo 1965, um carácter tópico para os vários epítetos por que esta divindade é conhecida. E o dativo Isibraiegui que María de Lourdes Albertos descobriu numa das aras (a terminação está na face lateral do monumento) constituiu, por seu turno, um dos primeiros exemplos do que, nos estudos linguísticos, viria a designar-se por «dativo pré-céltico».

            Também atendendo a esse facto e à importância destas epígrafes votivas, precedeu a inauguração uma palestra a que dei o título «Cumprir a promessa», a integrar esses ex-votos na atitude habitual do Homem perante os ?seres superiores?, desde a Pré-História aos nossos dias.

 

                                                                                  José d?Encarnação